Em 1994, Nas lançou um dos melhores discos de hip hop de todos os tempos e agora, aos 44 anos, nos presenteou com um álbum produzido por Kanye West. Entre as sete faixas do repertório, aquela que mais me chamou atenção foi “Adam and Eve”. Embora se compare precocemente com Otelo de William Shakespeare nas primeiras linhas, Nas soa paranoico e vulnerável. Dessa vez, ele fala sobre família e lições de vida, inicialmente dizendo: “Oh meu Deus, eles querem o fim de mim porque eu sou puro”. No entanto, ele soa contraditório, visto que algumas linhas depois, pede para que seus pecados não sejam herdados por seus filhos: “Ore para que meus pecados não sejam passados para meus filhos”.
The-Dream é o responsável pelo refrão, conforme invoca imagens bíblicas: “Adão e Eva, não caia muito longe da macieira”. Na composição, há uma bateria pesada, guitarras acústicas e teclas de piano retiradas de “Gole Yakh” do cantor iraniano Kourosh Yaghmaei. A religião permeia pelo “NASIR” (2018), especialmente nos temas bíblicos de “Adam and Eve”. Mas nem tudo é baseado em assuntos sérios, tanto que Nas tira um tempo para se divertir: “Corte a gordura da carne, extraia o fraco, bom apetite / Sem bacon, irmãos são suínos”. A produção faz a maior parte do trabalho, pois é simples e eficaz. Enquanto isso, o gancho cantado por The-Dream ilustra a ideia de crianças que não se afastam das raízes de seus pais. Nas também fala sobre o que fez ele mudar durante sua carreira. “Eles não pararam de imprimir dinheiro, porque eles fizeram o meu”, ele rima depois de admitir que a caçada por dinheiro nem sempre é fácil porque “inseguranças mantém você incapacitado”.
O conceito de “Adam and Eve” é genial, mas não apenas porque contém referências bíblicas ao primeiro homem e mulher na Terra que se entregaram à tentação. Afinal, Nas também discute sobre seus demônios pessoais e seu amor pelas mulheres. “Sim, foi assim que eu senti, foi assim que acabou / Eu sou bom em existir, existindo na minha verdade / Enquanto eu apreciar a fruta”. Ele demonstra confiança em suas habilidades de rap, enquanto alterna entre uma variada lista de fluxos. Sua melancolia vocal também combinou perfeitamente com as linhas mais reflexivas: “Cabelos grisalhos de sabedoria, isso significa que você viu algo”. O fluxo clássico de “Adam and Eve” nos faz relembrar da década de 90, e é incrivelmente revelador. No entanto, o lirismo aberto é mais uma exceção do que regra no “NASIR” (2018). Em primeiro lugar, ele mostra uma paixão aqui que falta nas outras faixas, ao passo que suas palavras dançam sob o loop de piano. Há fortes vislumbres do MC introspectivo que os fãs de hip hop tanto admiraram nos anos 90.