Enquanto “7/27” não é tão envolvente, Fifth Harmony conseguiu equilibrar sua negligência juvenil com uma sofisticação adulta.
Já se passaram quatro anos desde que o Fifth Harmony surgiu no X-Factor americano. Seu primeiro álbum de estúdio mostrou o talento de cinco garotas e esculpiu um lugar para elas nas paradas da Billboard. Antes do Fifth Harmony, a última girlband que conseguiu um top 5 na Billboard Hot 100 foi o Pussycat Dolls em 2006. Ou seja, isso aconteceu a dez anos atrás – um tempo bastante considerável. Enquanto grupos como Girls Aloud, The Saturdays, Sugababes, Little Mix, 2NE1 e Girls’ Generation estavam conseguindo seu espaço na indústria, grupos femininos americanos têm sido cada vez mais escassos. Mas em 2012, Fifth Harmony surgiu e pôs fim a essa seca americana. Nos Estados Unidos, elas realmente se destacam, pois, como um grupo de garotas, atualmente estão sozinhas. Dada a sua origem, tecnicamente fabricada em um reality show, é notável o quanto Fifth Harmony conseguiu ser bem sucedido. O seu triunfo é por mérito próprio, visto que elas são vocalistas talentosas e sequer ganharam a competição em 2012. Ontem, o quinteto lançou o seu segundo álbum de estúdio pela Epic Records. O título, “7/27”, foi escolhido em homenagem ao dia que o grupo se formou no X-Factor. Apesar da homenagem às suas raízes, elas abandonaram um pouco o estilo musical e os temas líricos que as tornaram tão sedutoras no “Reflection” (2015).
Infelizmente, “7/27” não é instantaneamente cativante como o disco citado, embora tenha um som melhor produzido. “Reflection” (2015) é surpreendentemente divertido e contagiante, mas “7/27” rejeitou sua energia pegajosa a fim de tentar nos convencer que elas amadureceram. Enquanto o crescimento é bem-vindo, algumas mudanças fizeram elas perderem um pouco de sua autenticidade. Entre os pontos positivos, podemos destacar a maior confiança e a coesão do repertório. Além disso, ao contrário do primeiro álbum, elas participaram do processo de escrita. Dito isto, “7/27” abrange boa parte dos temas apresentados no primeiro álbum – como confiança, independência e amor próprio. A buzina estridente de “That’s My Girl” é certamente uma maneira empolgante para começar as coisas. É uma música de R&B explosiva que encoraja as mulheres a apoiarem umas a outras – elas mostram o quanto se preocupam com o empoderamento feminino. Apesar do refrão repetitivo, a produção contém uma boa dose de bateria e saxofone. Quando Fifth Harmony lançou “Work from Home”, seu maior hit até então, não foi algo que eu honestamente estava esperando. Mas depois de várias escutas, eu acabei curtindo sua natureza grudenta. É uma canção cativante, assim como “Worth It”, além de possuir batidas borbulhantes e um refrão extremamente repetitivo.
Também possui um título e gancho semelhantes ao do recente hit da Rihanna; o refrão de ambas faixas são, literalmente, levados pela palavra “work”. Em entrevista à Billboard, as meninas disseram que foi preciso alterar o título, inicialmente chamado apenas “Work”, para evitar confusão com a música da Rihanna. A batida de “Work from Home” é bastante genérica – formada por uma pulsante linha de baixo e acordes de sintetizador. Enquanto a melodia e os vocais são eficientes, as letras falam sobre o anseio por alguém. Liricamente, é bastante sexual e um pouco estereotipada – surpreendentemente foi preciso seis escritores para aperfeiçoar o repetitivo refrão. Apesar de ficar preso na cabeça com facilidade, é monótono, plano e pouco estruturado. Quando Ty Dolla $ign assume a liderança ele não adiciona qualquer substância. Mas por qualquer meio, Camila Cabello é a voz com maior ênfase durante boa parte da música. “The Life”, outra faixa co-escrita por Tinashe, é um EDM que mostra a incrível química vocal do quinteto. Igualmente repetitiva à “That’s My Girl” e “Work from Home”, ela carece de autenticidade. No entanto, elas assumem uma atitude mais madura, à medida que o fluxo traduz sua arrogância de assinatura.
Enquanto “Work from Home” é sexualmente carregada, “The Life” traz suas raízes bubblegum pop de volta com letras inofensivas sobre a vida de popstar. É tudo completamente inofensivo se comparado aos duplos sentidos de “Work from Home”. Assim como a maioria dos singles, Cabello ganha maior destaque no pré-refrão e refrão. Seu tom realmente funciona em cima de sintetizadores e linhas de baixo em expansão. As contribuições de Stargate e Kygo aparecem em “Write On Me”, quarta faixa do álbum. Lançada como single promocional, é um tropical house que pinta um retrato de amor e vulnerabilidade. Vocalmente, é uma balada downtempo que realmente dá às elas a chance de brilhar. Além de ser uma das poucas canções onde todas cantam, ela possui uma bela instrumentação guiada por guitarra acústica, sintetizador, teclado e percussão. O verso de abertura da Lauren Jauregui em “I Lied” define o tom para o restante da música. “Eu disse que te amo, mas eu menti”, elas admitem. A produção concentra-se no EDM da equipe The Monsters and the Strangerz – há sintetizadores agudos e bateria de estilo tropical. É um espetáculo eletrônico um pouco genérico, embora apresente um refrão enlouquecedor. Por um momento, a produção nos lembra algo que Skrillex faria, devido ao ritmo e aos drops da batida.
O rapper Fetty Wap é o convidado de “All in My Head (Flex)” – canção com sample de “Flex” do DJ jamaicano Mad Cobra. Lançada como segundo single, é uma música divertida de inspiração reggae e trap. Normani e Dinah Jane comandam o refrão enquanto alguns grunhidos do Fetty Wap são polvilhados na mistura. Produzida por Stargate, Benny Blanco e Sir Nolan, há guitarras reluzentes e sintetizadores pulsantes na mistura. “Squeeze” é mais doce e suave que grande parte da tracklist. Os vocais estão no ponto e a batida é muito agradável – um número caloroso com letras sentimentais e produção edificante. “Ponha seus braços ao me redor amor e aperte / Só você sabe como me salvar”, elas cantam sob sintetizadores cintilantes. Dinah lidera o refrão e demonstra o quanto sua voz pode ser dinâmica. Em seguida, as coisas ficam mais íntimas e pessoais diante de “Gonna Get Better”. É uma canção que nos dá um sabor de R&B com versos substanciais e uma mudança de ritmo bem-vinda. Apoiada por guitarras acústicas, Ally Brooke constrói a introdução: “Eu não vou te deixar agora, eu sei que isso vai melhorar”. É basicamente uma canção honesta sobre o quanto relacionamentos podem ser complicados.
“Costumava ser destemida, porque estou com medo da felicidade?”, elas se perguntam em “Scared of Happy”. Sobre sintetizadores nervosos, elas demonstram problemas de autoconfiança. É inesperadamente desenvolvida a cerca do medo de aceitar a felicidade que está sentindo em um novo relacionamento. Mas apesar da incerteza, é um pop vibrante com ligeira inspiração dancehall. O conteúdo relacionável é emparelhado com percussão, teclado e pesados sintetizadores. Os versos são definitivamente mais interessantes que o próprio refrão. “Not That Kinda Girl” dispõe da rapper Missy Elliott, apresenta letras explícitas e uma mudança rítmica inesperada. Sonoramente, possui influências oitentistas a partir do uso de batidas em camadas e sintetizadores minimalistas. Apesar de demonstrar confiança e equilíbrio, “7/27” sofre pela falta de identidade. O forte ritmo das primeiras músicas não é mantido até o final. Muitas vezes, a mistura de gêneros dilui a identidade do grupo, em vez de expandir seus horizontes. Embora seja coeso e mostre um lado mais profundo e emocional, o repertório é instável e liricamente fraco. Fifth Harmony ainda tem muito o que crescer e amadurecer. Felizmente, elas são vocalmente talentosas e possuem autoconfiança. “7/27” é definitivamente cativante, mas eu particularmente acho o “Reflection” (2015) muito mais atrativo.