O terceiro álbum de Carly Rae Jepsen é inundado por momentos cativantes fortemente inspirados pela maravilhosa década de 80.
O “E•MO•TION” é o terceiro álbum de estúdio da Carly Rae Jepsen – lançado três anos depois do sucesso de “Call Me Maybe”. Ele possui uma qualidade indiscutível e praticamente evoca os anos 80 com suas ondas de sintetizadores. Suas letras são simples e diretas – com temas universais para qualquer um se identificar. Dessa vez, ela se afastou um pouco do bubblegum pop e embarcou através de um synth-pop mais maduro e sofisticado – por trás da produção temos nomes interessantes como Dev Hynes e Rostam Batmanglij. Sonoramente, “E•MO•TION” contém melodias arrebatadoras e, embora não seja inovador, é um conjunto de grandes canções. Ele abre com “Run Away with Me”, uma das melhores canções de 2015, que poderia ter se tornado um hino do verão. Um brilhante dance-pop que abre imediatamente com um explosivo saxofone. Sua eufórica produção ficou a cargo de Shellback e Mattman & Robin, que foram buscar inspiração na década de 80 para sua criação. Ela realmente tem uma tendência oitentista, além de uma vibe retrô e nostalgia maravilhosa que lembra “Teenage Dream”, da Katy Perry. Em contraste com as letras grudentas de “Call Me Maybe”, “Run Away with Me” tem um lirismo que transita para um som mais adulto.
“Querido, me leve até aquela sensação / Vou ser sua pecadora em segredo / Quando as luzes se apagarem, fuja comigo”, ela canta no adorável refrão. Mais tarde, ela sussurra sedutoramente: “No fim de semana, podemos transformar o mundo em ouro”. Assim como “Teenage Dream”, “Run Away with Me” tem todas as peças de uma canção pop perfeita. Jepsen conhece seus limites vocais e dado o seu alcance, entrega uma melodia inegavelmente cativante. Desde a produção memorável ao enlouquecedor riff de sax, tudo é entrelaçado através de uma oferta sólida e de qualidade. Para a faixa-título, ela e sua equipe resolveram apostar em um contagiante riff de guitarra elétrica. Embora funciona no contexto do álbum, traz uma produção electropop que lembra o “Kiss” (2012). Tanto a estrutura quanto a progressão são semelhantes e açucaradas. Lançada como primeiro single, “I Really Like You” é um dance-pop / synth-pop que incorpora elementos de new wave. Uma canção de amor inofensiva com letras extremamente repetitivas, onde ela fala a palavra “really” cerca de 60 vezes ao longo de 3 minutos e meio. Sua atmosfera eufórica ajuda a vender a sensação de estar apaixonada e admitir abertamente seus sentimentos.
Ela serve como um retrocesso para os velhos tempos do bubblegum pop. Embora pareça uma música que tenta recriar o sucesso de “Call Me Maybe”, o refrão não possui o senso melódico e as cordas sincopadas da mesma. Sua letra é mais voltada para os pré-adolescentes apaixonados, embora a produção tenha um ar de qualidade. Apesar do bom hook, “Gimme Love” é uma canção simples com ritmo quase robótico. Uma balada açucarada onde Jepsen implora por amor ao longo de um solitário riff de guitarra. Sonoramente, é uma mudança bem-vinda e há um pouco de influência de deep house. Talvez a canção mais surpreendente do álbum seja “All That”, uma verdadeira e sincera homenagem aos anos 80 – uma canção tão deliciosamente pegajosa que é difícil acreditar que não seja uma balada da Cindy Lauper ou do Prince. Embora não tenha qualquer complexidade estrutural, tem êxito e exala algo genuíno. É encantadora e inesperada, mesmo sendo uma balada tradicional dentro de um disco pop predominantemente inspirado pelos anos 80. O refrão soa estranhamente sedutor e eficaz. Enquanto o conteúdo lírico cria um clima sombrio e desolador, o baixo, a lenta progressão e o maravilhoso sintetizador constroem algo realmente espetacular.
Co-escrita pela Sia, “Boy Problems” é um tanto quanto inspirada por La Roux. Embora não seja necessariamente ruim, não é boa o suficiente para se destacar. Liricamente, soa tímida e um pouco infantil: “Acho que terminei com meu namorado hoje / E eu realmente não me importo / Eu tenho problemas piores”. Sua melodia é cativante e a vibração despreocupada, mas os sintetizadores beiram o irritante. Também co-escrita pela Sia, a cintilante “Making the Most of the Night” é uma história maravilhosamente sombria. Jepsen realmente sabe quais são seus pontos fortes; é uma canção eletronicamente impulsionada com um tom surpreendentemente sombrio. Os versos são entregues com determinação enquanto o refrão é inesperadamente extravagante. Não é tão poderosa quanto “Run Away with Me”, mas também tem a frenética energia do synth-pop dos anos 80. De fato, é dominada pela percussão e tem um charme próprio. “Your Type”, por sua vez, é um synth-pop também influenciado pela música dos anos 80: uma balada onde Jepsen expressa seu interesse em um relacionamento, apesar de crer que não faz o tipo de determinada pessoa. Aqui, ela explora o conceito de um amor obsessivo não correspondido.
“Desculpe, eu te amo / Sinto sua falta, estou sendo sincera, tentei não sentir / Mas não consigo te tirar da minha cabeça”, ela declara. As letras são relacionáveis para qualquer um, pois é basicamente sobre alguém que ama uma pessoa que a vê apenas como amigo(a). É um electropop apaixonante com refrão feliz, embora liricamente melancólico. Apesar de não ter um dos vocais mais fortes da indústria, Jepsen soa incrivelmente envolvente. O pré-refrão, o refrão, as batidas estridentes e os sintetizadores de estratificação, são simplesmente incríveis. O bubblegum pop é predominantemente destaque em “Let’s Get Lost” – o tipo de música que fica se repetindo em sua cabeça por horas. O começo é um pouco sombrio, mas, depois de um tempo, se torna alegre e transforma-se em algo completamente diferente. O saxofone jogado durante a ponte é encantador, e mostra uma pequena e salpicada influência de jazz. Em seguida, há uma atrevida mudança de ritmo quando “LA Hallucinations” aparece. É uma canção dance-punk sobre a perda de um amor por conta da fama: “Nós dissemos que sempre seríamos os mesmos, mas nós nos perdemos no jogo”.
Com leves batidas inclinadas para o hip hop, Jepsen tenta mostrar como a fama muda as pessoas. “Warm Blood” é incrivelmente profunda, alucinante e obscura – quase ao ponto de ser psicodélica. Uma canção eletrônica com pulsantes linhas de baixo e brilhantes sintetizadores influenciados pela música underground. Os graves profundos e a performance vocal distorcida mostram o quanto ela pode ser versátil. Liricamente, é uma confissão honesta onde ela desencadeia uma montanha-russa de emoções. “When I Needed You” é outra peça gratificante com letras agridoces e vibe oitentista. Como qualquer outra faixa do álbum, é habilmente construída e muito bem produzida. Emparelhada principalmente pela percussão e pelos sintetizadores, exibe um tema de independência inesperadamente confiante. “E•MO•TION” é um álbum realmente incrível, insanamente polido e de grande qualidade. Ele mostra que a música pop pode ser impecavelmente trabalhada sem parecer fabricada. Depois de chegar ao auge em 2012, Carly Rae Jepsen pareceu determinada em criar um pacote coeso. O trabalho árduo e sua reinvenção são perceptíveis. Quando ouvimos esse álbum somos imediatamente transportados para a década de 80. Nada parece ultrapassado, desatualizado ou forçado. “E•MO•TION” superou minhas expectativas.