Apesar de ser um bom EP, “My Dear Melancholy,” não abre novos caminhos e parece um passo desnecessário para trás.
Abel Tesfaye, também conhecido como The Weeknd, é um dos artistas mais versáteis da atualidade. Mas muitos ficaram surpresos ao vê-lo mais apaixonado e emotivo no EP “My Dear Melancholy,”. Em vez de chamar o Daft Punk e o Max Martin para produzi-lo, Abel pediu ajuda para Frank Dukes, Skrillex, Mike WiLL Made-It e Gesaffelstein. Depois de outro término de namoro, desta vez com Selena Gomez, o obscuro The Weeknd resolveu colocar seus pensamentos no papel. Onde “Starboy” (2016) foi sobrecarregado pela produção, “My Dear Melancholy,” é honesto e confessional. Esse EP é um verdadeiro mergulho nas suas raízes sombrias de R&B. Sonoramente, é um projeto atmosférico com um ligeiro desvio dos seus hits pop. Liricamente, explora um novo território temático. Como o título sugere, as letras são pessimistas, amargas e provocam uma viagem mal-humorada. Todas as seis faixas lidam com o fim de algum romance, variando apenas na abordagem. Acho que a única coisa que me incomodou no EP foi sua repetição. Claro, “Starboy” (2016) é um disco pop e R&B com pouca substância lírica, mas com uma produção inegavelmente marcante. “My Dear Melancholy,”, por outro lado, peca pela mesma história e sonoridade o tempo todo.
Quando você ouve “Call Out My Name” pela primeira vez rapidamente percebe a semelhança com “Earned It” – os versos mais lentos e o refrão pesado praticamente replicam a estrutura da citada. Certamente, o andamento de “Call Out My Name” corresponde aos seus trabalhos anteriores, enquanto você sente a dor e escuridão em sua volta. Ela possui um gancho sensual e os mesmos sintetizadores sinistros do “Beauty Behind the Madness” (2015). Os ecos, acúmulos e clímax da batida exalam autenticidade. Liricamente, Weekend se concentra nas dores e lutas que surgem de um mau relacionamento. Há uma frase nessa canção que gerou bastante controvérsia na mídia, pois acredita-se que é referente à cirurgia de transplante de rim da Selena Gomez. “Eu disse que não sentia nada amor, mas eu menti / Quase cortei um pedaço de mim para a sua vida”, ele canta. Embora tenha sido a melhor amiga de Selena Gomez que tenha lhe doado um rim, a letra sugere que Weeknd quase fez a doação. A distorção climática é estabelecida particularmente pelo piano, sintetizadores e bateria. Depois de mostrar equilíbrio e contenção no primeiro verso, o refrão cresce ao incorporar alguns vocais distorcidos. Ele canta suavemente ao longo da música, conforme os sombrios riffs de piano batem de forma instável.
A construção dessa música e os vocais são dramáticos e obscuros, assim como todo o EP. Embora não seja uma canção inovadora, “Call Out My Name” o vê retornando às suas raízes. “Try Me” segue por uma narrativa que estamos acostumado a ouvir – Abel tenta convencer uma mulher a deixar seu namorado e voltar com ele. Produzida por Mike WiLL Made-It e Frank Dukes, essa música possui um tom horripilante. Até os vocais parecem soterrados na escuridão, tanto que lembram o “Kiss Land” (2013). Embora “Try Me” possua a mesma dinâmica de “Call Out My Name”, ela cresce de forma indefinida e não excede às expectativas. Em seguida, ele faz referências sutis às suas relações com Bella Hadid e Selena Gomez em “Wasted Time” – faixa que mantém o clima noturno do EP, mas incorporando elementos de dubstep. Ele admite que perdeu tempo com alguém, em vez de estar com a mulher que é apaixonado. “Tempos desperdiçados que eu gastei com outra pessoa / Ela não era nem metade de você”, ele canta no primeiro verso. É diferente e intrigante ouvir Abel cantar com tal remorso. Por não ser super-produzida, acabou sendo uma das melhores faixas do EP. As batidas incomuns continuam fluindo enquanto sua interpretação leva as coisas para uma atmosfera desorientada.
Nas próximas duas faixas, The Weeknd se junta com o francês Gesaffelstein, responsável por “Black Skinhead” e “Send It Up” do Kanye West. Na primeira delas, “I Was Never There”, os tambores estão lentos e ameaçadores, à medida que os vocais são autênticos e dramáticos. “O que faz um homem adulto querer chorar? / O que o faz querer tirar sua vida?”, ele pergunta. Tudo parece muito sincero e genuíno. Inicialmente, a faixa é dominada por uma sirene e, posteriormente, fornece sons texturizados, linhas de baixo, teclados e sintetizadores – inesperadamente, sua mixagem nos faz recordar de algumas faixas do “House of Balloons” (2011). Enquanto isso, a transição para a ponte conta com uma completa mudança de ritmo. Na cativante “Hurt You”, ele demonstra ainda mais suas habilidades de canto. O artista adverte uma mulher para manter distância, já que ele não está verdadeiramente apaixonado por ela. Ele começa dizendo que os relacionamentos são seus maiores inimigos: “E agora eu sei que relacionamento é meu inimigo / Então fique longe de mim, estou te avisando”. Embora as letras sejam tristes e inebriantes, “Hurt You” é a música mais agitada do EP.
O lirismo visual injeta uma sensação real de profundidade, conforme ele pratica o seu lado mais vulnerável. Enquanto o refrão é repetitivo e cantado em falsetes, sua produção se aproxima do “Starboy” (2016). Em “Privilege”, a música mais despojada do repertório, The Weeknd faz referências às drogas e bebidas. “Mas eu vou beber a dor, vou voltar aos meus velhos hábitos / E eu tenho duas pílulas vermelhas para afastar as azuis”, ele canta. Uma canção elegante construída de forma dramática, onde sua voz e o piano são os principais focos. Entretanto, a maneira como a instrumentação foi mixada, tornou o minuto final muito estranho e vazio. Ao contrário do “Starboy” (2016), “My Dear Melancholy,” não é composto por uma ampla paleta de sons e estilos. Musicalmente, é um material mais coeso – há vulnerabilidade e sinceridade, ao passo que ele ele sai do centro das atenções e revela histórias verdadeiramente pessoais. Mas embora possa ser considerado um retorno ao seu antigo estilo, não é comparável aos misteriosos “House of Balloons” (2011) e “Echoes of Silence” (2011). Ironicamente, “My Dear Melancholy,” é provavelmente o seu registro menos ambicioso. Aliás, a vírgula no final do título sugere que uma segunda parte pode ser lançada em breve.