Embora “Lady Wood” não seja excelente, Tove Lo manteve a consistência – sua estrutura em duas partes fortalece a experiência do álbum.
O ano de 2014 foi muito bom para Tove Lo, a estrela sueca ganhou atenção com “Habits (Stay High)” e passou a ser conhecida no mundo todo. Seu álbum de estreia, “Queen of the Clouds” (2014), foi lançado no mesmo ano e rendeu mais alguns hits para ela. Posteriormente, Lo gravou canções para a trilha sonora de “Jogos Vorazes” e “Divergente”, e colaborou com Coldplay, Flume e Nick Jonas. Em agosto, ela liberou “Cool Girl” – canção com sons mais eletrônicos – que precedeu o lançamento do seu segundo álbum de estúdio, “Lady Wood”. Na primeira escuta, as faixas não se diferenciam tanto uma das outras, uma vez que o álbum é tão coeso. Todas possuem uma paisagem sonora semelhante enquanto o repertório é dividido em duas partes: “Fairy Dust” e “Fire Fades”. Dito isto, “Lady Wood” é melhor consumido como um todo. O título é uma referência à excitação sexual feminina, por isso o conteúdo explora tal estilo de vida sexualmente liberal. Ela co-escreveu as 12 faixas ao lado de Rickard Göransson, Joel Little e Ilya Salmanzadeh, e colaborou Wiz Khalifa e Joe Janiak. “Lady Wood” é mal-humorado, polido com sintetizadores e repleto de tons obscuros. Lo não está reinventando a música pop, mas sua marca cheia de positividade feminina é refrescantemente madura.
Naturalmente, sua música é bem produzida e, muitas vezes, soa como algo que a Robyn faria. Sonoramente, “Lady Wood” é mais sombrio e sonhador, proficientemente electro/synth/dance-pop, com batidas geladas e cortantes, sintetizadores sinistros e ganchos vocalmente conduzidos. Sua personalidade e o lirismo cheio de referências a sexo e drogas não são revolucionários, mas notáveis por sua falta de ingenuidade. Ela é conhecida por letras explícitas, mas também canta clichês e jogos românticos. “Lady Wood” parece ser mais maduro e honesto do que o “Queen of the Clouds” (2014), além de conter uma narrativa mais autoconsciente. Entretanto, musicalmente não é mais ousado do que o seu predecessor fortemente comercial. A franqueza de “Habits (Stay High)” garantiu o posto de popstar em ascensão, mas também garantiu que, no ano seguinte, Lo receberia entrevistas sobre se ela realmente espreitava em clubes de sexo. Como estudante de confessionalismo, ela sabe que o público tem um apetite infinito por escritores escandalosos, e que eles desejam sua honestidade menos do que suas autobiografias imaginárias. Como estudante de pop, ela sabe que a indústria analisa a vulnerabilidade das mulheres como empoderamento e sua dor como sensualidade.
Como mencionado, “Lady Wood” possui duas partes: a alta e a comedida, a festa e a pós-festa. A semelhança estrutural com os EPs do The Weeknd não é acidental. Quando Abel Tesfaye trabalhou com a claque escandinava, ele se tornou o colega direto da Tove Lo – consequentemente, os tiques vocais nervosos de faixas como “Don’t Talk About It” e “Keep It Simple” soam quase sob medida para ele. O som é basicamente o mesmo: um synth-pop noturno de tom menor, menos adequado para dançar com lágrimas nos olhos do que acordar sozinho e desgrenhado na manhã seguinte. Na maior parte, “Lady Wood” abandona o fator surpresa do seu antecessor, mas suas ruminações e obsessões são as mesmas: a liberdade fugaz encontrada no mau comportamento; a compulsão das mulheres de reprimir seus desejos e sua incapacidade de concretizá-los. “Influence”, com Wiz Khalifa, capta perfeitamente o espírito sonoro do álbum. É construída em torno de uma metáfora lírica bastante clichê, mas chama atenção por conta de outras questões. Possui uma atmosfera esfumaçada, sons repetitivos, tamborins e tambores usados como base. Lentamente, outros elementos são adicionados na mistura a fim de dar um efeito nebuloso para si.
A faixa-título tem um ritmo mais rápido e incorpora súbitas quedas vocais e batidas de tech house. É construída em torno de um gancho instrumental onde letras sexuais se destacam. “Sim, você me deixa excitada, você me deixa uma mocinha excitada”, ela confessa. “True Disaster” é uma verdadeira joia escondida dentro do álbum; uma fatia de synth-pop inspirada nos anos 80 que lembra o som de assinatura da Robyn. Ela começa como uma névoa e se transforma em uma das melhores músicas pop do ano, um instrumento perfeitamente trabalhado de auto laceração. O efeito fica um pouco arruinado quando o desastre titular se revela duas músicas depois, com a voz mesquinha de Joe Janiak. E é por isso que “True Disaster” deveria ser single. Mas não é uma música pop perfeita. Ela sofre da fraqueza primária da Tove Lo como compositora. Dito isto, ela fala sobre a dor que vem junto com o amor destrutivo. “Vamos lá, eu sei que vou me machucar / Vamos lá, não dou a mínima”, ela canta no cativante refrão. No electropop “Cool Girl”, ela apresenta seu som de assinatura sem grandes esforços. Liricamente, ela mostra interesse por um relacionamento aberto, pois “garotas legais” não colocam rótulos em seus namoros.
Para o single principal, Lo escolheu como inspiração uma das citações literárias mais circuladas e menos compreendidas da última década, o monólogo “Cool Girl” do livro “Garota Exemplar” de Gillian Flynn. Para certos homens, ser uma garota legal significa ser uma mulher gostosa e engraçada que adora futebol, piadas sexuais, que joga videogame, bebe cerveja barata, adora sexo a três e ama sexo anal. “Cool Girl” não é uma música raivosa; é apenas uma maneira amorosa de deixar seu homem fazer o que ele quer. Basicamente, é uma confecção pop que serve como dispositivo de sua entrega atraente, com um refrão atrevido sobre ser uma garota legal. A ponte é projetada para ser o núcleo emocional de todo o álbum, no momento em que Lo baixa a guarda e revela seus verdadeiros desejos, mas parece que ela está imitando a Sia. No entanto, “Lady Wood” é uma válvula de escape para o som que ela costuma prosperar. De fato, é igualmente uma plataforma para ela argumentar, como fez no “Queen of the Clouds” (2014), que os casos autodestrutivos de um tipo específico de mulher são assuntos dignos de álbuns conceituais. A última faixa do primeiro capítulo é “Vibes”, uma colaboração com o citado Joe Janiak. Embora as letras sejam planas, há uma musicalidade real. O papel da guitarra acústica soa bastante surpreendente, assim como o refrão eletrônico.
É uma peça enganosamente fria, o flerte supostamente alegre de duas pessoas sem nada real entre elas. “Qual a sua cantada, na verdade? / Que eu sou gostosa / Já ouvi isso antes”, Lo provoca, apenas para ser negada por Janiak. No capítulo “Fire Fade”, ela experimenta letras mais sérias e temas mais aguçados. “Don’t Talk About It” fala sobre como temos a tendência de varrer todos os problemas para debaixo do tapete. É uma tentativa de mostrar como o ser humano tenta criar vidas perfeitas enquanto são apenas fachadas. No entanto, quando “Lady Wood” tenta ficar otimista – como em “Imaginary Friend” e “WTF Love Is” – as faixas resultantes são as mais fracas. “Imaginary Friend” fala sobre como a realidade, muitas vezes, é tão complicada e difícil. Infelizmente, a composição e o refrão com vocais distorcidos, é bastante entediante. A inusitada “Keep It Simple” mantém o tema contínuo sobre relacionamentos complicados que aparece durante todo o álbum. Estranhos sons são adicionados à mistura, embora a transição para a estrutura de sintetizador funcione bem. É uma canção que gira em torno de um refrão estendido e repetido com mais frequência do que o habitual. Como o título sugere, apresenta um cenário específico e provavelmente identificável: deitar na cama em alguma hora ruim da noite, e ler as mensagens antigas de um ex.
Os sintetizadores de Ali Payami pousam rápido e alto, enquanto Lo empurra qualquer conexão ou intimidade iminente de volta para o escuro. “Flashes” é uma oferta sonoramente intrigante, mas perde sua marca ao fornecer letras desajeitadas – uma canção que nunca atinge o seu potencial. Aqui, Lo lamenta o efeito sobre os amigos e tenta minerar sua vida em busca de conteúdo: “Eu fodo as coisas na frente dos flashes das câmeras, mas e você?”. Como compositora, Lo nunca foi a mais sutil – a julgar pelas descrições literais do seu comportamento em “Habits (Stay High)”. Isso também é evidente na maior parte do “Lady Wood”. Sua honestidade costuma funcionar adequadamente, como na dramática “WTF Love Is” – embora seja uma canção decidida, infelizmente é um final fraco para o álbum. “Então que porra você acha que o amor é?”, ela pergunta. Mais uma vez, sua voz navega com facilidade e consegue criar outra melodia pop pegajosa. Tove Lo mostra progressão com sons mais eletrônico em seu segundo álbum de estúdio. De alguma forma, a sueca conseguiu criar outro disco coeso e surpreendentemente envolvente. Enquanto “Lady Wood” pode não ter o mesmo efeito duradouro do “Queen of the Clouds” (2014), ele nos permite mergulhar de cabeça no mundo honesto e sombrio da Tove Lo.