“beerbongs & bentleys” possui números cativantes, mas no geral é embalado por um repertório repetitivo e sem inspiração.
Post Malone é um daqueles artistas que parecem ter surgido do nada e ganhado muitos seguidores de repente. Seu primeiro álbum, “Stoney” (2016), colocou sua voz grave sobre muitas batidas de trap. Possui algumas faixas cativantes, mas a grande maioria é boring e sem inspiração. Atualmente, é quase impossível não saber quem é o Post Malone. Ele é um dos rappers mais bem sucedidos do momento. Em seu novo álbum, “beerbongs & bentleys”, Malone refinou o seu som. Sua voz melódica inspirada pelo R&B permanece inalterada e na parte é usada apropriadamente. Há momentos sombrios e de auto piedade no repertório, com uma discussão desconcertante sobre o materialismo. Dessa vez, Malone fala sobre a vida luxuosa dos rappers, depressão, fama, desgostos amorosos e paranoias. No interior do álbum encontramos tendências pop, alguns números acústicos e bastante auto-tune. O jovem de 22 anos manteve uma vibração melancólica e acrescentou um hype extra às faixas. Há uma certa experimentação ao longo do repertório sobre sintetizadores e batidas de trap. Ademais, não dá para negar que este álbum já é um grande sucesso comercial. No entanto, além dos hits que conhecemos, “beerbongs & bentleys” deixa muito a desejar. Eu particularmente estava esperando algo mais excitante.
Uma das maiores desvantagens do álbum é sua repetitividade. Post Malone não é um letrista forte e geralmente é a produção que dá força às suas músicas. Porém, os padrões de baixo e bateria são praticamente idênticos na maioria das faixas, consequentemente preenchem o álbum com muitas pistas de enchimento. O streaming faz com que o tamanho dos discos pareça obsoleto. Dito isto, “beerbongs & bentleys” é completamente contemporâneo, uma vez que suas dezoito faixas causam uma sensação de cansaço. Suas canções são tão homogêneas e repetitivas que dão impressão que o álbum não tem fim. Quando uma música termina, outra começa e os mesmos acordes, tons, melodias e auto-tune aparecem. Instantaneamente, o registro parece preso num ciclo vicioso. Ele começa com uma canção melancólica chamada “Paranoid”, semelhante a primeira faixa do “Stoney” (2016). É um começo relativamente suave para o repertório, enquanto a batida atmosférica flui sob sua voz grave. “Às vezes sinto que não tenho amigos”, ele canta aqui. Post Malone fala sobre sua luta contra a depressão, ansiedade e o quanto é paranoico. Tudo isso se traduz em “Spoil My Night”, a segunda faixa em colaboração com Swae Lee. Possui um gancho cativante e algumas linhas engraçadas, mas é uma parceria abaixo do esperado.
É uma música desinteressante com linhas chatas, natureza lúdica e conotações de R&B. Embora seja alta e possua rápidas batidas, as letras de “Rich & Sad” são tristes e falam sobre jogar tudo para o alto por alguém que ama. É provavelmente a canção mais consistente do repertório. A quarta faixa, “Zack and Codeine”, é uma das que mais animou os fãs antes do lançamento. Ela faz referência direta à série “Zack e Cody: Gêmeos a Bordo” e cria um grande senso de nostalgia para a Geração Z. “Todos esses rappers soam iguais agora / Dizendo que sou o culpado, você não me vê? / Na TV / Multimilionário no momento em que eu estou com 23”, ele diz. Apesar de se auto engrandecer, essa afirmação poderia ser direcionada para si mesmo, uma vez que seu estilo atingiu um grande nível de saturação. De tudo o que Post Malone fala neste álbum, esta é a linha que mais chama a atenção. Pois mostra exatamente o porquê ele é uma das figuras mais decepcionantes do hip hop atual. Enquanto “Takin’ Shots” é igualmente melódica e cheia de auto-tune, ela carrega um ritmo mais rápido. Inicialmente, o álbum foi ancorado pelo smash-hit “rockstar”, com participação de 21 Savage. É uma canção onipresente de hip hop que parece congruente com o contexto do álbum, apesar de ter sido lançada em setembro de 2017.
Sua batida é eletrônica, sombria e narcótica, e gira perfeitamente em cima dos vocais melancólicos. É uma música escura e ameaçadora com letras que falam sobre fama e fortuna. “rockstar” é a peça central do “beerbongs & bentleys” e ostenta as vibrações mais temperamentais do repertório. Post Malone se apresenta com seu estilo pop-rap e rimas amanteigadas, ao passo que 21 Savage oferece um bom contraste com o seu estilo emocional. Outra faixa inegavelmente potente é “Over Now”, principalmente porque fornece um novo tipo de vibração. Embora o clima ainda seja triste, é uma canção hipnotizante e extremamente poderosa. Suas guitarras são agressivas, rítmicas e alimentam os vocais do Post Malone. O refrão certamente faz jus à agressividade das guitarras, assim como as letras perturbadoras. “Só para te mostrar que acabou, não importa o que você diga sobre isso / Eu vou colocar essa bucetinha em um saco de cadáver / Então você sabe que nunca mais vou voltar”, ele canta. “Psycho”, por sua vez, foi lançada em 23 de fevereiro de 2018 e conta com a presença de Ty Dolla $ign. Basicamente, “Psycho” parece uma continuação melódica de “White Iverson”. Embora não seja inovadora, é uma canção descontraída e extremamente infecciosa.
A batida trap é muito básica, acessível e sem inspiração, mas possui a qualidade cativante que está presente na maior parte do seu catálogo. Onde “rockstar” celebra as circunstâncias associadas à fama, “Psycho” soa mais sincera. Apesar do título sombrio e capa assustadora, é uma canção gentil se comparada com “rockstar”. “Não se pode confiar em ninguém com todas essas joias em você / Meu carro não tem teto, tenho diamantes que podem encher um barco”, ele canta ao gabar de sua riqueza. O lirismo é um pouco repetitivo e definitivamente não possui qualquer substância. O verso do Ty Dolla $ign, por exemplo, parece que foi escrito em menos de 5 minutos. De qualquer forma, ele não influencia à música, seja para melhor ou pior. Sonoramente, “Psycho” compartilha algumas semelhanças com a melodia de “rockstar”. Certamente, a melodia está no ponto, por isso não é surpreendente o sucesso adquirido. Uma das coisas mais atraentes sobre a música é a sua vibração gelada e descontraída, mesmo a batida sendo tão básica. Depois de ser introduzida por acordes de guitarra, “Psycho” apresenta sintetizadores macios, batidas de tambor e uma voz incrivelmente relaxante. O refrão é cativante, suave e possui um tom rítmico que gruda facilmente na cabeça.
Mas embora seja decente e possua melodias extremamente efetivas, “Psycho” não esconde as falhas e limitações de sua escrita. Muitas músicas do “beerbongs & bentleys” lidam com sintetizadores ondulados, mas algumas faixas mostram um apetite por experimentação. Em “Better Now”, por exemplo, Malone deixou de lado as melodias frágeis a fim de oferecer algo mais agressivo. Embalado por linhas de guitarra e batidas de tambor, ele canta: “Não importa como minha vida tenha mudado / Eu continuo olhando para os dias melhores”. Ele é um cara que se baseia fortemente no rap melódico, algo visto principalmente nos dois primeiros singles. Além das nuances ocasionais em seu fluxo e tom, suas letras não evocam sentimentos profundos. No decorrer do “beerbongs & bentleys” suas palavras se tornam cada vez mais redundantes. É um registro que idolatra a riqueza como uma falha, colocando o dinheiro como algo para sua autoestima e empatia. Ao descrever uma situação difícil com alguém querido em “Better Now”, Post Malone só pensa em consertar as coisas usando o dinheiro. Enquanto relembra de um relacionamento do passado, ele descreve as mesmas opiniões sobre sua ex-namorada. “Você provavelmente acha que está melhor agora, melhor agora / Você só diz isso porque eu não estou por perto, não por perto”, ele canta contundente.
Sonoramente, é uma canção que causa fortes impressões, principalmente por causa do refrão. As batidas se recusam a desacelerar e prendem sua atenção até o fim. Certamente, seus melhores vocais estão em “Better Now”. O ritmo mais rápido e sensação rock a diferencia dos dois primeiros singles. Mas infelizmente as letras falham ao tentar refletir seus sentimentos. “Better Now” pode ser uma canção desenfreada e radio-friendly, mas não soa genuína como poderíamos esperar. Lançada como quarto single, “Ball for Me” foi produzida por Louis Bell e conta com a participação da Nicki Minaj. Honestamente, não é uma das minhas faixas favoritas do álbum. Ironicamente, Minaj é o melhor recurso da música, tanto que é admirável a forma como ela pode fazer rap e cantar sem perder o passo. Totalmente voltada para o público mainstream, “Ball for Me” contém uma produção infecciosa e polida. Construída principalmente em cima do sintetizador cintilante, é uma canção pulsante e vocalmente energética. A batida é inadequada, mas consegue distrair o ouvinte. Entretanto, segue com o fluxo usual do Post Malone e carece de uma produção mais elaborada. O contraste entre as letras rudes e a vulnerabilidade vocal é interessante, porém, ele peca por não conseguir evocar profundidade. Malone parece no piloto automático e não se preocupa em criar qualquer dinâmica.
Tudo é sobre ostentação e dinheiro. O mesmo pode ser dito do refrão, visto que também é liricamente vazio. Não há dúvidas de que o verso da Nicki Minaj é bem melhor, uma vez que ela entrega linhas mais rígidas sobre a batida melódica. “Ball for Me” é o típico de música que carece de profundidade, mas está em alta no hip-hop de hoje. Uma canção com prazo de validade feita apenas com o intuito de preencher playlists nas plataformas de streaming. Enquanto vibrações alternativas estão presentes em “Otherside”, “Stay” é uma balada acústica que mostra um lado diferente do Post Malone. Os acordes de guitarra e a progressão harmônica são interessantes, mas a voz permanece cheia de auto-tune. Assim como boa parte do álbum, “Blame It on Me” também possui um perfil sombrio com um pouco de agressividade na mistura. Carregada principalmente pela percussão em vez das guitarras, esta faixa mostra suas lutas para manter o equilíbrio. Os vocais harmonizados produzem um toque agradável no pré-refrão e refrão. Enquanto “Same Bitches” é uma colaboração de peso com outros rappers, tais como G-Eazy e YG, “Jones Town” é um interlúdio obscuro com grande significado por trás.
As letras e o título fazem referências ao massacre de Jonestown em 1978, onde um líder de culto convenceu e forçou mais de 900 americanos a beber veneno. Post Malone relaciona isso com seus vícios de drogas e problemas com álcool. As três próximas faixas, “92 Explorer”, “Candy Paint” e “Sugar Wraith”, são liricamente parecidas e encerram o álbum de forma incoerente. “Candy Paint” foi originalmente lançada em 2017 como parte da trilha sonora do filme “Velozes e Furiosos 8”. “Sugar Wraith”, por sua vez, fornece momentos questionáveis sobre a cultura pop. Ela possui sample de “Fly” da banda Sugar Ray e faz piadas internas que parecem mais alinhadas com “White Iverson”. “beerbongs & bentleys” é um álbum de pop-rap, hip hop e R&B repleto de hits em potencial. Há muitos ganchos cativantes no seu interior que conseguem capturar a atenção do ouvinte. Em comparação com o seu álbum de estreia, é uma grande melhoria. Afinal, possui faixas mais consistentes e melhores vocais. O grande problema é que, salvo alguns momentos, a maior parte do repertório carece de profundidade e variedade. Ao longo de 64 minutos de duração, temos uma grande repetição temática, lírica e sonora. Como um todo, é um registro divertido. Porém, peca pelo lirismo ruim e repetitividade musical.