“Harry Styles” funciona bem como um álbum de estreia e serve como uma extensão da marca do One Direction.
Desde a formação do One Direction, ficou evidente que Harry Styles se tornaria uma estrela. Quando o grupo decidiu fazer uma pausa, muitos se perguntavam: qual seria o som do Harry Styles? Zayn Malik seguiu pelo R&B alternativo, Niall Horan está explorando o folk-pop, Louis Tomlinson se juntou com Steve Aoki no EDM e, dado o seu primeiro single, Liam Payne pretende usar influências de hip hop. Mas e o Harry Styles? Inesperadamente, o cantor de 23 anos resolveu seguir pelo rock com grande influência dos anos 70. Pouco mais de 1 ano depois de se separar do One Direction, ele lançou o seu auto-intitulado álbum. Os fãs do quinteto devem ter se surpreendido com “Harry Styles”, pois possui um conteúdo mais grave e profundo do que o esperado. Styles emerge em um som mais melancólico, proporcionando um olhar muito mais íntimo de si mesmo. Você consegue viajar no tempo através de faixas levemente inspiradas pelos Beatles, Rolling Stones, Oasis e David Bowie. Ao longo do álbum, encontramos uma escrita envolvente e produção graciosa – Styles conseguiu criar um repertório bonito e exuberante. Não é um álbum inovador por qualquer meio e muito menos perfeito, mas é um empreendimento extremamente agradável. Semelhante ao Justin Timberlake, que abraçou o R&B após sair do *NSYNC, sua estreia parece autêntica e credível.
No passado, vimos grandes grupos ser divididos e seus membros prosseguindo em carreira solo. Alguns foram bem, como Geri Halliwell e Melanie C, e outros extremamente bem sucedidos, como Robbie Williams e Timberlake. Gary Barlow conseguiu, inesperadamente, se sair melhor do que o esperado, mas outros como Victoria Beckham, não se saíram tão bem. Felizmente, Harry Styles tem tudo para ser bem sucedido em carreira solo. Entre as falhas do álbum, podemos destacar o fato dele não ser um escritor experiente, mesmo que mostre um talento considerável para tal função. Suas letras são susceptíveis a cair em clichês, especialmente quando ele está cantando sobre alguma relação amorosa. “Harry Styles” não adere a nenhum gênero específico, mas no geral explora um interessante soft rock e britpop. Sua estreia não está sujeita às mesmas pressões que definiram o período final do One Direction, e suas músicas não precisam se manter durante uma turnê de um ano em estádios. Ainda é extremamente fácil ouvir Styles e sua banda – liderada pelo produtor executivo Jeff Bhasker – inclinar-se para uma grande variedade de lendas do rock. O primeiro single, “Sign of the Times”, é um soft rock onde encontramos Harry Styles em sua zona de conforto – mas o som genuíno e a entrega sincera soam bastante naturais.
A envolvente produção, orientada pela guitarra, leva os vocais para novas alturas. No decorrer de 5 minutos, Styles reflete sobre a vida e um relacionamento que pode chegar ao fim. “Lembre-se que tudo ficará bem / Podemos nos encontrar de novo em algum lugar / Em algum lugar longe daqui”, ele canta de forma otimista. Oferecendo um desempenho vocal convincente e emocionalmente excitante, “Sign of the Times” é uma balada complexa e madura. Sua intensidade interligada com o seu piano deliberadamente lento, emite uma tristeza eminente. As notas altas e a emoção vocal são muito eficazes. É uma balada de piano emocional que gera um clímax espetacular e faz Harry Styles assumir suas influências rock dos anos 70. “Meet Me in the Hallway” sugere um relacionamento difícil, mas recheado de otimismo e esperança. É uma canção baseada na guitarra que fala sobre lidar com a rejeição; a guitarra acústica e os ecos vocais preparam uma introdução poderosa para o álbum. Diferente das faixas que o tornou famoso como parte do One Direction, as letras e a instrumentação nos transmitem uma melancolia inegável. Suas performances vocais são invariavelmente as melhores coisas dessas canções. Styles descreveu sua passagem pelo One Direction como “uma democracia”, e cada música apresentava uma luta por espaço entre quatro ou cinco deles.
Aqui, ele tem o espaço somente para si. A diversão começa com “Carolina”, um sulco tropical com boas batidas e algumas frases poéticas. É outra canção otimista que fornece melodias agradáveis e refrões cativantes. Como o título sugere, ela foi provavelmente escrita para sua ex-affair Caroline Flack. O ritmo caseiro testa os limites de sua arrogância nascente. E eu nunca ouvi alguém gravar seus próprios backing vocals com o entusiasmo do Harry Styles. Cada grito e canto são proferidos com um sorriso provocante. Seguir sozinho dá a ele o espaço de que precisa para se destacar como vocalista, mas também destaca suas deficiências como escritor. Alusões vagas, personagens comuns e frases clichês à parte, Styles tem mais dificuldade para escrever sobre mulheres. “Two Ghosts” só é bem-sucedida porque se baseia em um punhado de referências a sua ex mais famosa, Taylor Swift. Dito isto, é um reflexivo e sensível folk rock com algumas influências de country. Possui uma vibração descontraída e um refrão instantâneo. Sua atmosfera levemente ensolarada desliza sobre licks de guitarra e doces vocais – sonoramente, é incontestavelmente elegante. “Sweet Creature” é um folk acústico igualmente adorável. Embora tematicamente parecida com algumas músicas do One Direction, ela possui um riff de guitarra dobrável que lembra a linda “Blackbird” dos Beatles.
Em seguida, “Only Angel” surge com um sulco arrogante reminiscente dos Rolling Stones. Inevitavelmente, o riff crocante de guitarra nos faz lembrar de algumas músicas dos Stone e o estilo de Mick Jagger. Sem dúvida, a obsessão pelo líder dos Stones está em plena exibição aqui. A angustiante “Kiwi” possui um espírito e atitude punk acompanhada de uma pegada hard rock. Seu trabalho na guitarra realmente exala um som selvagem, assim como os gemidos vocais do Harry Styles. “Ever Since New York”, por sua vez, pode ser considerada um dos maiores destaques – uma música provocativa e melancólica em igual medida. Em seguida, “Woman” abre com uma discussão pré-gravada que diz: “Devíamos apenas procurar comédias românticas na Netflix e ver o que encontramos?”. Essa balada adota piano e guitarras enquanto “From the Dining Table” é dolorosamente triste e outro exemplo da mudança estilística do álbum. Com vocais em camadas, guitarra levemente rasgada e linda seção de cordas, Styles se mostra completamente romântico. Inesperadamente, “From the Dining Table” abre com uma cena surpreendente: um Harry Styles excitado e solitário, se masturbando em um quarto de hotel antes de cair no sono e ficar bêbado. “Acordei sozinho neste quarto de hotel / Brinquei comigo mesmo, onde você estava? / Voltei a dormir, fiquei bêbado ao meio-dia”, ele admite.
A escrita é franca e tímida; parece que ele está cantando baixinho no seu ouvido. “A propósito, até mesmo meu telefone sente falta das suas ligações”, ele canta na última linha. É inebriante e termina o álbum da melhor forma possível. Ele ignora seus imaginários casos de amor com outros membros do One Direction e ganha apreço de sua fã base, em grande parte feminina, em sua maioria adolescentes. No geral, “Harry Styles” é um álbum de estreia diversificado com sons modernos e ótimas influências de rock clássico. Ele mostra como um disco de rock dos anos 70 soaria se fosse lançado nos anos 2010. É difícil ignorar as influências dos Rolling Stones, Oasis e David Bowie. Mas enquanto qualquer esforço para se tornar o próximo Bowie ou Mick Jagger está longe do alcance de qualquer artista, Harry merece aplausos pelo trabalho apresentado. Ele conseguiu fazer uma rápida mudança de som, ao sair de uma boyband popular e transformar-se num vocalista maduro. Styles está um pouco mais velho e certamente mais experiente. E acima de tudo, é um artista em plena evolução. “Harry Styles” não é de forma alguma inovador, mas é um material adorável de um artista que tem tudo para ser mais promissor no futuro. Ele só precisa de mais experiência e tempo para crescer.