“Starboy” é um ótimo álbum, mas não tem o mesmo equilíbrio e coesão que o Abel Tesfaye conseguiu em seus três primeiros lançamentos.
Quase na mesma veia do seu antecessor, “Starboy” é o terceiro álbum de estúdio do The Weeknd. Cinco anos depois de lançar o EP “House of Balloons” (2011), que explorava um R&B mais alternativo, ele encontrou uma abordagem singular para os seus trabalhos. Hoje em dia, todos estão familiarizados com sua música, que geralmente expressa o amor e o sexo em muitas formas. Seus álbuns costumam mostrar incursões atrás de mulheres enquanto fornece batidas sintetizadas que já se tornaram sua marca registrada. “Starboy” apresenta um homem que literalmente não tem nada de novo a dizer, mas que vende uma música extremamente atraente. Certamente, The Weeknd conseguiu fazer uma boa transição do R&B alternativo para o pop, principalmente depois que lançou o “Beauty Behind the Madness” (2015). Para os fãs de longa data, “Starboy” pode não parecer o seu melhor trabalho – afinal, progride em uma direção mais eletrônica dos que seus discos anteriores. No entanto, em meio a melodias poderosas e grandes produções, “Starboy” é uma trilha sonora agradavelmente nostálgica. Suas letras, marcadas pela insegurança, abuso de drogas e álcool, relacionamentos amorosos, neuroses juvenis, reflexões misóginas e emoções neuróticas, são mais do mesmo.
Entretanto, seu falsete auto-sintonizado e a sensibilidade de sua voz continuam sendo extremamente eficazes. Na verdade, o álbum explora o mesmo território do “Beauty Behind the Madness” (2015), mas com uma abordagem menos séria. Felizmente para o Weeknd, profundidade lírica não é algo que as pessoas realmente procuram nele. Dito isto, a principal falha do LP está no seu tamanho gigantesco. Há variedade em seu interior, mas no decorrer de 68 minutos e 18 faixas, ele começa a se arrastar drasticamente. As últimas faixas são muito boas, mas até chegar lá, o ouvinte vai começar a sentir uma ligeira fadiga e cansaço. O principal vídeo do álbum o encontra assassinando uma versão anterior de si mesmo, antes de levar um bastão em forma de cruz para um condomínio cheio de prêmios e placas de vendas. “Starboy”, no entanto, não é uma dramática reinvenção – se alguma coisa, parece uma reforma diluída do velho The Weeknd. “Beauty Behind the Madness” (2015) conseguiu contrabandeá-lo para o mainstream, refinando sua arte musical, mesmo escondido na escuridão.
“Starboy” facilita as duas frentes, reciclando melodias, ideias e até músicas inteiras enquanto apresenta uma versão higienizada do The Weeknd que muitas vezes carece de qualquer perspectiva real. É uma jogada curiosa para um cara que tão decisivamente conseguiu ter sucesso em seus próprios termos. Para garantir que pareça um trabalho árduo, “Starboy” também é extremamente sobrecarregado. Mas existem alguns pontos brilhantes aqui: ambas colaborações com o Daft Punk são satisfatórias, embora dificilmente inovadoras. A faixa-título é um electropop com letras que abordam as extravagâncias da vida de um famoso e define elegantemente o tom para o que está por vir. É a mistura perfeita dos seus trabalhos mais comerciais com a borda escura de suas mixtapes. The Weeknd uniu seu escuro R&B com o nu-disco dos franceses a fim de criar uma música fascinante. Além de “Starboy”, o duo também é creditado na excelente “I Feel It Coming”, última faixa do álbum – uma canção disco envolvente com influências que capturam a nostalgia dos anos 80 – sua atraente melodia é reminiscente de alguns trabalhos do Michael Jackson.
Em outras partes, parece uma versão mais lenta da extraordinária “Get Lucky”. Há uma grande exibição de estilos nesse álbum, desde o R&B alternativo de “Party Monster” até a psicodelia de “Secrets”. “Party Monster” não é necessariamente ruim, mas não faz uso de uma grande produção ou lirismo. Em vez disso, Abel optou por uma batida de sintetizador mais genérica. Aqui, ele mostra mais uma vez o quanto aprecia as mulheres e as drogas em excesso. “Secrets”, por sua vez, é interpretada com um registro vocal mais baixo sobre a mente de uma garota. É uma peça de new wave e disco onde Abel incluiu amostras de “Pale Shelter” (Tears for Fears) e “Talking in Your Sleep” (The Romantics). Ele brinca com seu falsete usual, mas cantando de um jeito muito mais profundo. O dance-punk “False Alarm” foi lançado como single promocional em 29 de setembro. Aqui, o encontramos gritando no refrão através de um experimento agressivo de sons eletrônicos. É uma tentativa interessante, embora não tenha me agradado instantaneamente. Liricamente, também gira em torno das drogas, de suas relações amorosas e do materialismo.
A música arranca a derrota das garras da vitória com harmonias sublimes que se transformam em um refrão berrado extremamente artificial. No agradável R&B de “Reminder”, ele fornece algumas introspecções sobre a fama e o sucesso, mencionando uma premiação de música. Em seguida, “Rockin'” tenta claramente recapturar o som de “Can’t Feel My Face”: é uma canção electro divertida e dançante, mas quase uma cópia da citada: “Só quero seu corpo junto ao meu, pois me traz muito êxtase”, ele canta inofensivamente. Na encantadora “True Colors”, produzida por Noah “40” Shebib, ele tenta injetar alguma emoção real no álbum. Abel implora para sua nova paixão revelar seus segredos mais profundos para ele. Mas, a música mais interessante mal chega a ser uma música; “Stargirl Interlude”, com 2 minutos de duração, mostra Lana Del Rey reprisando seu papel como o contraponto do The Weeknd, relatando uma visão pornográfica de forma minimalista. O breve trecho é preenchido com o tipo de tensão que falta na maior parte do álbum, representando a teatralidade pela qual os dois artistas são conhecidos.
Aqui, eles abraçam a narrativa, respondendo à sua falta de autenticidade, retirando-se totalmente para a fantasia pop onde seus personagens se conectam. É um movimento corajosamente autoconsciente que consegue arrancar a arte de seu esforço. “Starboy” poderia usar muito mais desse tipo de audácia ou, na verdade, qualquer tipo de narrativa coerente que desafie nossa compreensão do vilão insensível que Abel Tesfaye vem interpretando desde o início de sua carreira. A poderosa “Sidewalks” possui boas camadas de auto-tune emparelhadas com um rap brilhante, além de elementos de R&B e um fluxo lírico potente. O verso de Kendrick Lamar é caracteristicamente hábil, mas até ele parece um pouco desanimado de estar aqui. “Six Feet Under”, com participação sem créditos do Future, é essencialmente uma reescrita da excelente “Low Life”; tanto aqui quanto em “All I Know”, o rapper melodicamente talentoso se sente extremamente subutilizado. Após o agradável refrão de “Six Feet Under”, boa parte do repertório se torna um pouco esquecível por conta da sequência de faixas mais simples.
“Love To Lay” contém boas batidas de tambor e um refrão contagiante, ao passo que “A Lonely Night” possui um apelo eletro-funk. Enquanto isso, Abel confessa o seu amor em “Nothing Without You”, capta nossa atenção com a balada eletrônica “Attencion” e proclama tons de arrependimento em “Ordinary Life”. No entanto, nenhuma dessas faixas se destacam perto da excelente “Die for You”. Dessa vez, percebemos o quanto Weeknd sabe escrever e produzir hits em potencial. É uma música de R&B inesperadamente diferente do que estamos acostumados a ouvir do canadense – é viciante por si só. Com “Starboy”, The Weeknd se aventurou muito mais no universo pop. Enquanto os fãs esperavam algo mais clássico, ele mergulhou de vez no mainstream. Sua voz distinta, seus falsetes e suas inspirações líricas continuam sendo pontos fortes. Entretanto, o álbum teria uma recepção melhor se ele tivesse mantido uma tracklist mais curta com 11 ou 12 faixas. Infelizmente, “Starboy” não superou seu antecessor e mais parece uma compilação oportunista do que um grande álbum.