A maioria das faixas do novo álbum do Fifth Harmony são mornas demais e não possuem qualquer identidade artística.
Aparecendo pela primeira vez na segunda temporada do “X-Factor” americano em 2012, Fifth Harmony já percorreu um longo caminho. Embora não tenha ganhado a competição, o grupo assinou com a gravadora de Simon Cowell. Mas logo após as filmagens do especial de Réveillon de 2016, Fifth Harmony anunciou que Camila Cabello havia deixado o grupo, em circunstâncias ruins, mas previsíveis: de fato, Cabello já havia preparado a base para uma carreira solo bem antes de sua saída, participando de singles do Shawn Mendes e Machine Gun Kelly. Consequentemente, as outras garotas – Ally Brooke, Normani Kordei, Dinah Jane e Lauren Jaregui – continuaram a caminhada sem ela. Vamos ser francos, esse momento chega na história de praticamente todas as boybands ou girlbands. Nenhum grupo trata esse momento como algo definitivo, ou o começo do fim; de One Direction às Spice Girls, a imprensa é sempre sobre seguir em frente, assumir o seu próprio controle criativo. O Fifth Harmony pode estar melhor posicionado para resistir a essa mudança. No entanto, ao contrário do Reino Unido ou da Coreia do Sul, o mercado pop americano é muito mais adequado para mulheres solo do que para grupos femininos.
Os singles do Fifth Harmony muitas vezes se parecem com o primeiro e ajudam o grupo a se adaptar quando eles esquecem da harmonia. Mas há uma sensação um pouco apressada em seu novo álbum auto-intitulado. O repertório permanece em um território familiar e as letras são demasiadamente repetitivas. Enquanto isso, a superprodução causa torna suas vozes estranhas por causa da exagerada auto sintonização. O Fifth Harmony não é necessariamente ruim, na verdade, o grupo se encaixa na estética de muitos outros artistas que dominam os charts no momento. Mas esse álbum é seguro demais, muito bege para competir até mesmo com o seu LP anterior, que carregava mais peso lírico e musical. Com apenas 33 minutos, tudo parece preenchido com ideias desconexas. A verdadeira vergonha aqui é que, em meio a uma crise mundial de girlbands (exceto na Ásia, onde os grupos de k-pop reinam), o Fifth Harmony poderia realmente construir algo que vale a pena, mesmo que seja apenas para os adolescentes que constituem sua fã base. Diga o que quiser sobre o One Direction, mas eles saíram do “X Factor” para se transformar em um dos atos pop de maior sucesso, em uma época em que o mero conceito de uma boyband parece ridículo.
Da década de 60 em diante, os grupos femininos abordaram temas de amor, traição e independência com a mesma intensidade que o mais obscuro e ardente roqueiro, e é uma pena que o Fifth Harmony não faça parte dessa história. “Work From Home” foi de longe o maior sucesso do grupo, alcançando a posição #4 na Billboard Hot 100; sem surpresa, quase metade do álbum tenta replicar sua fórmula. “Down” é certamente o exemplo mais óbvio – possui o mesmo gancho repetitivo de “Work from Home”. Porém, desta vez, não há absolutamente nada apoiando a música além da mesma linha de teclado tropical que vem atormentando os charts nos últimos anos. Liricamente, fala sobre adversidades, mas a repetição do título no refrão simplesmente não chega a lugar nenhum. Ademais, o rap destoante do Gucci Mane – sublinhado por um baixo crocante e distorcido – mata completamente a vibe da música. Em termos de som, o álbum trabalha principalmente com o pop e R&B, além de flertar com o dancehall, reggae, trap e hip hop. Em meio a músicas agitadas e algumas baladas, elas falam principalmente sobre relacionamentos, desgostos amorosos e empoderamento feminino.
O grupo perdeu um membro popular e agora tem muito a provar com este álbum – embora o primeiro single não seja um bom presságio. Mesmo com “Down”, eles falham em alcançar seus próprios padrões sobre como fazer uma boa música pop. O segundo single, “He Like That”, exibe influências de reggae, elementos de R&B e hip hop, e interpolação com “Pumps and a Bump” (Hammer). Conduzida por guitarras sonolentas, percussão e baixo, ela foi escrita a partir da perspectiva feminina que elogia a figura masculina. Há um ritmo sensual escondido atrás da produção, mas letras como “ele gosta de salto alto e uma bela bunda”, transmitem imaturidade e atrapalham a sexualidade crua que elas claramente buscavam. “Sauced Up” é um número pop e R&B incoerente e melódico sobre curtir a vida noturna. Faz uso de um baixo pesado, além de sintetizadores e batidas influenciadas pelo trap. “Make You Mad” é liricamente mais sexual e apresenta batidas cintilantes sob elementos caribenhos. Ela abre tranquilamente, maliciosamente confiante e pronta para ser um interlúdio surpreendentemente abafado, até que o relógio bate antes do refrão e se transforma em outra música trap-house.
Nesse álbum, o que não é derivado de “Work From Home” é derivado de outros artistas – a citada “He Like That”, por exemplo, evoca a Rihanna de cinco anos atrás. O resto, particularmente a guitarra ondulante, sugere uma versão de “Make Me” da Britney Spears sem o G-Eazy – uma ótima ideia, mas não aquela que faz sentido para o Fifth Harmony. Enquanto isso, “Deliver” consegue cortar a mesmice tropical de boa parte do repertório, fornecendo uma natureza vibrante e ritmos crocantes de R&B noventista. A atmosfera soulful é reforçada por linhas de piano, inflexões gospel e boas harmonias. Em contrapartida, “Don’t Say You Love Me” é uma balada vulnerável e minimalista que mostra mais dos seus talentos como vocalistas. O coração partido dessa música é provavelmente a melhor vitrine para os vocais, visto que é melancolicamente apoiada pela guitarra acústica. O trap-pop de “Angel”, produzido por Skrillex e Poo Bear, fornece fortes elementos de hip hop, linhas de baixo, sintetizadores e vocais distorcidos. As batidas de bateria espalhadas lentamente e se distorcendo em uma cacofonia são realmente promissoras.
É uma canção incrivelmente cativante e liricamente mais madura; aqui, elas falam sobre estar em um relacionamento com um parceiro inconveniente. “Quem disse que eu sou um anjo?”, elas perguntam repetidamente. Bem, ninguém disse, principalmente elas que, francamente, não falaram muito sobre nada nos últimos meses. Também vale a pena mencionar “Messy”, uma balada supostamente vulnerável com tons de R&B. “Eu posso ser um escândalo, falar demais / E em seguida chorar no chão do banheiro”, elas cantam no pré-refrão. “Messy” interpola distraidamente “It Wasn’t Me”, do Shaggy, que recebe créditos pela música. A última faixa, “Bridges”, é liricamente convincente, uma vez que possui boas referências líricas. Algumas linhas podem ser uma reação à saída da Camila Cabello: “Nós construímos pontes, não, não iremos nos separar”. Enquanto o final do refrão parece ser uma referência a política de imigração de Donald Trump: “Então, nós construímos pontes, pontes, não muros”. Com 10 faixas, “Fifth Harmony” não mostra qualquer crescimento.
Pelo contrário, é um álbum apagado, apressado e obsoleto. O pior é que o grupo é tão focado em músicas pop funcionais e gerenciadas que não permite que as quatro tenham alguma identidade artística. O Fifth Harmony é certamente capaz de fazer um trabalho auspicioso; “Reflection” (2015) é bom exemplo disso. Se a promessa excede a história iminente dos grupos femininos do passado, é outra questão. Em suma, o primeiro álbum desde a saída da Camila Cabello, tem uma produção sofisticada, embora um tanto indistinta. Apesar do quarteto não ser tão vanguardista quanto alguns de seus contemporâneos, fornece um R&B agradavelmente confiável e retrógrado, baseado na vibração dos anos 90 de artistas como TLC e En Vogue. No entanto, onde seus ídolos dos anos 90 exalavam personalidade e refrões que definiram uma era, Fifth Harmony é plano demais. Considerando o drama dos bastidores em torno do álbum, você esperava que “Fifth Harmony” fosse muito mais interessante e pessoal. No final, você fica com a sensação de que a Camila Cabello deixou o grupo no momento certo.