Com esse álbum, Jared Higgins silenciou as críticas que afirmam que nenhum desses jovens rappers podem realmente fazer rap.
Jared Higgins, o rapper de Chicago de 19 anos de idade, comumente conhecido como Juice WRLD, conseguiu rapidamente um número considerável de seguidores através do SoundCloud, assim como a maioria dos rappers de hoje em dia. Em 2017, o lançamento de dois singles de sucesso, “All Girls are the Same” e “Lucid Dreams”, ajudou na construção de sua marca. O seu primeiro EP rendeu-lhe alguns elogios e precedeu o lançamento do seu primeiro álbum de estúdio, intitulado “Goodbye & Good Riddance”. Em um cenário pós “808s & Heartbreak” (2008) e “Man on the Moon: The End of Day” (2009), os artistas estão se tornando cada vez mais alternativos e pouco convencionais. Portanto, não culpo aqueles que dizem que o hip-hop nunca foi tão diversificado como é agora. Claro, existem artistas que soam parecidos e estão seguindo as mesmas tendências. Mas há pessoas promissoras como o próprio Juice WRLD. E, de todas maneiras imagináveis, ele está desafiando características convencionais do hip hop. Além disso, a ascensão de artistas como Lil Uzi Vert, Lil Xan e XXXTentacion criou uma base perfeita para o Juice WRLD. Emo rap está no seu auge, e Jared Higgins encontrou um meio onde ele pode colocar seus sentimentos em plena exibição.
Esse projeto de quinze faixas funciona como uma coleção cheia de desilusões do Post Malone misturado com a personalidade do Lil Yachty. No entanto, na maior parte, este álbum também cai nas tendências de emo rap. Sim, esse parágrafo por si só provavelmente fará os fãs de hip-hop tradicional cair em prantos. Apesar disso, eu meio que cavei a abordagem emo e psicodélica do Juice WRLD. A produção do “Goodbye & Good Riddance” possui uma ampla variedade de estilos e texturas, algo que está completamente ausente em outros rappers do mesmo nicho. Cada batida flui muito bem e traz consigo um design geral do projeto, seja o sintetizador de “Lucid Dreams”, as batidas de “All Girls are the Same” ou o riff de guitarra de “Lean Wit Me”. Além do hip hop, o rap e o trap, Higgins explora uma variedade de diferentes sons, seja flertando com a música psicodélica, o rock alternativo dos anos 90 ou pós-punk moderno. Ao contrário de alguns de seus colegas contemporâneos, o produtor Nick Mira reuniu grandes pensamentos em cada som e criou uma base sólida para suas músicas. Claro, Higgins possui muitas falhas líricas, como na banal “Hurt Me”, onde ele canta: “Paus e pedras podem quebrar meus ossos / Mas as drogas não vão me machucar”. Mas sua entrega apaixonada cria uma sensação de trauma real em quase todo o repertório.
Em um mundo onde a maioria dos álbuns de rap fala sobre dinheiro, estilo de vida agitado e mulheres, Higgins faz exatamente o oposto. Músicas como “Long Gone” e “End of the Road” são legitimamente tristes e deprimentes. Suas letras são verdadeiramente tristes e hipnotizantes. Higgins vai muito além de sua idade e faz as pessoas entenderem as emoções sombrias que ele sentiu após um término de namoro. Ao invés de glorificar seu estilo de vida luxuoso, ele captura os ouvintes com uma crueza e raiva reprimida. “Goodbye & Good Riddance” é uma ode ao amor não correspondido e ao vício em drogas. É uma jornada vulnerável e intoxicante que explora o desgosto tanto quanto dele se deleita. Suas músicas realmente captam a solidão de uma forma melódica e cativante. Às vezes, algumas de suas cadências me lembram as do Lil Uzi Vert. Outras vezes, ele grita alto como um Trippie Redd. Mas nunca há confusão sobre de quem é essa voz, pois Juice realmente possui um estilo próprio. A estética do “Goodbye & Good Riddance” consiste em batidas distorcidas e instrumentação sonhadora – uma característica do universo do SoundCloud. No entanto, raramente essas batidas parecem genéricas. Os riffs de guitarra alteram a vibração e fornecem uma atmosfera mais carregada e excêntrica.
Mas embora este álbum seja uma experiência auditiva inebriante, é realmente perturbador às vezes. Há tanta auto aversão, para não mencionar sua obsessão por qualquer droga que ele possa colocar suas mãos. Isso vale para quando ele está feliz ou triste, ou seja, independentemente do seu estado emocional. Enquanto eu admiro o estilo emo do Juice, ele se assemelha ao Lil Peep de várias maneiras – e isso é um pouco inquietante. Assim como o Peep, ele fala sobre desgosto e a necessidade de se automedicar com todos os tipos de drogas. Ele faz inúmeras referências – diretas e indiretas – à morte, e assim como Peep, está ciente das consequências. Dito isto, não dá para negar que este álbum é extremamente sombrio e obscuro. É um projeto impressionante de um artista emergente. O emo-rap é frequentemente ridicularizado e criticamente desacreditado. Mas álbuns como o “Goodbye & Good Riddance” brilham através de sua produção e conseguem passar outra imagem desse gênero em ascensão. Mais do que nunca, o rap parece ter evoluído para um gênero com uma ampla variedade – em questão de som, estilo e abordagem. Este é um ponto especialmente proeminente – depois do surgimento de jovens artistas como Juice WRLD, Lil Yachty, Lil Uzi Vert, Lil Pump, Lil Peep, Lil Xan e XXXTentacion.
Há muito a ser dito sobre este projeto – uma coleção cativante com batidas atmosféricas e letras profundas sobre o amor e o vício em drogas. “Goodbye & Good Riddance” ilustra os sentimentos que surgem depois do fim de um relacionamento. Com três interlúdios, o ouvinte começa a experimentar em primeira mão como o Juice WRLD lida com tal montanha-russa. “All Girls Are the Same” é uma das melhores demonstrações do seu talento – uma canção decente que permanece dentro do tema pré-estabelecido por Jared Higgins. Na superfície, este single pode parecer um estereotipo do rap. Mas a vulnerabilidade das letras e a tristeza causada por repetidas decepções, fazem dela algo especial. “Elas estão fodendo meu cérebro”, ele diz na primeira linha. O lirismo é simples, mas todo o conjunto é nada menos do que cativante. Juice WRLD permanece honesto e verdadeiro, enquanto coloca suas emoções para fora através de sua voz. Nas mãos de outro rapper, “All Girls Are the Same” poderia parecer repetitiva, mas Juice constrói uma dinâmica para não cansar o ouvinte. Ele possui ganchos tão pegajosos quanto o Lil Uzi Vert, e um som mais polido do que as influências punk rock do saudoso Lil Peep.
A mistura de letras depressivas, vício de álcool e batidas atmosféricas, fazem desta faixa uma verdadeira demonstração do emo rap. A melodia entorpecente, os sintetizadores, as batidas de tambor e o fluxo experimental guiam a música de uma forma muito viciante. “Lucid Dreams”, por sua vez, mostra Juice WRLD utilizando ganchos melódicos que elevam as batidas de hip hop sem sacrificar suas raízes. Essa canção descreve que a dor mental do rapper surgiu após um rompimento amoroso. Nas primeiras linhas, ele fala sobre a depressão que enfrentou após o término. E a partir daí as coisas ficam cada vez mais tristes. Enquanto as letras costumam referenciar temas comuns, ele consegue fazer uma reviravolta significativa. A vibração dos vocais oscila um pouco, mas eu gosto da maneira como ele interpreta as coisas. Um dos maiores pontos de venda de “Lucid Dreams” é o conhecido riff de “Shape of My Heart” (Sting) que aparece por toda sua extensão. Sua entrega vocal possui um certo charme e cadência enquanto a fusão entre o emo e o hip-hop casou perfeitamente. O terceiro single, “Lean Wit Me”, possui um tema melancólico e o encontra falando sobre sua luta contra o vício e os efeitos que isso tem em sua vida. As amostras de guitarra criam ondas suaves e uma boa experiência auditiva.
Faixas como essa mostram as dificuldades iniciais de seguir em frente, enquanto os vocais percorrem sombrias teclas de piano e as letras representam sua tentativa de equilibrar ruminações entre o passado, presente e futuro. Na teimosa “I’m Still”, nós observamos o rapper dando lugar às várias formas de negação, usando mecanismos de enfrentamento para suplicar a dor evidentemente sentida na cadência de sua voz. “Used To” possui talvez o refrão mais decisivo e conceitual do repertório, pois aborda sentimentos que ele tem introspectivamente. A faixa de encerramento, “I’ll Be Fine”, parece muito mais expandida e distinta se colocada do lado de suas contrapartes tristes. Ela concentra-se nos arredores do Juice WRLD e em seus próprios desafios internos. Com este álbum, pode-se dizer que ele silenciou as críticas que afirmaram que nenhum desses jovens rappers podem realmente fazer rap. Ao todo, à medida que o álbum chega ao fim, tanto a produção quanto o lirismo crescem a partir de uma perspectiva melancólica e se transforma em algo mais ensolarado. Jared Higgins e seus produtores poderiam ter aperfeiçoado a mixagem, porque algumas músicas soam estranhamente mais altas do que outras. No entanto, além de algumas esquetes desnecessárias, este projeto o solidifica como um artista apaixonado que carrega um certo potencial.