Apesar dos inúmeros escritores e produtores, Justin Bieber nos deu o melhor álbum de sua carreira.
Já se passaram quatro anos e várias controvérsias envolvendo o Justin Bieber, desde que ele liberou o seu terceiro álbum de estúdio. Na época, “Believe” (2012) foi um trabalho relativamente maduro para uma estrela recém-adolescente como ele. No entanto, desde então, seu nome ficou manchado por inúmeras histórias envolvendo o seu comportamento imprudente. Seja por ameaçar paparazzi, cuspir em suas fãs, dirigir com excesso de velocidade, enfim, suas ações não passaram despercebidas e destruíram sua reputação. Mas quando Bieber ressurgiu em 2015 com “Where Are Ü Now”, as pessoas ficaram chocadas. Foi surpreendente vê-lo na indústria com uma música de qualidade. Um tempo longe dos holofotes acabou fazendo um favor para sua imagem. A partir do momento que esse single foi lançado, o público voltou a ter interesse por seu trabalho e ficou ansioso para o lançamento do seu quarto álbum de estúdio. “Purpose” foi precedido pelo lançamento de “What Do You Mean?”, canção que lhe deu o seu primeiro single número #1 na Billboard Hot 100. Neste álbum, Bieber está reflexivo e cheio de remorso. A qualidade do som fez as pessoas o aceitarem de forma mais aberta do que nunca.
Sonoramente, é um álbum de dance-pop e R&B que dá um passo a frente na direção certa. “Mark My Words” é uma das três faixas que Bieber confirmou ser sobre sua ex-namorada Selena Gomez. Apesar de curta, é uma balada incrivelmente honesta que define o tom temático do LP. Enquanto a maior parte do álbum é sobre amor, “I’ll Show You” é um lamento sobre viver a vida no centro das atenções. Embora seja esquisito ouvir o Justin Bieber – um milionário – falar sobre como a vida é difícil, suas palavras são comoventes e restauram o senso de humanidade em torno dele. As letras podem não ser tão honestas, mas a produção é excelente. Graças às batidas e sintetizadores atmosféricos encomendados por Skrillex, ela não passa despercebida. A citada “What Do You Mean?” é um número pop com fortes influências de tropical house. Sua produção contém flautas, cordas de piano, sintetizadores e linhas de baixo. Uma música que segue os passos de “Where Are Ü Now” por conta da entrega vocal louvável e produção de inspiração tropical. Impulsionada pela batida de um relógio tiquetaqueando no fundo, as letras mostram ele se esforçando para descobrir exatamente o motivo que fez sua ex terminar o namoro.
Abrindo com riffs adoráveis e melodias otimistas, Bieber pergunta: “O que você quer dizer? / Quando acena com a cabeça sim, mas querendo dizer não”. “What Do You Mean?” também é vagamente reminiscente da onipresente “Cheerleader”, do OMI. Outro ponto interessante é a flauta e o sintetizador que evocam instantaneamente um som tropical e injetam vibrações ensolaradas. “Sorry” é um dancehall e tropical house com batidas de moombahton que compartilha da mesma vibe de “What Do You Mean?”. Liricamente, é um apelo para uma chance de pedir desculpas a uma ex-namorada não identificada. É quase embaraçoso dizer isso, mas Justin Bieber está mostrando ser capaz de esculpir um som interessante. “Sorry” é introduzida apenas por sua voz sussurrante e pelas batidas de tambor sem cortes. Mais tarde, ele canta: “É muito tarde para pedir desculpas agora? / Pois estou com saudades de você e não só do seu corpo”. Nas partes que ele confessa estar arrependido, sua entrega chega a ser emotiva. O refrão, por outro lado, é curto e simples, mas não deixa de ser incrivelmente viciante. Sem dúvida, uma das maiores surpresas do álbum é “Love Yourself”, canção co-escrita por Ed Sheeran e produzida por Benny Blanco.
É uma adorável canção pop acústica conduzida por um belo riff de guitarra – mesmo sendo escassa em sua espinha dorsal. As letras são cheias de brincadeiras onde Bieber está em seu pico mais lírico. Ele fala sobre um relacionamento fracassado e tenta dizer a si mesmo que determinada garota não é boa para ele. “Minha mãe não gosta de você, e ela gosta de todo mundo”, ele canta no pré-refrão. Essa linha é tão hilária quanto sarcástica. Sheeran também contribui com vocais, fazendo a segunda voz durante o pré-refrão e refrão. “Company” exemplifica a maturidade recém-descoberta pelo Justin Bieber. Nesse ponto, ele muda as engrenagens eletrônicas do álbum a fim de explorar o R&B. Batidas percussivas inspiradas nos anos 80, sintetizadores lisos e sólidos tambores ditam o ritmo. Liricamente, ele tenta convencer uma garota a ter uma conexão não comprometedora. “No Pressure” é uma joia de R&B que realmente nos leva para uma montanha russa emocional. Sua grudenta melodia se sobressai na maior parte do tempo, enquanto a instrumentação consiste em rígidas batidas, guitarras acústicas e abanadores percussivos. Liricamente, Bieber tenta reconquistar uma pessoa que ele está esperando pacientemente para tê-la de volta.
É uma slow jam descontraída onde ele elegantemente atinge notas mais altas. Embora apareça no momento certo, Big Sean soa preguiçoso, incluindo sua menção sem sentido à Yoko Ono. “No Sense” tem uma vibe atraente, mas não chega a ser um destaque. Semelhante à faixa anterior, é uma peça mais lenta e ritmicamente sexy. Além de contar com um verso adicional do Travi$ Scott, é o mais próximo do hip hop que o Bieber chega. Sua batida pesada e os recursos distorcidos são seus maiores atrativos. Aqui, Bieber vai para falsetes com facilidade e descreve o que não faz sentido para ele dentro de uma relação. Scott, por outro lado, fornece um rap auto-sintonizado que passa ligeiramente despercebido. Produzida por Skrillex, “The Feeling” possui participação da iniciante Halsey. Ela é a primeira voz feminina do álbum e provoca uma colaboração interessante. Embora discreta, “The Feeling” é instantaneamente cativante – uma música com refrão esmagador. Halsey emprestou sua doce voz para o refrão que, igualmente fiel ao título, evoca grandes cargas de sentimentos. Toda a expectativa sobre a música é suprida durante as batidas do refrão, formado por percussão acústica, bateria eletrônica, sintetizadores e floreios eletrônicos.
“Life Is Worth Living”, uma balada com apenas voz e piano, aborda profundamente sua jornada pessoal. Embora deslocada, essa música, sem quaisquer batidas eletrônicas, permite mostrar mais do seu alcance vocal. “Where Are Ü Now”, single que o fez voltar aos holofotes, ainda soa bastante fresca. É uma canção brilhante com instrumental absolutamente magistral – um banger EDM surpreendentemente bom. Ela é tonificada com tudo que conhecemos do Skrillex, que manteve o dom para a dinâmica, com as principais tendências do Diplo – que combinou seu dancehall afiado com melodias gloriosas. O duo criou uma peça assombrosa, que é tão refrescante quanto cativante. Durante sua execução você fica totalmente sintonizado graças a maravilhosa batida de sabor exótico. “Onde está você agora que eu preciso de você?”, Bieber pergunta emocionalmente antes da batida cair. Eu não estava esperando outra canção EDM, mas fiquei agradavelmente surpreendido com “Children”; uma canção techno que fala sobre as lutas da nossa geração. Bieber ama seus fãs, muitos dos quais ainda são crianças.
Portanto, “Children” é uma ode à geração do milênio que pode fazer a diferença: “Olhe para todas as crianças que podemos mudar”. A grande mensagem é definida por melodias melancólicas e inesperadas batidas de eurodisco – a borbulhante batida definitivamente rouba a cena. A faixa-título encerra a versão padrão adequadamente – vocais simplistas e um solitário piano a conduzem. Uma balada downtempo dramática com uma mensagem convincente em sua borda. Bieber se perdeu, mas através de Deus encontrou o seu propósito. No final da música ele faz um discurso que resume toda a narrativa do álbum. Em 2015, ele provou que sua reinvenção musical poderia ser um sucesso. Desde que deixou de ter uma personalidade mimada e passou por uma campanha publicitária eficaz, ele conseguiu fazer as pessoas se interessarem novamente por sua música. Com “Purpose”, ele nos dá um pouco de introspecção e fé. Embora não seja excelente ou impressionante por qualquer meio, é certamente o seu melhor álbum até à data. Foi muito inteligente de sua parte se aventurar pela música eletrônica; um maior controle de sua carreira permitiu-lhe crescer como artista.