Ao longo do álbum, a iluminação cotidiana de Thom Yorke é apoiada por músicas de expansão, desapego e abandono.
Depois de tanta espera e expectativa, Radiohead finalmente lançou o seu nono álbum de estúdio – “A Moon Shaped Pool” foi potencialmente anunciado em 08 de maio de 2016. Formado em 1985, o Radiohead é uma das bandas mais aclamadas da indústria. Em 1992 eles surgiram com o álbum “Pablo Honey” (1993) e o hit “Creep”, que rapidamente os levaram ao estrelado. Sua popularidade aumentou no Reino Unido com o lançamento de “The Bends” (1995). Posteriormente, “OK Computer” (1997) os impulsionou à fama internacional através de uma sonoridade expressiva e temas como alienação moderna. Esse álbum é constantemente elogiado como um marco da década de 90 e um dos melhores discos de todos os tempos. Conhecidos por ser um dos atos mais inovadores, a banda parecia ter acabado com suas reinvenções. Entretanto, “A Moon Shaped Pool” prova o contrário – é um álbum acima da média e um novo capítulo para banda. Ele conta com cordas orquestrais organizados pelo guitarrista Jonny Greenwood e realizados pela Orquestra Contemporânea de Londres. . Ademais, há uma combinação de baterias eletrônicas e sintetizadores com instrumentos acústicos como violão e piano. Enquanto isso, as letras discutem temas como amor, perdão e arrependimentos.
Assim como “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001), é um álbum impenetrável em alguns pontos. Porém, ao longo do seu comprimento, apresenta algumas das melhores melodias da banda sob instrumentos orgânicos e eletrônicos. Seu repertório tem um humor definitivo, bem como diferentes emoções expressas de faixa para faixa. O ritmo é principalmente downtempo e texturizado com guitarras. Além disso, as cordas orquestrais também desempenham um papel proeminente. O primeiro single, “Burn the Witch”, é talvez a declaração mais politicamente carregada da banda em anos. Tanto a letra quanto o vídeo estão sendo interpretados como uma repulsa ao autoritarismo. É uma música enigmática, profunda e emocionante. Musicalmente, é um pop orquestral magnífico com uma seção de cordas em efeito col legno. Esse efeito sonoro, emitido através da batida da vara do arco nas cordas do violino, cria uma tensão incrivelmente exuberante. É diferente de tudo que o Radiohead já produziu anteriormente, principalmente por causa da introdução inquietante e das cordas frenéticas de violino. Suas letras politicamente carregadas contém linhas como: “Fique nas sombras, aplaudam a forca, isso é um cerco”. Enquanto o instrumental constrói um clímax ríspido e inesperado, Yorke soa incrível.
O riff orquestral é agressivo, mas faz uma linda escalada através das notas cheias de angústia. Ele demonstra um controle vocal dominante ao lado de falsetes em potencial. Na segunda metade, as cordas do violino desintegram-se e deixam espaço para o violoncelo apresentar uma progressão de acordes mais padronizada. “Daydreaming” é uma música ambiente com um singelo piano, elementos eletrônicos e cordas orquestrais; um número atmosférico, minimalista e completamente cinematográfico, similar aos momentos mais sutis do “Amnesiac” (2001). Algumas hipóteses foram levantadas a respeito das letras; muitos disseram que ela faz referência a sua recente separação. É uma peça muito mais lenta e profunda do que “Burn the Witch” – quase parecendo uma canção de ninar cuidadosamente construída em torno do repetitivo arranjo de piano. Também é extremamente delicada e triste, especialmente por conta do tom solene. “Decks Dark” possui elementos que nos fazem lembrar do “OK Computer” (1997); emparelhada com algumas imagens apocalípticas e linhas de piano, ela implora por uma performance ao vivo. A linha de baixo caracterizada por Colin Greenwood é um destaque a parte, enquanto as guitarras elétricas criam uma ranhura poderosa.
As reflexões distópicas do Thom Yorke são estranhamente sombrias – ainda mais quando são acentuadas pela Orquestra Contemporânea de Londres. Em seguida, nossos ouvidos são atraídos pelos cativantes licks de violão de “Desert Island Disk”. Aqui, o violão está absolutamente lindo e assume o papel principal. É quase inteiramente acústica, conforme Yorke medita sobre ser “totalmente vivo na luz do meu espírito”. Guiado pelo violão e bumbo dificilmente audível, ele está melancólico em sua entrega. Quando a bateria, o baixo pulsante e as cordas aparecem, ele ainda se mantém calmo e contido. Mais tarde, uma ninhada sinistra de tambores e guitarras distorcidas surgem lentamente para apresentar “Ful Stop”. Mas apesar do início lento, ela alcança um pico quando o restante da banda se junta ao Tom Yorke. Grande e imediatamente emocionante, essa música retrata o desespero de uma dissolução romântica. “Todos os bons tempos, leve-me de volta”, ele canta enquanto os tambores e a sinistra guitarra marcam presença. É uma canção hipnótica que também fornece linhas de baixo e batidas distorcidas – elas estão em camadas ao lado da guitarra, do sintetizador e das notas de teclados. Ademais, assim como boa parte do álbum, “Ful Stop” é definida pelo espaço dentro de si.
O vai-e-vem dos tambores é incrivelmente eficaz e as guitarras interligadas por Greenwood e O’Brien são encantadoras. Apesar de ser a faixa mais curta, com pouco menos de 3 minutos, “Glass Eyes” é uma das mais abrangentes e cinematográficas. Dessa vez, a banda constrói sua ansiedade através de cordas macias e piano, combinando novamente dois temas-chave. Outro número assustadoramente belo, simplista e triste, que tenta se conectar a qualquer pessoa que passou por momentos de solidão. “Identikit” é facilmente um dos maiores destaques do álbum. É vagamente reminiscente de “Paranoid Android”, enquanto enfatizada por batidas saltitantes, guitarras e sintetizadores. Tudo embrulhado ao lado de uma melancolia e um apoio sonoro celestial. O que falta na progressão de sintetizadores, é compensado pelo pulsar do tambor e do solo de guitarra. Em sua maior parte, “Identikit” é focada nesses dois instrumentos (tambor e guitarra). Greenwood excedeu as expectativas com o tom brilhante e arranhado de sua guitarra. Os vocais de fundo, combinados com a instrumentação espaçosa, cria um contraste muito eficaz. A edificante “The Numbers” é construída por percussões, sussurros, teclas de piano e mais cordas orquestrais. Sua borda é acentuada pela guitarra elétrica que rosna em segundo plano.
Os tambores e acordes acústicos, por outro lado, fornecem uma das progressões mais características do Radiohead. O vocal do Thom Yorke é apresentado na extremidade inferior do seu alcance enquanto os arranjos de cordas, tão proeminentemente utilizados no álbum, também a elevam. Em “Present Tense”, Yorke fica dolorosamente introspectivo, perguntando se “todo esse amor será em vão” – aparentemente, ele está lidando com um rompimento amoroso. Seja ou não uma canção inspirada pela sua recente separação, ainda é interessante. Seu ambiente é construído sob tambores, guitarras e harmonias vocais, mas pontuado pelo uso mínimo de instrumentação – sendo em grande parte orgânica. O refrão é surpreendente, particularmente reforçado pela sua performance vocal contida. Outra peça surpreendente é “Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief”, a penúltima faixa do álbum. Os acordes de teclado e a batida são reminiscentes do “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001). É uma música preenchida pela composição magistral da Orquestra Contemporânea de Londres e pela percussão eficaz de Phil Selway. É uma verdadeira combinação de arranjos em camadas com uma atmosfera cinematográfica. “True Love Waits”, por sua vez, tem mais de 20 anos de existência.
Ela foi apresentada pela primeira vez em 1995, conforme foi executada inúmeras vezes nos anos seguintes. A banda tentou gravá-la para os álbuns “OK Computer” (1997), “Kid A” (2000) e “Amnesiac” (2001), mas não ficaram satisfeitos com a versão final. Posteriormente, acabou tornando-se uma das canções perdidas mais famosas do Radiohead. É uma canção de art rock com letras sobre amor e abandono, manifestada em sua forma mais pura, devastadora e direta – uma balada de piano verdadeiramente comovente. O escasso piano complementa de forma dolorosa os delicados e inexpressivos vocais do Thom Yorke. Como um todo, “A Moon Shaped Pool” não soa como qualquer coisa que a banda já lançou antes, embora sinta-se como uma progressão natural. É difícil imaginar que uma banda possa manter um alto nível, mesmo depois de 30 anos trabalhando juntos. “A Moon Shaped Pool” é simplesmente fantástico! Não é a sua obra-prima, mas foi criado por um quinteto que tem sido verdadeiramente original por décadas. Desde os Beatles, poucas bandas conseguiram tal reinvenção ao longo de sua carreira. Mas Radiohead é uma delas. Através de sua incrível musicalidade e criatividade sem precedentes, eles foram capazes de criar outro excelente projeto.