Em “Songs of Experience”, as melhores e piores músicas da banda neste século estão próximas umas das outras.
Lançado em 01 de dezembro, “Songs of Experience” é um complemento para o disco anterior do U2, “Songs of Innocence” (2014). Mas enquanto o antecessor explorou a adolescência da banda durante os anos 70, “Songs of Experience” é tematicamente uma coleção de cartas escritas pelo vocalista Bono Vox. Em comparação com o lançamento gratuito do “Songs of Innocence” (2014) na iTunes Store, a promoção deste novo álbum foi bem mais discreta. “Songs of Experience” foi divulgado de forma padrão sem qualquer truque ou grande jogada de marketing. U2 é um quarteto irlandês que sempre usou seu coração nos projetos que criou e possui uma carreira de quase 40 anos. Eles tinham uma forte seriedade na década de 80, que foi misturada com uma certa arrogância na década de 90 e esperança no começo dos anos 2000. Entretanto, a partir dessa última década os fãs e críticos tiveram problemas para lidar com o novo U2. Depois de terminar a extremamente bem sucedida “U2 360° Tour” em 2011 – que serviu para promover o álbum “No Line on the Horizon” (2009) – a banda teve dificuldades para se impor nos anos de 2010.
Musicalmente, a banda definitivamente precisa de inovação, mas com exceção das referências contemporâneas, eles parecem presos no passado. Embora esteja repleto de sinceridade e consciência social, “Songs of Experience” mostra que o U2 perdeu o senso de criatividade. Eles estão muito longe da banda que eram antigamente. Com 51 minutos de duração e treze faixas, o álbum sacrifica qualquer coesão sonora e trabalha em cima de ideias aleatórias. A seleção de produtores certamente não colaborou para criar algo coeso. Entre os nomes por trás dos bastidores, temos Ryan Tedder da banda OneRepublic, Paul Epworth, Danger Mouse e Jacknife Lee. O álbum começa de forma enganosamente promissora com a experimental “Love Is All We Have Left” e a excitante “Lights of Home”. Entretanto, para ser franco, a maior parte do registro soa inacabada. Dada a produção questionável, que inclui letras clichês sobre o atual clima político, isto não é surpreendente. Inspirada pelo recente contato do Bono com a mortalidade, “Lights of Home” fornece guitarras distorcidas do The Edge, fortes tambores do Larry Mullen Jr. e vocais de apoio do trio HAIM.
“Não deveria estar aqui porque eu deveria estar morto / Posso ver as luzes na minha frente / Eu acredito que os meus melhores dias estão à frente”, ele canta na introdução. Co-escrita por Alana Haim, Danielle Haim, Este Haim e Ariel Rechtshaid, “Lights of Home” é facilmente uma das melhores faixas do álbum. O primeiro single, “You’re the Best Thing About Me”, é um pop rock aparentemente inspirado pelo comentário que o jornalista irlandês Eamon Dunphy fez para o Bono (“a melhor coisa sobre você é sua esposa”). O refrão é adequadamente contagiante, entusiasmado e contém a vitalidade dos primeiros trabalhos da banda. Embora utilize uma fórmula previsível, poderia ser tocada ao lado de hits antigos como “Beautiful Day” e “Vertigo”. As letras de “Get Out of Your Own Way”, por sua vez, são dirigidas às filhas do Bono. Aqui, a banda tentou agitar as coisas com uma batida eletrônica e versos de Kendrick Lamar. Ela abre de forma misteriosa e posteriormente é acompanhada por guitarras acústicas. O refrão é simples e inspirador, e possui vocais de fundo com enorme sensibilidade pop.
Esta é a segunda vez que Kendrick Lamar e U2 trabalham juntos, uma vez que os irlandeses participaram do “DAMN.” (2017). As duas linhas iniciais do rapper durante “American Soul” fazem parte, na verdade, do final de “Get Out of Your Own Way”. Apesar de ser pouco convincente, possui guitarras distorcidas e tratamento de produção mais rígido. “Summer Love” tem um senso mais despreocupado, além de guitarras acústicas e vocais de apoio da Lady Gaga. “Red Flag Day”, por outro lado, é um número embaraçoso com elementos de reggae e letras sobre a crise dos refugiados. Enquanto isso, “The Showman (Little More Better)” fornece uma melodia pop acústica e animada. Desta vez, a banda foi auxiliada por seções de metais, mas não dá para negar que é constrangedora e inacabada. Um dos pouco destaques é “The Little Things That Give You Away” – onde o U2 finalmente tem total controle das letras. Uma canção igualmente discreta e emocional que surpreendentemente me fez recordar de álbuns como “The Unforgettable Fire” (1984) e “The Joshua Tree” (1987).
Enquanto “Landlady” possui uma bateria boring e faz um pedido de desculpas à esposa do Bono Vox, “The Blackout” é impulsionada por guitarras reminiscentes da era “Achtung Baby” (1991). Ela chama atenção justamente por causa das guitarras e o peso da percussão, uma vez que as letras são muito superficiais. O pulso eletrônico e o gancho melódico também podem despertar atenção por causa da sensibilidade pop. U2 encerra o disco com o clímax discreto de “13 (There Is a Light)”, enquanto liricamente pisa no mesmo terreno de “Song for Someone” – faixa do álbum anterior. Mesmo com a intenção de capturar o atual clima político, as letras do “Songs of Experience” são o seus maiores erros. É perceptível que a banda se esforçou para criar este LP, mas eles não tem nada de novo a dizer, além de reproduzir o discurso de outras pessoas. Não é um fracasso; o único problema é que a banda tentou dizer muito, mas acabou não dizendo nada relevante. O resultado final mostrou que a ambição do grupo não combina mais com sua capacidade artística. Dito isto, “Songs of Innocence” foi provavelmente o primeiro álbum do U2 que não obteve qualquer entusiasmo em cima do seu lançamento.