O MGMT está de volta às suas raízes – se “Little Dark Age” for um novo começo para eles, é um pontapé promissor.
Já se passaram dez anos desde que a banda MGMT lançou seu disco de estreia e músicas como “Time to Pretend”, “Electric Feel” e “Kids”. “Oracular Spectacular” (2007) ainda é um álbum popular que exibiu uma mistura de pop psicodélico e dance-rock. Parecendo um renascimento para a banda, o seu novo disco, “Little Dark Age”, transmite um excesso de confiança em seu som. Depois que lançaram seu primeiro LP, Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser divulgaram dois álbuns estranhos e confusos. Embora “Congratulations” (2010) e “MGMT” (2013) não sejam necessariamente ruins, pareciam dois potenciais perdidos. Por esse motivo, “Little Dark Age” soa como um retorno à forma. São 10 faixas comprimidas em 44 minutos, incluindo uma peça instrumental chamada “Days That Got Away”. Apesar de possuir algumas harmonias vocais e guitarras acústicas que remetem ao rock psicodélico da década de 60, “Little Dark Age” é fortemente inspirado pelos anos 80. As primeiras faixas, por exemplo, exploram o synth-pop e new wave juntamente com uma sagacidade lírica. Sua estética é despojada, meditativa, profunda e há uma variedade impressionante de melodias obscuras.
O indie rock mudou ao longo da última década, mas VanWyngarden e Goldwasser pareciam desinteressados em acompanhar. O seu espírito rapidamente mudou para sons maiores e mais ousados, e como CHVRCHES, Purity Ring e vários outras bandas surgiram com versões mais elegantes e comerciais de “Electric Feel”, MGMT teimosamente se voltou para um olhar psicodélico mais lanoso e ambíguo. A boa notícia é que “Little Dark Age” marca uma mudança bem-vinda. Boa parte do excesso dos dois últimos álbuns se foi. Eles trocaram as referências desgrenhadas dos anos 60 e os arranjos estofados por um pop relativamente simplificado. Dessa forma, redescobriram sua habilidade de compor e produzir. A corrente obscura que sempre permeou sua música ainda está aqui, mas as letras são mais focadas. A faixa de abertura, “She Works Out Too Much”, conta com a participação de Ariel Pink nos teclados e, consequentemente, sua influência por ser sentida. Depois de abrir com o pegajoso teclado, a canção define um tom predominantemente inspirado pela década de 80. No refrão, os teclados alcançam um tom mais alto antes de ser complementado por um solo de saxofone. “She Works Out Too Much” mostra o quanto a dupla evoluiu em um espaço de tempo relativamente curto.
Repleta de acordes jazzísticos e baixo funk, o MGMT está quase irreconhecível. Ostensivamente, é uma música sobre a fadiga dos aplicativos de namoro. A coisa toda é absurda e muito mais divertida do que poderíamos esperar. É também um bom termômetro para o que vem a seguir. O primeiro single, “Little Dark Age”, é um canto fúnebre que sinalizou um novo começo para o duo. É uma música synth-pop com sua própria reflexão sobre o desconforto dos nossos tempos. Sob um instrumental dramático conduzido por muitos sintetizadores e linhas de baixo quase góticas, MGMT canta letras como: “Atordoado com prazer, vendo o que está por vir / A imagem da morte, finais mortos na minha mente”. Liricamente, “Little Dark Age” fornece frases inteligente e igualmente sombrias. Os versos arrepiantes e os vocais se transformam numa reverberação fantasmagórica sob os teclados. Em “When You Die” – uma peça orgânica e deliciosamente distorcida – Ariel Pink foi convidado para tocar a guitarra. Enquanto grande parte do álbum é dominada pelo synth-pop oitentista, essa canção é mais voltada para a década de 70. Dessa vez, eles ponderam sobre o vazio (“É permanentemente noite e eu não vou sentir nada”) sob uma melodia alegre reminiscente do Metronomy. O contraste entre os impulsos suicidas da música e o clima animado é o que a torna tão envolvente.
“Eu não sentirei nada, todos estaremos rindo com você quando você morrer”, eles cantam de forma obscura. “Me and Michael” é uma carta de amor incrivelmente inspirada pelos anos 80. É uma canção preenchida pela nostalgia, sintetizadores cintilantes, tambores contundentes e brilhantes guitarras. Embora seja liricamente vaga, sugere que a banda está tentando lidar de forma sincera com seus sentimentos. A curiosamente intitulada “TSLA]MP”, sigla para “Time Spent Looking at My Phone”, satiriza a crescente dependência pela tecnologia e a forma como isso mudou a comunicação entre as pessoas. Sob uma mistura de batidas e teclados melancólicos, ela explora um romance não correspondido na era digital. “Tempo gasto sentado sozinho / Tempo gasto olhando meu telefone”, eles cantam expressando o desejo de escapar do vício tecnológico. Duas das melhores canções do álbum são as mais modestas: VanWyngarden abaixa sua voz para um barítono exagerado na melancólica “James”. Aparentemente, é dedicada ao membro de turnê da banda, James Richardson. É uma canção mais discreta, grave e misteriosa, com piano e letras reconfortantes. E “Days That Got Away”, o único instrumental do álbum, representa um experimento mental duvidoso. Outra canção oitentista com grande bateria, brilhantes sintetizadores e linhas de baixo.
É possivelmente a música mais direta do álbum, além de possuir uma energia surpreendentemente contagiante. Mas nem tudo é realmente necessário. “One Thing Left to Try” soa suspeitosamente parecida com o som da banda Empire of the Sun. Da mesma forma, o álbum provavelmente não precisa de duas músicas sobre os males da internet. Mas o deleite da dupla com o som em si costuma ser contagiante. O álbum é uma profusão de sintetizadores vintage e efeitos nostálgicos, e eles completam a fixação dos anos 80 com a quantidade certa de synth-pop. Mas embora as letras muitas vezes se desviem para o impenetrável, aqui VanWyngarden está mais focado, entrando em um clima sombrio e oportuno. “Little Dark Age” é um álbum sobre a dissolução de certezas. “Bem-vindo ao show de merda / Pegue um assento confortável”, ele canta na primeira música, praticamente resumindo a segunda metade da década atual. E é revelador que o refrão mais amigável do álbum é o empolgante “vá se foder!” de “When You Die”. Influenciada pelo rock psicodélico, “When You’re Small” é um grande aceno para os anos 70. Com um ritmo mais lento e paciente, as guitarras e os violões mantém sua estética sonora. Quando as cordas entram e permanecem no refrão final, elas injetam uma sensação sombria.
É a canção que mais nos faz lembrar do som anterior da banda, tanto que não soaria fora do lugar se estivesse presente no “Congratulations” (2010). A essa altura, MGMT provavelmente sabe sobre o medo de cair. O álbum encerra com a descontraída “Hand It Over” – embora não deixe uma impressão duradoura, contém batidas mais lentas e sintetizadores reluzentes. Como a canção homônima de “Congratulations”, é uma espécie de ajuste de contas com sua carreira, um número instantâneo e autoconsciente de todo o complicado negócio de fazer parte da banda MGMT. “Se perdermos nosso toque isso não significará muito”, VanWyngarden canta, como se reconhecesse qualquer fama que a indústria musical uma vez ofereceu. As harmonias reminiscentes dos Beach Boys e os metais do “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” (1967) são familiares – é a primeira vez no álbum que eles soam como o antigo MGMT, realmente. “A piada acabou”, ele canta no início da música e, mais tarde, “os espertos saem mais cedo”. É um longo caminho desde as fantasias de “Time to Pretend”. Em “Little Dark Age”, MGMT tentou amadurecer artisticamente. É como um recomeço para eles e uma porta para algo maior no futuro. Certamente, é o seu trabalho mais refinado e equilibrado desde o “Oracular Spectacular” (2007).