O sexto álbum de Taylor Swift é uma exibição rígida e concupiscente dos seus talentos.
Anos atrás uma adolescente da Pensilvânia partiu para Nashville, Tennessee, para seguir uma carreira na música country. Em 2006, ela chegou rapidamente à fama com o lançamento do seu primeiro álbum auto-intitulado. O sucesso da Taylor Swift gerou uma série de prêmios para si, incluindo surpreendentemente dois “Álbuns do Ano” na maior premiação da indústria. Há três anos, o mundo começou a ficar aos pés da Taylor Swift, graças ao lançamento do seu primeiro álbum inteiramente pop, “1989” (2014). O registro vendeu mais de 10 milhões de cópias no mundo todo e rendeu uma série de hits. Foi a partir daí que Swift deixou claro a sua vontade de abraçar a produção pop do Max Martin para poder competir com outras estrelas. Durante sua carreira, Swift assumiu um papel de vítima, mas essa versão de si mesma parece que ficou no passado. Em 2016, sua imagem de garota meiga e ingênua começou a desmoronar – ela desapareceu dos olhos do público por alguns meses e somente retornou em 2017 com “Look What You Made Me Do”. Ao longo do “reputation”, Swift reconhece o fato de que ela é a vilã da história. Ela está fria, vingativa e com uma imagem completamente diferente.
Mas independentemente de como você vê sua vida pessoal ou carreira, é difícil negar sua grande proeza para vendas. De alguma maneira, ela conseguiu convencer sua fã base a permanecer do seu lado, mesmo quando muda de estilo ou gênero musical. “…Ready for It?” foi melhor recebido do que o primeiro single enquanto “Gorgeous” e “Call It What You Want” parecem um retrocesso para a Taylor Swift mais doce e segura do passado. “reputation” é um álbum sombrio, complexo, impulsivo e tematicamente mais maduro. Com ajuda de Max Martin, Shellback e Jack Antonoff, é o tipo de material que prospera com o drama. Ele lida com sua reputação e a obsessão da mídia. Além disso, inevitavelmente abraça um estilo de produção mais voltada para o electropop, hip hop e trap. Aproximando-se dos 30 anos, Taylor Swift parece ansiosa para acabar com a imagem doce e inocente do passado. É bom vê-la expandindo seus horizontes, embora nem sempre faça isso de forma natural. A mulher que construiu sua carreira com canções românticas, como “Love Story”, “Fifteen” e “Mine”, agora está com o olhar sombrio, luxuoso e obsessivo. Seu interesse pelo hip hop e R&B é mais evidente em sua voz, um instrumento que perdeu sua expressividade característica.
Suas melhores performances ao longo do álbum são definidas pela cadência e ritmo, não pela melodia. Por muitos anos, quase todos concordaram com Taylor Swift. Ela era observadora e escreveu canções de amor requintadas em uma tenra idade. Ela ganhou tantos prêmios que foi ridicularizada pela cara de choque que fazia. Mas as coisas mudaram. A Taylor Swift que está diante de nós em 2017 é uma figura que luta contra problemas de relações públicas que ela em grande parte poderia ter evitado. Ela entrou em idas e vindas com Nicki Minaj e seu eterno inimigo Kanye West, quando o silêncio seria a melhor opção. Desde a primeira faixa, fica óbvio que Swift está na defensiva. “…Ready for It?” realmente nos prepara para o que está por vir. Após a grave linha de baixo, este banger fornece um alargamento eletrônico formado por elementos de hip hop, máquinas de ritmo e profundos sintetizadores. A produção parece fora de controle, mas as batidas pesadas, a natureza industrial e a vibração eletrônica nos levam para um pré-refrão brilhante. “E ele pode ser meu carcereiro, como Richard Burton para essa Taylor / Cada amante que tive é um erro perto dele”, ela canta na linha mais interessante. Obviamente, ela faz uma pequena referência ao amor entre Burton e Elizabeth Taylor.
Em seguida, ela surge ao lado do Future e Ed Sheeran na bizarra e igualmente atraente “End Game”. “Eu não quero te machucar, eu só quero estar bebendo em uma praia com você em cima de mim”, ela canta. É um electropop fortemente influenciada pelo R&B e hip hop com ingredientes essenciais para fazer sucesso no mainstream. Ademais, apresenta os principais temas do álbum: fama, drama, reputação e imagem. Mesmo que não haja uma música no álbum intitulada “reputation”, “End Game” faz o papel de apresentar o conceito por trás disso. Enquanto Swift é vocalmente consistente, Ed Sheeran parece totalmente avulso com o seu pseudo-rap. Em “I Did Something Bad”, ela reconhece sua reputação na indústria apresentando suas queixas contra a mídia e os críticos. O loop vocal “da-da-da-da” após o refrão é irresistível, ao passo que a profundidade das letras causam um leve choque. Apesar da linha – “eles estão queimando todas as bruxas, mesmo que você não seja uma” – ser um pouco inconveniente, Taylor parece estar falando diretamente com Kanye West, Kim Kardashian e até mesmo Calvin Harris. “Don’t Blame Me” é um synth-pop com algumas sugestões de gospel sobre um parceiro cujo amor era viciante e intenso.
Assim como “Clean”, Swift utiliza uma metáfora relacionada com drogas: “Senhor, salve-me, minha droga é meu amor”. A palavra “reputação”, e o melhor uso dela, aparece novamente em “Delicate”: “Minha reputação nunca esteve pior, então você deve gostar de mim por quem eu sou”. Ela mostra a parte excitante de estar entrando em um novo relacionamento. Aparentemente, é dedicada ao seu novo namorado, o ator Joe Alwyn. Apesar do filtro vocal, “Delicate” é o primeiro momento vulnerável do álbum, ao passo que consegue se distanciar da agressão eletrônica das primeiras faixas. Além da produção synth-pop, Swift faz uso de batidas de dancehall, relaxantes harmonias, pulsos abafados e um refrão sussurrante. Liricamente, é construída em torno de algumas perguntas. “Me desculpa, mas a antiga Taylor não pode atender o telefone agora / Por quê? Oh, porque ela está morta”, ela canta no primeiro single, “Look What You Made Me Do”. Ao colocarmos “Love Story” ao lado dessa música, podemos até pensar que são interpretadas por cantoras diferentes. Enquanto “Love Story” é um country pop açucarado inspirado por um romance Shakesperiano, “Look What You Made Me Do” é um electropop assustador.
As batidas são mais pesadas do que nunca – graças à produção de Jack Antonoff, que trabalhou recentemente no novo álbum da Lorde. Obviamente, é dirigida para os inimigos que Taylor Swift fez ao longo dos anos. Como o título sugere, ela tenta culpá-los, mas sem admitir os seus próprios erros. Enquanto nós testemunhamos uma Taylor Swift pura ao longo dos anos, parece que sempre houve uma pessoa sinistra por trás de sua fachada. Em “Look What You Made Me Do”, ela finalmente deixou o seu verdadeiro lado vir à tona enquanto é apoiada por uma produção dramática. Um piano assombroso e algumas cordas fornecem uma introdução gótica, antes que os vocais apareçam sob o ritmo da bateria e da pesada linha de baixo. Inicialmente, os dois primeiros versos seguem o mesmo padrão. A batida sincopada foi emprestada de “I’m Too Sexy” (Right Said Fred), que funciona de forma estranha e igualmente infecciosa. Não há dúvida que a música é extremamente repetitiva, principalmente o refrão. A maioria das palavras são cantadas na mesma nota, mas com sintetizadores criando uma grande tensão. Debaixo das letras, os sintetizadores e efeitos distorcidos provam que “Look What You Made Me Do” é a música mais obscura de sua carreira. O fato mais chocante sobre este novo single é a drástica mudança de imagem.
“So It Goes…”, por outro lado, é mais parecida com “I Did Something Bad” – uma típica canção electropop com pesados efeitos em seus vocais. É talvez uma das faixas mais sexy do repertório, uma vez que fala mais do que simplesmente se apaixonar: “Você sabe que eu não sou uma garota má / Mas eu faço coisas ruins com você”. Embora não seja um destaque, a produção e os fraseados melódicos são mais sombrios do que de costume. “Gorgeous” é o primeiro indicativo de que a “old Taylor” não está completamente morta – um electropop demasiadamente doce com letras joviais. Aqui, ela estende o elogio titular fazendo uma oração vibrante sob a melodia surpreendentemente cativante: “Mas o que eu posso dizer? / Você é maravilhoso”. “Getaway Car”, uma recauchutagem de “Out of the Woods”, possui muitas referências a cultura pop, incluindo o romance de Bonnie e Clyde. A primeira faixa co-escrita e produzida por Jack Antonoff, é quase uma crônica de amor e desgosto. Inicialmente, ela abre com um tom robotizado que diz: “Não, nada de bom começa em um carro de fuga”. Posteriormente, a música aborda um romance que estava condenado ao fracasso desde o início. É uma peça radiante que, em termos de som, é a coisa mais próxima do “1989” (2014).
Mais efeitos vocais e uma forte produção EDM voltam a aparecer em “King of My Heart” – uma canção sobre encontrar um amor que ela quer manter em segredo. Certamente, não é uma das faixas mais marcantes, mas se mostra cativante depois de repetidas escutas. Alguns elementos de percussão ajudam o refrão a se tornar maior do que realmente é. Por outro lado, é uma música sem rosto e com efeitos computadorizados que tiram os principais detalhes da sua voz. É justamente aqui que o álbum começa a sentir-se um pouco cansativo e longo demais. “Dancing with Our Hands Tied”, uma das faixas mais animadas, possui um ritmo mais rápido, batidas implacáveis e vocais em camadas. É um número uptempo com boas mudanças de ritmo tingidas de EDM. Liricamente, fala sobre se apaixonar em meio a escândalos envolvendo a mídia; um assunto interessante, mas já explorado outras vezes por ela. Em “Dress”, Taylor Swift muda de atitude mais uma vez e nos apresenta sua canção mais explicitamente sexual até o momento. “Eu só comprei esse vestido para que você pudesse tirá-lo / Grave seu nome na minha cama”, ela canta sensualmente. É uma música synth-pop sexy, ofegante e trêmula com tons e falsetes reminiscentes de “Wildest Dreams”.
Sem dúvida, é estruturalmente e liricamente diferente para os padrões puritanos da Taylor Swift. Ela construiu grande parte de sua carreira em torno de ser ingênua e inocente, então a imagem mais venenosamente matizada deste álbum é um pouco chocante. “This Is Why We Can’t Have Nice Things”, por exemplo, possui um tom sarcástico e explora novamente o feud com Kanye West e Kim Kardashian – desta vez falando sobre a conversa telefônica gravada e o drama que se desenrolou depois disso. É uma das faixas mais chatas do álbum, seja pelo som alto e barulhento ou pela fraca melodia. As batidas eletrônicas são muito previsíveis, por isso é tão difícil suportá-las. O último single promocional lançado antes do álbum, “Call It What You Want”, parece uma b-side do “1989” (2014) – embora sinta-se confortável dentro do “reputation”. Aparentemente, é outra ode dedicada para o seu novo namorado. Com um ritmo diferenciado e relaxante, Taylor fornece letras emocionalmente complexas e calmantes. Ela fala sobre como se apaixonou durante o último ano e encontrou um novo amor. O álbum fecha com “New Year’s Day”, uma balada de piano onde ela pinta uma imagem pós-festa de Ano Novo.
Há algumas belas harmonias aqui, além de simples cordas de violão ao fundo. Entretanto, não atinge a mesma profundidade emocional de obras como “All Too Well” e “Begin Again”. Por ser um epílogo acústico, não se encaixa tão bem num álbum construído principalmente em cima de sintetizadores. Provavelmente, ela ficaria melhor colocada se fosse creditada como faixa bônus. Para Swift, mergulhar de cabeça no pop significou deixar para trás as histórias do “Fearless” (2008) e “Speak Now” (2010) e confiar mais em detalhes e fragmentos vívidos. Ela se apoia em personagens, alguns antigos e outros novos. Você sai do álbum com uma nova apreciação por sua versatilidade, pela maneira como a intrigante “I Did Something Bad” e a apaixonada “King of My Heart” podem compartilhar a mesma tracklist. “reputation” não é o fracasso que parecia possível; está cheio de refrões à prova de balas. Mas, ao se comprometer com uma forma mais convencional da música pop, Swift desvalorizou suas habilidades. No geral, “reputation” não é tão consistente quanto o “1989” (2014). É certamente refrescante e mostra uma nova perspectiva da Taylor Swift. Mas, por outro lado, possui suas falhas e não tem a mesma coesão que ela apresentou no passado.