Com 82 minutos, o álbum passa por várias fases musicais e temáticas, mas a atmosfera geral é cansativa e desbotada.
Drake fez sua grande estreia em 2009 com o hit “Best I Ever Had”. Naquele ano, ele se apresentou como um rapper que também cantava, algo que Lauryn Hill e Missy Elliott já fizeram antes. Além de suas músicas, Drake também era singular em sua confiança e personalidade. Desde o sucesso do seu primeiro álbum, ele tornou-se um dos rappers mais populares do mainstream. Conforme os anos foram passando, ele crescia cada vez mais como artista – começando pela melancolia requintada do “Take Care” (2011) e a beleza rara do “Nothing Was the Same” (2013). A consistência do rap, a intensidade do canto e a versatilidade das músicas, o levaram ao estrelato. Seus álbuns costumam ser íntimos e precisos, devido, em grande parte, às produções lideradas por Noah “40” Shebib. Sua trajetória atingiu um pico em 2015 com o lançamento da excelente mixtape “If You’re Reading This It’s Too Late” (2015) e do single “Hotline Bling”. Seu quarto álbum de estúdio, “Views”, foi premeditado para ser grande desde quando recebeu o título de “Views from the 6”. Em questão de comprimento, é realmente grande, uma vez que possui 20 faixas e 81 minutos de duração. Na faixa de abertura, “Keep the Family Close”, Drake canta sobre a lealdade de familiares e amigos. Ele aborda os problemas de confiança que teve nos últimos anos com pessoas que diziam ser seus amigos.
Seu drama é construído lentamente sob a produção do relativamente desconhecido Maneesh Bidaye. “Claro que você foi e escolheu um lado que não era o meu”, ele canta. A produção é diferente de qualquer coisa que ele já criou antes. Sons de ventania e vozes femininas fornecem a introdução, antes de cordas orquestrais e poderosos tambores aparecerem. Sua mixagem e masterização são realmente incríveis. “9” é basicamente uma homenagem à Toronto, sua cidade natal. Ele admite sua paixão pela cidade, afirmando que, se necessário, morreria por ela. Mais tarde, ele diz: “Eu virei o seis de cabeça para baixo, agora é um nove” – essa linha se refere à marca de número seis que ele apresentou como título inicial do álbum. Os tambores dão uma vibração mais atmosférica para a música, ao passo que ela explora seu espaço através de cativantes sintetizadores. Em “U with Me?”, co-produzida por Kanye West, Drake questiona a lealdade de sua namorada. Conforme a música progride, ele começa a se perguntar se ela realmente o ama. Seu fluxo é enfático e pensativo, mas segue de forma constante sobre a produção influenciada pelo R&B. A maravilhosa “Feel No Ways” possui um ritmo bastante incomum – há mais canto do que rap. “E agora você está tentando fazer eu me sentir de certa maneira, de propósito”, ele canta relembrando de um relacionamento do passado.
Produzida por Jordan Ullman, um dos responsáveis por “Hold On, We’re Going Home”, ela possui batidas de tambor, chimbais, teclados cintilantes, sintetizadores atmosféricos e amostras de “World’s Famous” (Malcom McLaren). Sob densas batidas de Boi-1da e Nineteen85, Drake está agressivo no banger “Hype” – uma inevitável diss track para o Meek Mill. “Views já é um clássico”, Drake ostenta. “Você não deve falar de mim, período / Você tenta dar-lhes o seu lado da história”. Em termos de fluxo e letra, “Hype” é semelhante a faixas como “Back to Back” e “Summer Sixteen”. “Weston Road Flows” é sobre onde Drake cresceu em Toronto. Aqui, ele relembra de sua infância e reflete sobre suas origens sob o sample de “Mary’s Joint”, da Mary J. Blige. Uma vez que foi produzida por Noah “40” Shebib, é presumivelmente uma das mais envolventes do álbum. Sempre que Drake e 40 vão para o estúdio, algo grande costuma acontecer. Ele se mostra confortável e disserta sem grandes esforços sob a amostra contínua de “Mary’s Joint”. “O rapper mais bem-sucedido com 35 ou menos”, ele se gaba. Também produzida por 40, “Redemption” é um esforço de R&B mais introspectivo e honesto com mistura de rap e canto. É uma faixa construída lentamente onde o encontramos expressando suas emoções sobre outro relacionamento do passado.
No último verso, Drake chega a mencionar o nome de algumas ex-namoradas. Assim como a faixa anterior, “With You” relembra de um relacionamento do passado. PARTYNEXTDOOR o auxilia de forma cativante, mas enquanto Jeremih também é utilizado como recurso, ele não recebe créditos no título da música. Sua atmosfera noturna – criada em cima de sintetizadores, tambores, palmas e estalar de dedos, foi produzida por Nineteen85 e Murda Beatz. Em seguida, “Faithful” abre com uma ligeira amostra vocal de Amber Rose antes de apresentar versos do falecido Pimp C – o duo dvsn, formado por Daniel Daley e Nineteen8, também aparece. “A caminho do estúdio, então tire as roupas / Vamos fazer as coisas que dizemos por mensagem”, Drake diz no segundo verso. Mais uma vez, ele rima de forma milenar sobre uma determinada mulher. “Faithful” mistura a dinâmica dos artistas com uma produção de R&B reminiscente da década de 90. “Still Here” é um número estático onde Drake recita continuamente; a batida poderia facilmente fazer parte da mixtape “What a Time to Be Alive” (2015) – mas, dessa vez, seu tom está áspero e pisa sobre batidas de trap. “Controlla” tem tudo para se tornar outro hit, caso seja lançada como single. Onze pessoas possuem créditos na escrita, mas a produção é extremamente decente.
É um dancehall arejado que nos remete às batidas de “Hotline Bling”. Drake canta com um sotaque convincente enquanto faz uso do sample de “Tear Off Mi Garment”, do jamaicano Beenie Man. O smash hit “One Dance”, com vocais do nigeriano Wizkid e da britânica Kyla, aparece em seguida. Ela foi produzida por Nineteen85 e DJ Maphorisa, e possui amostras de “Do You Mind?” (Crazy Cousinz Remix) da Kyla – uma forte candidata para posto de melhor música do “Views”. “One Dance” possui fortes vibrações de dancehall e atraentes amostras vocais. Da mesma forma, contém batidas caribenhas semelhantes à “Work”, sua colaboração com a Rihanna. Apesar da melodia ser um pouco diferente do habitual, seu tom emocional nos remete ao “Thank Me Late” (2010). A fusão de afrobeat, encomendada por Wizkid, com o dancehall, torna-se um pouco repetitiva ao longo de sua duração. Entretanto, dificilmente você encontra alguma falha nessa canção. Ela começa com um instrumental cativante com forte apoio do piano. Em seguida, é substituído por batidas de tambor e múrmuros do Drake – a batida de afrobeat é incrivelmente contagiante. O retrabalho das amostras vocais da Kyla em “Do You Mind?”, por sua vez, são incríveis e se encaixam perfeitamente à música.
Em “Grammys”, Drake rima de forma dura ao lado do seu parceiro Future. A excelente batida, fornecida por Southside, Cardo e 40, foi utilizada anteriormente por eles na mixtape “What a Time to Be Alive” (2015). É uma das poucas faixas onde ele não fala sobre alguma mulher. Drake já ganhou um Grammy Award, mas Future se quer foi indicado em alguma categoria da premiação. Nessa música, eles demonstram confiança e deixam bem claro que não é necessário ganhar algum prêmio para serem bem sucedidos no hip hop. “Childs Play” é puro entretenimento e marcha através do baixo e da percussão. Produzida por 40 e Metro Boomin, ela mostra Drake em seu estado mais sincero. “Por que você tem que brigar comigo no Cheesecake? / Você sabe que eu gosto de ir lá”, ele diz. Drake expressa alguns pensamentos errados sobre as mulheres, mas a batida, o canto e o rap são tentadores. “Pop Style”, com Jay-Z e Kanye West (creditados como The Throne), foi lançada como single no mesmo dia que “One Dance”. Embora seja a primeira vez que os três aparecem juntos na mesma música, a versão do álbum conta apenas com versos do Drake. Felizmente, a intenção em omitir os vocais de Jay-Z e Kanye West não foi uma tentativa de transformar isso em uma diss track ou shade.
“Pop Style” é forte e decente, mas não é tão diferente de qualquer coisa que ele já lançou antes. E, para ser honesto, a versão solo não ficou tão diferente do single, pois a contribuição do The Throne é bastante limitada. Liricamente, ele se gaba mais uma vez do seu sucesso: “Saímos da escola e agora somos ridiculamente ricos”. O instrumental é uma das poucas coisas que se destacam, pois é surpreendentemente obscuro e ameaçador. A batida é narcótica, contundente e, igualmente ao sintetizador e baixo estridente, é provavelmente a mais escura do “Views”. “Eu sou bom demais para você / Você é negligente com meu amor”, Drake e Rihanna cantam em “Too Good”. Essa canção possui a batida mais adorável do álbum. Não é tão sexy quanto “Work”, mas, por outro lado, é hipnótica e parece uma continuação de “Take Care”. “Too Good” canaliza um dancehall leve e encantador, e mostra novamente a impressionante química dos dois. Os vocais contém uma suavidade provocante enquanto Drake se arrisca no espanhol. “Summers Over Interlude” possui menos de 2 minutos de duração, mas é uma das melhores coisas do álbum: um sedutor, dramático e glamoroso interlúdio protagonizado por Majid Al Maskati, do duo Majid Jordan. Além de servir como interlúdio, possui riffs de guitarra elétrica e belíssimos vocais.
“Fire & Desire”, por sua vez, é uma canção de R&B que coloca uma mulher no foco principal. “Você é uma mulher de verdade e eu gosto disso / Eu não quero brigar”, Drake canta sob as batidas melódicas e os sintetizadores espessos. A produção contém sample de “I Dedicate (Part III)” da Brandy, mas não deixa de ser uma faixa filler. Isso não é surpreendente, uma vez que trata-se da 18ª faixa do repertório. Por causa da longa duração, uma música como essa acaba tornando-se dispensável. A faixa-título começa com a amostra amplificada de “The Question Is” do grupo The Winans. A introdução lhe dá um grande potencial, assim como o excelente rap. É uma canção grandiosa, astuta e, por vezes, dramática. A batida, fornecida por Maneesh, é refrescante e mantém um equilíbrio ao lado do conteúdo lírico. Dessa vez, Drake apresenta algumas inesperadas letras de autoconhecimento. “Se eu fosse você eu não iria gostar de mim também”, ele admite. A última faixa é a incrivelmente cativante “Hotline Bling” – produzida por Nineteen85, possui fortes amostras de “Why Can’t We Live Together”, de Timmy Thomas. “Você costumava ligar no meu celular / Tarde da noite, quando você precisava do meu amor”, ele canta inicialmente sem soar emotivo ou melodramático.
Sua entrega lírica está totalmente crua, honesta e sem sucumbir em generalizações ou clichês. “Hoje em dia tudo que faço é me perguntar se você está se empinando para outra pessoa”, ele questiona. Drake é um cara pensando profundamente alto e canalizando o ciúmes que sente por sua ex-namorada. Musicalmente, “Hotline Bling” é uma canção pop e R&B que cintila através de ótimas melodias, brilhantes riffs e de uma espetacular linha de baixo. Tudo somado, “Views” é um projeto sólido. Tem um corpo de trabalho interessante e uma intrigante variedade sonora. Drake permaneceu fiel ao seu estilo na maior parte do tempo, mesmo com algumas surpresas. Apesar do longo comprimento, ele flui sem maiores problemas e possui uma produção de alto nível. Mas liricamente não impressiona. Na maior parte do tempo, o encontramos relembrando de relacionamentos do passado e refletindo sobre sua vida de sucesso. Em contrapartida, suas habilidades de cantar e fazer rap é um elemento-chave. É impressionante sua capacidade em atingir o mesmo nível emocional em ambas técnicas vocais. Isso o diferencia de sua concorrência. Embora não seja melhor que o “Take Care” (2011) e “Nothing Was the Same” (2013), é um bom álbum.