Na melhor das hipóteses, é uma coleção que soará melhor em uma arena lotada. Ed Sheeran usa seu tom meloso em excesso sob uma confiança brega.
Após concluir a turnê do seu segundo álbum, com três noites lotadas em Londres, Ed Sheeran entrou em um hiato. Durante esse tempo, ele escreveu alguns singles de sucesso para outros artistas, incluindo “Love Yourself” (Justin Bieber) e “Cold Water” (Major Lazer). Ele começou a divulgação do “Divide” lançando dois singles ao mesmo tempo: “Castle on the Hill” e “Shape of You”. Ambas canções conseguiram um enorme sucesso comercial – “Shape of You”, particularmente, alcançou o #1 lugar em inúmeros países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália. Em sua semana de lançamento, “Divide” colocou todas as 16 faixas no top 20 do principal chart do Reino Unido – ele já fez história com esse álbum. Ficou claro que desde o lançamento dos dois primeiros singles, esse disco seria um novo capítulo para o músico britânico. Seu som é fresco o suficiente para cativar a massa. Mais uma vez, ele foi auxiliado por produtores familiares, como Benny Blanco e Johnny McDaid, além de Labrinth e Steve Mac. A inocência é a chave para o sucesso do Ed Sheeran. Sua autoproclamada personalidade antissocial é o que o torna frio e imune a críticas. Ele regularmente descreve sua namorada como a melhor pessoa do mundo, refere-se a seu pai como “daddy” e sempre canta sobre seus avós.
Não há dúvida de que o seu sucesso foi calculado, podemos notar isso através dos títulos de seus álbuns. Como a Sia, ele se maravilha com sua capacidade de produzir refrões genéricos, e frequentemente se retrata como um bêbado engraçado à mercê de garotas más e situações complicadas. Aqui, “Eraser” parece o único reflexo verdadeiro de sua mente, onde ele reconhece uma situação incontestável: “Ninguém quer te ver no fundo do poço / Porque você está vivendo seu sonho, cara / Essa merda deveria ser divertida”. Em outro momento, ele canta: “Estou bem ciente de certas coisas que acontecerão a um homem como eu”. Sheeran se refere à bebida e às drogas, mas é sua incapacidade de conciliar seu status de azarado com sua popularidade, que parece contraditório. Sonoramente, “Eraser”, possui fortes influências de hip hop acústico. Inicialmente, ela apresenta palavras faladas e o seu clássico violão. Embora seja melodicamente desinteressante, possui um refrão bastante atraente. No restante do álbum, ele muda seu foco para uma sabedoria branda que lhe permite refletir sobre o que há de bom e de ruim nas pessoas ao seu redor, em vez de olhar para dentro de si. A falta de honestidade não importa realmente – ninguém ouve Ed Sheeran para uma busca profunda.
Mas a falta de imaginação sim. Assim como aconteceu com Adele, você suspeita que canções mais interessantes podem ter sido deixadas de fora do álbum por motivos comerciais. “Castle on the Hill” é um número folk-pop com letras extremamente visuais e nostálgicas. Basicamente, Sheeran prega uma homenagem para sua cidade natal, Framlingham. É uma canção dolorosa e particularmente uma das melhores do álbum – o fluxo rítmico é conduzido por guitarras em ascensão e vocais um pouco emotivos. É puro sentimentalismo, outra chave de como ele usa sua inocência para sustentar sua moral elevada sobre garotas e padrões de beleza injustos. O álbum segue pela intimidade downtempo de “Dive”, uma linda balada com sonoridade familiar, melodias bluesy, influência soul e notas de guitarra. Embora não seja liricamente forte, possui uma das melhores performances vocais do LP – uma canção sobre o amor não correspondido. Sheeran co-produziu o smash hit “Shape of You” com Steve Mac – aqui, eles falam sobre um romance promissor. Musicalmente, é uma canção pop com influências de dancehall e tropical house. Ela possui um looping de guitarra hipnotizante e uma percussão que lembra “Cheap Trills” da Sia.
Resumidamente, é divertida e especificamente trabalhada para as rádios e serviços de streaming. Depois da vibração arrogante de “Shape of You” o álbum dissipa na lentidão de “Perfect”. Forte candidata como favorita dos fãs, parece uma reminiscência de “Thinking Out Loud”. Uma balada encantadora formada por cordas de violino, coro gospel e acordes de violão. É inegável que Sheeran sempre gostou de se posicionar como uma vítima inocente. Se você pensou que sua cota de inocência tinha acabado quando ele co-escreveu “Love Yourself” do Justin Bieber, você estava errado. “Perfect” é uma terna balada onde ele diz para sua amada que ela está simplesmente “perfeita esta noite”. Sheeran viajou o mundo por um ano antes de gravar este álbum e, considerando sua viagem cultural do Condado de Galway, ele escreveu “Galway Girl”. Essa canção apresenta influências irlandesas, sonoridade folk e inesperados elementos de hip hop. Apesar de ser enjoativa, possui um violino divertido e melodias cativantes. É uma música que realmente mostra o amor do Ed Sheeran pela cultura da Irlanda.
“Happier”, por sua vez, é uma canção triste e auto reflexiva que expressa as emoções de ver uma ex-namorada nos braços de outro – seu arrepio mal suprimido é basicamente uma tentativa de maturidade pós-separação. Co-escrita por Ryan Tedder do OneRepublic, é uma das poucas que consegue recriar a vulnerabilidade que fez Ed Sheeran ficar famoso. Em seguida, um ritmo mais rápido e uma batida contundente apresenta “New Man”. Um esboço ferido de R&B com tema semelhante ao da faixa anterior, mas com estilo completamente diferente. Mais uma vez, Sheeran volta sua atenção para uma ex-namorada. Ele está chateado com o novo namorado dela, que faz “as sobrancelhas e tem a bunda branqueada” e usa “uma bolsa masculina no ombro”. O que aconteceu com aquela doce garota que ele retratou em “Perfect? “Agora você está comendo couves e indo pra academia, acompanhando a vida da Kylie e Kim”, ele diz. “New Man” definitivamente possui as letras mais embaraçosas e constrangedoras do álbum. “Hearts Don’t Break Around Here” é outra faixa dedicada a namorada do britânico – ela poderia facilmente fazer parte do seu álbum de estreia.
Possui uma melodia acústica que fornece o cenário ideal para as suas metáforas constrangedoras. Se há algo pessoal nos sentimentos genéricos do Ed Sheeran, é sua crença inabalável no amor. Ele muitas vezes sofre por isso, está desesperado por filhos, ele vê o futuro nos olhos de sua namorada. Sobre a melodia afetuosa do folk-pop de “What Do I Know?” ele fala sobre algo que o seu pai lhe disse: “Filho, não se envolva em política, religião ou na briga de outras pessoas”. Uma ruptura com temas de amor e perda que lembra o estilo do Jack Johnson. Liricamente, Sheeran brinca com a ideia de que a música e o amor podem mudar o mundo, de uma maneira que a religião e política nunca conseguiriam. Com sua guitarra, elementos de R&B e ritmo repetitivo, ele conseguiu criar uma das faixas mais cativantes do repertório. No entanto, sua fraca mensagem desmorona quando ele confessa: “Mas Deus sabe que todo mundo está falando sobre o crescimento exponencial / E a queda do mercado de ações e suas carteiras / Enquanto eu estarei sentado aqui com uma canção que eu escrevi”. De repente, o seu otimismo condicional volta à tona e mostra seu senso crítico esfarelado.
“Eu sei, eu apoio que as pessoas sigam seus sonhos / Apenas se lembre de que a vida é mais do que caber nos seus jeans”, ele canta, em um gesto amigável para as pessoas que não compartilham de sua visão enfadonha. O blue-eyed soul de “How Would You Feel (Paean)” possui melodias de piano e um ritmo completamente sucinto. O suave piano se mistura com a guitarra e proporciona outra ode para a namorada do Ed Sheeran; é uma canção de amor que ainda contém um expressivo solo de guitarra. Assim como “Perfect”, é outra música que nos faz lembrar de “Thinking Out Loud”. A última faixa, “Supermarket Flowers”, é uma homenagem emocional dedicada a sua falecida avó. Aqui, Sheeran usa um singelo piano para prestar o devido tributo. No geral, ele quer duas coisas: ser uma grande celebridade e o cara legal que não quer alienar seus fãs com convicções políticas enquanto tenta dominar as paradas musicais. “Divide” é definitivamente o seu álbum mais ambicioso e dinâmico até à data. Entretanto, não deixa de ser também o seu material mais calculado e pré-fabricado. Possui um repertório alegre, brincalhão, apaixonado e romântico, mas não assume qualquer risco. Embora seja um esforço hábil e bem executado, muitas vezes se sente confuso e incompleto. Por esses motivos, ficou claro que o único objetivo por trás dele é alcançar o sucesso comercial.