“25” não atende necessariamente o hype do “21”, mas cumpre seu objetivo – Adele é, sem dúvida, a maior vocalista de sua geração.
Adele surgiu na cena musical em 2008 com o lançamento do disco “19” (2008), que lhe rendeu 2 Grammy Awards. Em seguida, ela foi rapidamente catapultada para o topo das paradas com o “21” (2011). O álbum obteve vendas estrondosas, rendeu mais 7 Grammys e hits gigantescos para ela, como “Rolling in the Deep” e “Someone Like You”. Na sequência, Adele ganhou um Oscar por “Skyfall”, casou-se e virou mãe. Com título baseado nos reflexos de sua vida quando tinha 25 anos, “25” marca o seu retorno após anos longe da indústria. Em novembro de 2015, todos os olhos e ouvidos estavam a sua espera – o lançamento do “25” foi um dos maiores eventos do ano. Após ter vendido 30 milhões de cópias com o “21” (2011), em uma época onde as pessoas não possuem mais o hábito de comprar discos físicos, não é surpresa que seu retorno foi tão aguardado. Em sua primeira semana, “25” vendeu nada menos que 3,3 milhões de cópias nos Estados Unidos. São as maiores vendas semanais desde que a Nielsen SoundScan começou a contabilizar vendas de álbuns em 1991. Esse recorde estava intacto há 15 anos e pertencia anteriormente ao “No Strings Attached” (2000) do *NSYNC, que vendeu 2,4 milhões de cópias em sua semana de estreia.
Trabalhar no sucessor do “21” (2011) não seria uma tarefa fácil, afinal ele já pode ser considerado um clássico moderno. Mas para uma artista tão talentosa e mundialmente reconhecida, com uma das vozes mais sublimes da indústria, isso poderia ser plenamente possível. Vocalmente, Adele está tão forte quanto no “21” (2011) e traz novamente um repertório com 11 faixas. O conteúdo é mais alegre e otimista, embora ainda possua a melancolia genuína que só ela expressa tão bem. Liricamente, “25” carrega uma riqueza emocional enquanto lida com temas como saudade, nostalgia, maternidade, passagem do tempo e arrependimentos. Musicalmente, é um registro pop, soul e R&B com forte uso de piano, órgão, percussão, guitarra e sintetizador. Para sua produção, Adele optou por trabalhar novamente com Paul Epworth e Ryan Tedder, além de colaborar com Max Martin, Greg Kurstin, Danger Mouse e Shellback pela primeira vez. Mais um vez, ela conseguiu criar um material pensativo, confessional e incrivelmente honesto. Ela amadureceu nos últimos anos e afastou-se da amargura e tristeza presente nos discos anteriores.
O primeiro single, “Hello”, já se tornou uma de suas canções de maior sucesso – Greg Kurstin foi o responsável pelo som despojado. Ele permitiu que a voz da Adele tomasse o centro do palco durante o ambiente de uma poderosa balada de piano. Uma canção soul impetuosa e emotiva com um conteúdo lírico que documenta uma dor real. Ela se concentra na saudade, conforme fala sobre como alguém se recusa a conversar depois de ter sido emocionalmente ferido – explorando os erros que cometemos e o reflexo de tudo isso. Além disso, as letras parecem falar sobre como um relacionamento do passado ainda assombra e machuca o presente. Isto é notado no primeiro verso: “Eu estava imaginando se após todos esses anos / Você gostaria que nos encontrássemos / Para superarmos tudo”. Rapidamente, sua voz soa familiar e acolhedora. “Hello” começa com o piano à medida que os melancólicos vocais ditam o ritmo. Conforme progride, sua sinceridade se torna mais aparente, ao passo que ela canta sobre a falta de cura e a vontade de reparar os erros do passado. A instrumentação permanece simples na maior parte do tempo e permite que os vocais transmitem toda a emoção das letras.
Mas, posteriormente, a produção faz uso adicional de cordas e tambores no refrão. A melodia dos versos é memorável por si só, mas é o poderoso refrão que toma enormes proporções. “Olá do outro lado / Devo ter ligado umas mil vezes, para lhe dizer que sinto muito / Por tudo o que fiz / Mas quando eu ligo você parece nunca estar em casa”, ela canta, enquanto encapuza toda a vulnerabilidade das letras através de sua voz. Pode-se dizer que Adele se manteve na zona de conforto, mas é algo tão grandioso que quando a música termina, fica claro que ela novamente acertou em cheio. “Send My Love (To Your New Lover)” é de longe a canção mais alegre e atrevida do seu catálogo. Não é de se admirar, se você levar em conta que foi produzida pelo hitmaker Max Martin. É um pop e R&B com adoráveis riffs de guitarra acústica e batidas mais contagiantes que o habitual. Sua produção descontraída sufoca o melhor de sua voz, mas traz uma variedade sonora bem-vinda. Uma mudança de ritmo louvável e o momento mais otimista do repertório. Liricamente, é uma canção pós-rompimento sobre a aceitação do fim de um relacionamento e a escolha de seguir em frente. “Estou desistindo de você / Estou perdoando tudo / Você me libertou”, ela canta sob o suporte exclusivo de palmas e linhas de guitarra.
Em seguida, Adele sintoniza o ouvinte em sua estética familiar com a dramática “I Miss You”; uma canção cheia de desejo e devoção produzida por Paul Epworth. Seus tambores são proeminentes e possuem o apoio de guitarras e órgãos. Aqui, ela cria um espaço cinematográfico para expressar seus sentimentos. O refrão não é tão doce melodicamente, mas lida com a intimidade de um casal de forma intrigante. De fato, deveria ter um acompanhamento melhor, porque permanece a mesma coisa durante muito tempo, com exceção de um solo de piano perto do final. “Você se parece com um filme / Você soa como uma canção / Meu Deus, isto me lembra, de quando éramos jovens”, ela canta em “When We Were Young”. É uma balada de soul arrebatadora onde Adele relembra memórias do passado que teve com alguém muito querido. Uma das coisas que o “25” faz tão bem é olhar para o passado. Ao escutar “When We Were Young”, você praticamente é transportado para uma nostálgica viagem emocional. É uma serenata reflexiva sobre valorizar os bons momentos que vivemos no passado. Adele ecoa tematicamente tudo o que ela já apresentou para o público: honestidade, nostalgia e autenticidade. Lindamente, ela expressa seu pesar sobre a natureza fugaz da juventude e o medo de envelhecer.
Apesar de ser menos confiante que “Hello”, a beleza de “When We Were Young” encontra-se principalmente na sutileza e reflexão de suas letras. As letras são pungentes e a demonstração perfeita da tristeza de um relacionamento que ficou para trás. Em “When We Were Young”, pode-se dizer que Adele está no auge da sua maturidade e elegância. Vocalmente, ela surpreende mais uma vez – surgindo diretamente das profundezas do seu alcance vocal para, em questão de segundos, chegar a alturas estratosféricas. Na superfície, “When We Were Young” é uma típica balada da Adele, mas interpretada com uma paixão ainda maior. É profundamente soulful e traz uma pitada de drama e melancolia. O refrão é lindamente crescente, encantador e encharcado por nostalgia. Sua introdução é construída apenas com um escasso piano que lentamente é sincronizado com uma percussão mais forte. Posteriormente, o desempenho vocal é reforçado pelo apoio de uma leve guitarra que, felizmente, não apaga a tristeza do piano. Com o auxílio de Ryan Tedder, Adele escreveu “Remedy”; ela a descreveu como a canção que deu o ponto de partida para a gravação do “25”.
Essa balada é provavelmente a coisa mais próxima do “21” (2011) que podemos encontrar aqui. Nas mãos de qualquer outra cantora, seria um tanto quanto brega. Felizmente, ela a transformou em uma potência graças ao seu desempenho vocal. “Remedy” é uma simples e despojada balada de piano aparentemente inspirada pelo seu filho. Nas letras ela diz que nenhum obstáculo será tão grande a ponto de deixá-la longe dele – tocante e surpreendentemente real. Apoiada por um comovente piano e valsas relaxantes, ela mostra sua devoção por ele: “Quando a noite o impedir de dormir / Basta olhar e você vai ver / Que eu vou ser o seu remédio”. Além de “Hello”, Greg Kurstin produziu a fascinante disco-pop “Water Under the Bridge” – uma balada com aspecto de um verdadeiro hino! Ela possui um refrão arrebatador, melodia espetacular, vibrações oitentistas e produção que rouba os holofotes. Em sua superfície, temos uma guitarra elétrica, palmas, coral gospel e excelentes tambores. A cativante guitarra tem uma participação triunfal e enriquecedora. Ela faz a canção se sentir mais contemporânea em comparação com as baladas de piano.
“Se você for me deitar, deite-me gentilmente / Não finja que não me quer / Nosso amor não são águas passadas”, ela canta no melodramático refrão. O lirismo é sobre um caso de amor que permanece na incerteza e fora de controle. “Todo mundo me diz que já está na hora de seguir em frente”, ela canta quase acapela na introdução de “River Lea”. Co-escrita por Brian Burton e produzida por Danger Mouse, é uma homenagem para o rio Lea localizado em sua cidade natal, Tottenham. A comparação com o rio serve de metáfora para criar um cenário onde ela fala sobre suas raízes e infância. O acompanhamento gospel é interessante, ao passo que o refrão e os vocais são entrelaçados por palmas e órgãos. A repetição de “river lea” é monótona e a parte menos excitante da música. Fora isto, o trabalho vocal e a produção conseguem se sobressair mais um vez. “Love in the Dark” é sobre uma separação onde ela pede ao ex-namorado para ficar longe – uma canção de desgosto sobre um relacionamento que não tem mais salvação. Sonoramente, ela volta para um território onde apenas o piano faz o principal serviço. Naturalmente, ela canta sob delicadas cordas que amplificam o impacto emocional das letras.
O refrão é íntimo e as cordas de violino bastante sombrias. A entrada para o refrão, quando os vocais de apoio aparecem, e o solo de cordas na ponte, também são atraentes. Em “Million Years Ago”, a encontramos em seu estado mais vulnerável. Outra balada escassa, desta vez sobre um violão flamenco, onde ela canta com pesar sobre tudo que perdeu com o passar dos anos. É uma belíssima balada de inspiração folk que mostra a incrível expressão de sua voz. Nos versos, ela lembra dos bons momentos que teve com a família e os amigos. Ela captura a realidade através da melodia agridoce, olhando para o futuro, mas ansiando por mais um dia do passado. É tudo sobre ser triste e lembrar do que deixou para trás. É liricamente coesa, uma vez que é nostálgica e representa a aceitação dolorosa do passado. A simplicidade do dedilhado do violão destaca a sua dor, enquanto dá um sabor exótico para a composição. É um dos poucos momentos do álbum onde ela opta por colocar outro instrumento a frente do piano. A extraordinária “All I Ask” é outra triste balada de piano extremamente emocional – co-escrita por Bruno Mars e produzida por sua equipe The Smeezingtons. Ela fala sobre a procura por uma última noite com o namorado, antes de cada um seguir caminhos diferentes.
“Se esta é minha última noite com você / Me abrace como se fôssemos mais do que amigos”, ela implora. Seu acompanhamento de piano é provavelmente o melhor do álbum. É nada menos do que perfeito. “Sweetest Devotion”, também produzida por Paul Epworth, encerra o álbum com uma nota positiva. É uma canção sobre um amor recém-descoberto que ela escreveu para o seu filho. A segunda metade do “25” é um pouco mais obscura e triste, mas essa faixa mostra uma luz no fim do túnel. Por ser o encerramento, ela foca completamente em seu filho – cuja voz pode ser ouvida na abertura. Musicalmente, “Sweetest Devotion” possui elementos de country, um refrão tingido de gospel e doces guitarras. O sucesso do “21” (2011) foi sem precedentes, mas “25” é tão forte e significativo quanto. É preciso ser uma grande artista para acompanhar o impacto comercial e cultural de um álbum como o “21” (2011). “25” possui seus momentos melodramáticos, mas isso acontece com menos frequência que no disco anterior. Suas canções são mais estruturadas e refinadas, assim como também melhores produzidas. Você pode critica-la por não correr qualquer risco, mas ela ganhou o direito de ignorar certas tendências e explorar a música que se sente mais confortável.