“The World Is Yours” é um álbum sem inspiração, com recursos que não agregam tanto valor quanto o esperado.
Dimitri Leslie Roger, mais conhecido por seu nome artístico Rich the Kid, é um rapper americano de Atlanta. Em 30 de março, ele lançou via Interscope Records o seu primeiro álbum de estúdio, intitulado “The World Is Yours”. O projeto conta com a participação de nomes conhecidos, como Kendrick Lamar, Lil Wayne, Khalid, Rick Ross, Swae Lee, Quavo e Offset. Para a produção, ele também recrutou produtores de alto perfil como Metro Boomin, WondaGurl, T-Minus e DJ Mustard. Com uma combinação de alguns dos melhores artistas e produtores, ele falou sobre o álbum com muita confiança. Se fosse para descrever o Rich the Kid, poderíamos dizer que ele parece um cruzamento entre A$AP Rocky e Lil Yachty. Ad-libs aparecem por todos os lados durante o repertório e a substância lírica é rara de se encontrar. Dinheiro, diamantes, fama e mulheres são temas recorrentes. Mas apesar deste fato, ele possui uma grande ambição e autoconfiança. Sem dúvida, os artistas convidados foram uma grande ajuda para o rapper, tanto que se destacam. Devido a profundidade lírica inexistente, a melhor coisa que encontramos no álbum são as batidas. Graças às batidas e instrumentais, as músicas possuem um maior valor de replay.
Felizmente, Rich the Kid permaneceu fiel ao seu nome e mixtapes do passado. A faixa-título, “World Is Yours”, soa como uma introdução adequada, à medida que as letras falam sobre ser um traficante que passou de falido para rico. Uma pesada e estrondosa batida dá o pontapé inicial. Rich the Kid oferece sua prudência na introdução sob uma produção misteriosa e mal-humorada. “New Freezer”, com Kendrick Lamar, parece estranhamente com “Gang Gucci” do Lil Pump. Um banger trap peculiar onde o rapper fala sobre carros e mulheres. Esta não é uma faixa com a qual você normalmente associa o Kendrick Lamar, mas ele traz sua própria abordagem e significado. Em “No Question”, Rich the Kid apresenta novas ad-libs e divertidas letras ao lado do Future. Liricamente, ele se vangloria de sua ascensão, enquanto Future aparece sobre auto-tune e outros efeitos sonoros. O segundo single, “Plug Walk”, foi a música do álbum mais bem colocada na Billboard Hot 100. Produzida por Lab Cook, foi divulgada inicialmente em 09 de fevereiro de 2018, enquanto o videoclipe foi posteriormente lançado em março. Ele apresenta Rich the Kid criando produtos químicos com um extraterrestre no meio do deserto.
Inesperadamente, ele resolveu canalizar o drama de uma das séries mais populares da televisão, “Breaking Bad” da AMC. No vídeo, ele chega até a recriar uma cena onde dois bandidos acabam invadindo o improvisado laboratório para aprender a fórmula. Mas Rich e seu companheiro Lil Mayo, o famoso alienígena das redes sociais, não estão no meio do deserto apenas para produzir metanfetamina. Em vez disso, eles se vestem como os personagens Walter White e Jesse Pinkman, com a finalidade de contar todo o seu dinheiro. O rapper de Queens, Nova York, percorreu um longo caminho desde que parou de invadir casas para roubar quando era adolescente. Depois de deixar a vida do crime para trás, ele passou a focar inteiramente na música. O produtor Lab Cook criou um cenário ideal para Rich the Kid apresentar um fluxo notável. Certamente, esta faixa possui os 808s e instrumental mais memoráveis que o rapper já colocou as mãos. Ele define uma vibração instantânea assim que pega o microfone. Eu nem acho que o Rich seja um rapper extraordinário, mas “Plug Walk” conseguiu se sobressair por causa da batida em si. Ele e Lab Cook realmente conseguiram criar um trabalho de produção que desafiadoramente exibe o seu talento como artista.
Sob a batida atmosférica, sintetizadores espaciais e um refrão contagiante, Rich the Kid ostenta todo o dinheiro que possui. Durante uma entrevista, ele revelou que originalmente gostaria que o Drake participasse da faixa, mas no final das contas isso nunca aconteceu. “Caminhada de um traficante / Eu não consigo entender o que caralhos meu traficante fala / Pego ele num conversível do espaço, eu não deixo meu traficante ficar a pé / Gatinha safada, eu tive que dar um pé na bunda da minha outra garota / Por 50 mil você pode colar e marcar um show para ajudar na caminhada de um traficante”, ele recita no refrão. Mas além do refrão viciante, a melhor coisa da música é a linha de sintetizador que se mantém constante por toda sua duração. Em “Too Gone”, Khalid soa cativante cantando o refrão com seus vocais robustos e distintos. Embora Rich the Kid não expresse nada liricamente significativo, seus tons também se destacam. Além disso, a batida de WondaGurl adicionou um efeito interessante à faixa. O verso de Jay Critch é o destaque de “Made It”, mesmo que Rich solte rimas ágeis que contrastam bem com o fluxo rouco do Rick Ross.
“Drippin” é facilmente uma das faixas mais infecciosas do álbum, desde a produção até os vocais do Chris Brown. Sexo domina as letras dessa canção, uma vez que ela está cheia de metáforas relacionadas a isso. Mas não é algo surpreendente considerando que é uma colaboração entre Rich the Kid e Chris Brown. Diferente da faixa anterior, o rapper luta para encontrar um lugar em “Lost It”. Mais parece uma música do Migos, visto que contém a presença de Quavo e Offset e está cheia de ad-libs de primeira linha. Em “End of Discussion”, é bom ouvir o Lil Wayne, mesmo que sua voz esteja um pouco estranha. Seu verso e agilidade são os maiores pontos de venda desta canção. Rich the Kid se esforça para descrever sua vida, mas é difícil prestar atenção ao seu última verso, uma vez que Lil Wayne rouba a cena. Soando mais focado em “Early Morning Trappin”, com o jovem Trippie Redd, seu segundo verso é um dos melhores do álbum. Um pouco peculiar, esta faixa possui uma produção inicialmente misteriosa. Uma vez que a produção se instala após o início enigmático, torna-se mais sólida e incorpora batidas de trap. Para auxiliar Rich the Kid, Trippie Redd aproxima seu verso melodicamente, mesmo que cheio de auto-tune.
Apesar de suas falhas, rimas clichês e peculiaridades, “Early Morning Trappin” é um banger atraente. Enquanto o refrão de “Small Things” casa perfeitamente com a batida, “Listen Up” fornece um som mais sombrio. “Gargoyle”, por sua vez, possui uma produção minimalista e refrão narcótico interpretado por Swae Lee. Lançada como terceiro single, “Dead Friends” possui excelentes batidas como cortesia do DJ Mustard. Esta canção tem um gancho feroz que envolve principalmente dinheiro, embora também faça referências às mulheres. Se você ouviu o refrão, basicamente já escutou a premissa inteira da música. Para o entretenimento, “Dead Friends” cumpre seu papel, mas do ponto de vista musical não abre novos caminhos para Rich the Kid. Confiança é uma coisa importante que todo artista deveria ter. No entanto, muitos vezes alguns rappers pecam pelo excesso e este é justamente o caso de Rich the Kid. Mesmo com ótimos recursos e batidas agradáveis, ele dificilmente se apresenta como um cara talentoso. As melhores coisas do álbum são as ad-libs viciantes, produção e a contribuição dos artistas convidados. Felizmente, o repertório possui alguns bangers legítimos que cativam com facilidade.