Embora seja tão incoerente quanto o título sugere, é uma adição bem-vinda para o catálogo de A$AP Rocky.
A$AP Rocky disse em entrevistas que escolheu “TESTING” como título do álbum, porque estava testando novos sons. Entretanto, o teste não foi perfeito – tem momentos que encantam e outros em que Rocky não capta o que está experimentando – mas o risco é admirável. “TESTING” pode não ser tão inovador, mas é um álbum que me lembra o “808s & Heartbreak” (2008) do Kanye West por causa do risco. Naquela época, Kanye teve uma visão além de sua zona de conforto, e muitos fãs foram incompreensíveis. Mas o rapper nunca olhou para trás, e agora o “808s & Heartbreak” (2008) é um clássico e um dos discos mais influentes da memória recente. Quanto ao “TESTING”, Rocky realmente está “testando” o público e ultrapassando seus limites. Este é de longe o seu registro mais experimental e reflexivo, embora não possua o impacto de faixas como “Fuckin’ Problems”. É um álbum estruturado como qualquer outro lançamento de rap, mas que se desvia dos problemas que assolam a maioria de seus colegas. Está repleto de ideias no decorrer de quinze faixas, mas alguns momentos são desperdiçados por tamanha ambição. Possui uma lista de artistas e produtores de cair o queixo, porém, falta coesão e clareza em vários pontos.
Boa parte do repertório tem uma sensação psicodélica, algo novo para o rap contemporâneo. Ademais, parece ser inspirado musicalmente pelo rock-psicodélico que se tornou popular no final dos anos 60. “TESTING” mostra o quão talentoso A$AP Rocky pode ser liricamente e musicalmente. Os vocais com mudanças de tom e os elementos de trip hop industrializados foram construídos por influências externas. Casando batidas de trap com linhas de sintetizador vintage, o álbum possui um igual senso de vitória e melancolia. A primeira faixa, “Distorted Records”, contém acordes hipnóticos, um baixo distorcido e letras arrogantes. Sua produção agressiva estabelece o cenário para o “TESTING”, mas não é o indicativo de como o restante do álbum soa. Embora desprovida de um comprimento estruturado, é uma ótima faixa de abertura. Na teoria, “A$AP Forever” parece uma música improvável, pois é uma colaboração com o DJ Moby. Aqui, o rapper combinou uma produção incrivelmente exuberante com delicados sintetizadores. De forma sublime, ele apresenta uma extensa amostra de “Porcelain” do Moby, com loops de cordas melancólicas e uma excelente bateria. “A$AP Forever” está entre as coisas mais experimentais que o A$AP Rocky já criou.
Ele soa mais energizado do que de costume, enquanto homenageia sua equipe e fala sobre grifes de moda. A contribuição vocal do Moby é muito breve, porém, adiciona uma textura extra. Certamente, as cordas e batidas de tambor dominam a produção desde o começo. Embora a letra não seja memorável ou profunda, o fluxo é consistente e consegue prender sua atenção desde o início. Durante a ponte, algo inesperado acontece. O ritmo é alterado drasticamente, enquanto Moby e a cantora Khloe Anna assumem os vocais. É um momento brilhante e de pura lucidez, onde um piano melódico contribui positivamente. Curiosamente, o álbum possui um remix com a participação do T.I. e Kid Cudi. “Tony Tone” é sábio em termos de produção e se beneficia de um refrão infeccioso. O caos que acontece durante os 3 minutos de duração é vertiginoso, mas de uma maneira favorável. Rocky harmoniza com os instrumentais, especificamente quando canta: “Apedrejado quando estou na minha zona / fumando no local, sentindo que estou sozinho”. O som é da Costa Leste – com uma programação empoeirada e rimas old school. A bateria contundente, a guitarra e as arrogantes palavras do Diddy deixam a música ameaçadora.
Faixas como “Fukk Sleep”, com FKA twigs, equilibra o seu lado pop e psicodélico. Sua produção lo-fi tem uma base reconfortante e algumas vibrações hipnóticas da FKA twigs. É discreta e um pouco estranha, mas uma das faixas mais interessantes do álbum. Algumas músicas assumem uma postura oposta e se concentram em seus recursos. Da batida às gírias do Skepta, “Praise the Lord (Da Shine)” é uma canção bem mundana. Os instrumentos de percussão e os sintetizadores flutuantes são fortalecidos pelo gancho do Skepta. Além de entregar a maior conquista da música, ele também recebe seu próprio verso. Mas para um projeto que apresenta boas ideias em termos de produção, “Praise the Lord (Da Shine)” parece muito derivada de outras músicas de trap que usam flauta como arranjo de fundo. Apesar da presença problemática do Kodak Black, “CALLDROPS” é uma música frágil com um violão minimalista retirado de “Morning Sun” (Dave Bixby). Embora as primeiras faixas tenham suas peculiaridades, elas não são tão bizarras quanto “CALLDROPS”. O verso do Kodak Black, gravado através de um telefonema, não produz qualquer efeito duradouro. A batida apropriadamente arredondada de “Buck Shots”, com os protegidos Playboi Carti e Smooky MarGielaa, é pronta para o rádio.
Dessa vez, A$AP Rocky experimenta um som estereofônico inspirado nos anos 60. Sem muitas letras, os rappers utilizam suas proezas para criar um conceito interessante. É cativante e o PlayboiCarti complementou perfeitamente a voz do Rocky. “Gunz n Butter”, que brilhantemente usa sample de “Street Type Niggaz” (Tommy Wright III) e “Still Ridin Clean” (Project Pat), é uma música distorcida com uma batida insuflável. O som e a vibe suplantam as rimas, que não são profundas, mas cativam com facilidade. Por outro lado, “Brotha Man” é uma faixa desordenada e confusa que perde sua identidade quando Rocky compete com um refrão preguiçoso do French Montana, uma aparição desnecessária do Snoop Dogg e um inesperado verso do Frank Ocean. Tudo isso acontece sob uma variedade de distorções vocais e batidas esqueléticas. Sua produção é exuberante e soulful, mas Rocky e Montana não combinaram com as teclas de piano e os riffs de guitarra funky. “OG Beepe” possui um efeito semelhante ao de “Praise the Lord (Da Shine)” – um banger que chega no momento certo. Há momentos em que as rimas são reveladoras, uma vez que o encontramos explorando o seu relacionamento com o hip hop.
Estranhamente, revelar coisas sobre o passado é um novo território para o A$AP Rocky. Sobre uma guitarra em looping, distorções vocais e efeitos psicodélicos, “Kids Turned Out Fine” resume os vícios que as crianças herdam dos pais. É uma faixa suave e um dos momentos mais experimentais do repertório. Trata-se de uma tentativa insípida de mesclar com o rock, mas acaba expondo sua falta de capacidade vocal. “Hun43rd”, por outro lado, é um sermão onde Rocky relembra os dias em que passava a maior parte do seu tempo nas ruas. “Quando é hora de guerra, eu trouxe minhas próprias armas / A diferença é que sou do gueto, mas sou saudável”, ele rima. O trabalho de produção caracteristicamente sonhador e os vocais dolorosamente frágeis se conectam facilmente com à cena de Nova York. Rocky reflete sobre o seu crescimento em torno da rua 143 no bairro de Harlem. Seu fluxo pode não ser tão perspicaz, mas é resgatado pela produção fantasmagórica de Dev Hynes. “Hun43rd” parece um meio termo entre os dois estilos, além de conter um refrão espacial, elementos dos anos 80 e uma neblina extra. O sample desfigurado de “Cradle to the Grave”, do grupo Thug Life (2Pac, Big Syke, Stretch, Mopreme Shakur, The Rated R e Macadoshis), se encaixou como uma luva. Mas a batida é o que faz as coisas se tornarem tão boas.
O ar vintage, a voz estelar do Dev Hynes, o rap de baixa frequência, a ótima percussão, os acordes de sintetizador e o riff de guitarra formaram a combinação perfeita. Enquanto A$AP Rocky fala sobre os anos de sua formação, ele muda de tom e retarda as coisas frequentemente. “Hun43rd” fornece uma experiência auditiva assustadora e catalisadora, embora não seja uma mudança de paradigma. “Changes”, por sua vez, é uma música ambiciosa de três partes que cruza a marca de 5 minutos de duração. Há algumas boas ideias em favor do A$AP Rocky, mas neste ponto do álbum, o teste tem sido tão difícil que requer muito esforço. Ela contém quatro interruptores de batida e pela primeira vez mostra o rapper sendo verdadeiramente introspectivo. “Black Tux, White Collar”, por outro lado, é mais acessível e um momento especialmente pungente. Esta faixa prova que o álbum não é completamente desprovido de significado. Por fim, “Purity” serve como um final comovente e igualmente experimental. Liderada pelo violão e uma batida empoeirada, esta canção é reforçada por uma amostra de “I Gotta Find Peace of Mind” da Lauryn Hill. Frank Ocean assume a liderança no primeiro verso e comanda boa parte da música – antes de passar o microfone para o A$AP Rocky.
O rapper, por sua vez, recita suas letras sob o dedilhado do violão acústico. Em cima de uma produção imaculada, Ocean nos lembra que ele também pode fazer rap. Suas palavras consomem a primeira metade da música e exala introspecção. “Meu cérebro está drogado / Eu ainda não tenho paz mental”, ele diz. Dessa vez, Rocky lamenta que o foco da sua carreira tenha sido às custas dos relacionamentos com as pessoas que ele ama. “Perder alguém a cada lançamento, parece que a maldição está em mim / Eu compartilho com você meu pedaço”, ele cospe. Em suma, “Purity” é a canção mais vulnerável e meditativa do álbum. Separadamente, algumas faixas do repertório provocam uma audição duradoura. Mas como um corpo de trabalho completo, “TESTING” não tem direção ou coesão. Para um artista do seu calibre, considerando o hype em torno deste projeto, eu esperava muito mais. Seguir por diferentes estilos não é uma coisa necessariamente ruim, mas ele não testa novos sons, apenas dá pequenos pedaços de novas ideias. O resultado final é decididamente misto. Há a sensação de que a experimentação, por mais atraente que seja, não é tão ambiciosa quanto poderíamos esperar. Esse álbum foi imprevisível e apenas absorveu uma infinidade de influências, enquanto A$AP Rocky lidou com suas inseguranças.