“Survive the Summer” é um EP completamente carente de originalidade e qualidade.
Já se passaram quatro anos desde que ouvimos um corpo de trabalho inteiro da Iggy Azalea e, enquanto ela lançou alguns singles, a rapper australiana não obteve um bom desempenho comercial. Em 2014, ela colocou “Fancy” no topo das paradas ao lado de Charli XCX e conseguiu outros hits com Rita Ora e Ariana Grande em “Black Widow” e “Problem”, respectivamente. Desde então, as coisas ficaram aquém do esperado para Iggy Azalea, uma vez que nenhum single lançado por ela atingiu o sucesso esperado. Mas apesar dos tempos difíceis, ela parece empenhada em continuar fazendo música. Amethyst Kelly realmente ganhou seu lugar na indústria do hip-hop, mas perdeu completamente o senso de direção. “Survive the Summer” a vê retornando às suas raízes – onde ela lançou alguns EPs e mixtapes – e certamente soa como uma versão atual do que ela havia lançado naquela época. Depois de não conseguir lançar seu segundo álbum de estúdio, Azalea resolveu divulgar um EP com algumas faixas questionáveis. Não é um registro particularmente diversificado, e traz apenas o que Iggy Azalea sabe criar: letras arrogantes. Ela retorna com mais agressividade do que nunca, mas sem oferecer um conteúdo real.
É um EP tematicamente inútil e musicalmente esquecível. Cada faixa deste EP carece de originalidade. As batidas são derivadas e se arrastam de uma música para outra. Os bônus adicional é o uso pesado de alguns sintetizadores, pianos e linhas de baixo. Não só as batidas deixam de ser originais, mas as letras também são genéricas e carentes de profundidade. No geral, “Survive the Summer” não tem qualquer coesão. É uma coleção mal feita que surgiu como uma tentativa lamentável de permanecer relevante após o seu desaparecimento dos charts. A faixa-título começa com uma introdução inesperada, antes da Iggy cuspir seus típicos versos de rap. É um número meio atrevido, onde ela conversa com seus inimigos e detalha suas dificuldades e vitórias nos últimos anos. O instrumental pesado no piano e o baixo carregam letras como: “Você não vai sobreviver ao verão / Não permanecerá viva por muito tempo”. Em seguida, na breve “Tokyo Snow Trip”, Iggy foca nas drogas e no dinheiro. Essa faixa apresenta um trabalho de produção esquelético e intransigente com um som destinado às boates.
Dessa vez, ela utiliza uma abordagem sussurrada, lembrando o clássico “Wait (The Whisper Song)” do duo Ying Yang Twins. Além da abordagem vocal não ortodoxa, a batida é chata e parece que está faltando alguma coisa nos versos. Em última análise, “Tokyo Snow Trip” é uma música completamente desprovida de substância. “Kream”, por sua vez, é uma faixa de hip-hop com referências à cultura pop, que envolve menções a Sid Vicious, Ice Cube e a modelo Bella Hadid. Além disso, possui sample de “C.R.E.A.M.” do grupo Wu-Tang Clan. Aqui, Iggy Azalea tenta retornar às suas raízes e fornece um som que lembra suas primeiras mixtapes. Os primeiros segundos do instrumental criam uma vibração misteriosa, enquanto a constante batida mantém o ritmo do começo ao fim. Há também uma certa influência old-school reminiscente dos anos 90 e início dos anos 2000. Como esperado, as letras são provocativas, cheias de insinuações sexuais e concentram-se principalmente no dinheiro e sexo. “Essa buceta na sua cara, vou te colocar no seu lugar / Sete anos de letras registradas, fodendo sua mente vadia / Eu tenho carros, bolsas, propriedades, ela diz no primeiro verso.
Azalea abandonou a produção polida dos seus últimos singles em prol de uma pesada linha de baixo. O refrão de “Kream” resume completamente o foco da música: “Bunda / Dinheiro, dinheiro / Bunda, bolsas / Bolsa / Dinheiro domina tudo ao meu redor”. O gancho é repetitivo, enigmático e centrado em torno da clássica letra do Wu-Tang Clan. Iggy Azalea demonstra confiança e apresenta um fluxo respeitável, mas não há substância nas letras. Tyga cospe linhas que combinam com o sentimento da música, embora também seja desprovido de profundidade. “Bundas dominam tudo ao meu redor / Dentro daquela buceta, sim, me afogo”, ele diz. Ao misturar um som old-school com um ritmo descontraído, Azalea preparou uma nova abordagem para “Kream”. A quarta faixa, “Hey Iggy”, vê a rapper exalando confiança, assim como na maior parte do EP. Não é a primeira música que ela ostenta seu próprio nome no título – veja “Iggy SZN” do “Reclassified” (2014). Assim como nas outras faixas, ela faz rap em um cenário formado por uma batida intransigente, sintetizadores, teclado e uma linha de baixo. Não há nada de novo – apenas um pouco mais de flexibilidade.
“Kawasaki” apresenta uma das poucas produções minimalistas do EP. Iggy Azalea está no piloto automático desde o início, mas cospe letras mais ferozes e incontroláveis. Para quem não sabe, Kawasaki é uma marca japonesa especializada em motos, portanto, não é surpreendente ver que a música é inspirada no Japão. É completamente rítmica, tem uma batida de trap genericamente estranha e uma melodia sexual. Também há ruídos de motos que tentam fazer o ouvinte conectar a música com à marca japonesa. A última faixa, “OMG”, é uma parceria com o rapper Wiz Khalifa. É rítmica e também canaliza seus primeiros tempos de mixtape. Ambos se gabam de sua riqueza sobre uma batida de trap, mas, como o esperado, tudo é desprovido de substância e sagacidade. Iggy Azalea precisava lançar novas músicas, depois de arquivar o “Digital Distortion” – seu segundo álbum de estúdio. Mas em vez de divulgar um registro completo, ela optou por um EP com seis faixas. Infelizmente, é um registro completamente carente de originalidade e qualidade. Não é um material que vai lhe trazer qualquer reconhecimento, seja crítico ou puramente comercial.