Em 1999, Elza Soares foi nomeada a cantora brasileira do milênio pela BBC Radio – um título que não foi dado à toa. Ela é uma lenda do samba e, mesmo com 81 anos de idade, ainda possui uma voz imaculada. No álbum “A Mulher do Fim do Mundo” (2016), ela se reinventou e entregou um dos melhores discos da sua carreira. Neste projeto, ela viajou por ruídos angustiantes e ritmos afro-brasileiros, além de ser surpreendentemente influenciada pelo punk rock. Um disco socialmente engajado conduzido por uma instrumentação experimental. Depois do enorme sucesso crítico de “A Mulher do Fim do Mundo” (2015), Elza Soares retornou em 2018 com um novo disco. “Deus é Mulher” (2018) exalta com propriedade o poder feminino. Como a própria disse, esse “novo trabalho sugere o nascimento de uma nova era, conduzida pela energia feminina”.
Provavelmente, a faixa de maior destaque é “Banho”. Escrita por Tulipa Ruiz, possui uma atitude poderosa e vocais surpreendentes. A diva brasileira foi acompanhada pela explosiva percussão do Ilu Obá de Min, um coletivo paulista formado apenas por mulheres negras. Foi a escolha perfeita, uma vez que todas as músicas do álbum celebram o poder feminino. Mesmo aos 81 anos, Elza não tem medo de falar sobre sexo e orgasmo. “Misturo sólidos com os meus líquidos / Dissolvo pranto com a minha baba / Quando tá seco logo umedeço / Eu não obedeço porque sou molhada”, ela canta. Aqui temos uma música explícita e vulnerável, e uma Elza Soares sofisticada e raivosa. “Enxáguo a nascente e lavo a porra toda / Pra maresia combinar com o meu rio, viu / Minha lagoa engolindo a sua boca / Eu vou pingar em quem até já me cuspiu, viu”, ela canta sob o cativante coral feminino. Enquanto isso, ao lado da percussão estrondosa, a linha de guitarra permanece refinada e os sintetizadores arrebatadores. É incrível como Elza Soares continua evoluindo mesmo depois de décadas.