Em homenagem aos 60 anos que Michael Jackson completaria em 29 de agosto, escrevi essa review do “Thriller” (1982) – o álbum mais vendido de todos os tempos.
Em 1982, Michael Jackson juntou-se novamente ao produtor Quincy Jones para gravar seu sexto álbum de estúdio solo, “Thriller” (1982). Quatro das nove faixas foram escritas por ele, e sete foram lançados como singles – dos quais todos alcançaram o top 10 da Billboard Hot 100. O disco explora gêneros como o pop, pós-disco, rock, funk e R&B. Em pouco mais de um ano, tornou-se o álbum mais vendido do mundo – um recorde mantido até hoje – com cerca de 66 milhões de cópias. É o segundo registro mais vendido nos Estados Unidos com cerca de 33 milhões de unidades. Apenas o “Their Greatest Hits 1971-1975 (1976) da banda Eagles vendeu mais remessas do que o “Thriller” (1982) nos Estados Unidos. O álbum entrou para o Guinness Book e ganhou oito Grammy Awards em 1984, incluindo o cobiçado “Álbum do Ano”. Esse disco foi responsável por quebrar barreiras raciais no mainstream e permitiu que Michael Jackson aparecesse na MTV. Além disso, foi um dos primeiros a usar videoclipes como ferramentas promocionais para se conseguir sucesso. Pode-se dizer que os vídeos de “Billie Jean”, “Beat It” e “Thriller” foram os pioneiros nessa tendência promocional que conhecemos hoje.
Naquela época, Michael Jackson mudou a forma como a indústria da música funcionava. Em um mercado impulsionado por popularidade, “Thriller” (1982) mudou a percepção sobre o número de singles que poderiam ser tirados de um único álbum. Além de conseguir um status na cultura americana, o disco estabeleceu um novo padrão para artistas, gravadoras, produtores e coreógrafos. A forma como Jackson e sua equipe abordaram esse disco, acabou influenciando a maneira como a indústria cria e lança músicas. A popularidade dos vídeos de “Beat It” e “Billie Jean” mudou o foco da MTV em favor do pop e R&B. Michael Jackson transformou o videoclipe em uma forma de arte e uma ferramenta promocional através de suas histórias, passos de dança e efeitos especiais. Em vez de reaquecer o funk e disco do “Off the Wall” (1979), Jackson preparou um álbum animado, cujas músicas dançantes não apagaram suas mensagens angustiantes. Seu som quase obsessivo complementa as letras que criticam um mundo que colocou um artista tão jovem na defensiva. Sua atitude deu um profundo senso de urgência às músicas, e se tornou um divisor de águas no desenvolvimento criativo da música pop.
A produção do Quincy Jones estava libertadora e mais esparramada que o normal. Ele teve a oportunidade de trabalhar novamente com o melhor instrumento da época: a voz do Michael Jackson. Enquanto outros artistas precisavam de alguma seção de cordas ou explosão de sintetizadores, Jackson só precisava cantar para transmitir a emoção necessária. Antes do sucesso do álbum, a MTV atraiu ressentimento do público por não exibir vídeos de artistas negros. O “Thriller” (1982) fez a MTV engolir seu racismo e aceitar o talento inquestionável do seu intérprete. Michael Jackson e Quincy Jones trabalharam em cerca de trinta músicas no total, mas somente nove foram escolhidas para formar o repertório. Todo o álbum nasceu de grandes ambições – Jackson queria fazer um disco que o transformaria na maior estrela do mundo. E isso de fato aconteceu! Afinal, “Thriller” (1982) foi criado para aceitação geral com faixas que apelaram para quase todos os formatos de rádio. Mais impressionante ainda foi a forma como os videoclipes ajudaram a derrubar barreiras raciais. Dito isto, o álbum se destaca como um dos melhores de sua carreira – apresentando algumas das canções mais lendárias de todos os tempos.
Musicalmente, o registro possui influências de artistas como James Brown e Stevie Wonder. Para além, ele contou com a participação de Paul McCartney, o famoso membro dos Beatles. “Thriller” (1982) é um disco pop maravilhoso e uma grande realização artística. Ele segue o mesmo padrão do “Off the Wall” (1979) em seu primeiro lado predominantemente animado, e segundo com maior preponderância de baladas. O trabalho de Quincy Jones é curiosamente variável. Como produtor de discos agitados, ele havia escorregado em fórmulas inadequadas. Porém, com o rei do pop, suas tendências em soul, funk, rock e pop funcionaram perfeitamente. Em “Wanna Be Startin’ Somethin’”, Michael Jackson direciona suas letras para a imprensa. Suas emoções estão tão cruas que a música quase sai do controle. “Alguém sempre tenta fazer minha garota chorar / Falando, gritando, espionando”, ele canta. A paranoia desta frase rende uma forte amargura no refrão: “Alto demais para superar, baixo de mais para esquivar / Você fica preso no meio e a dor é muito grande”. Aparentemente, é uma música boba, mas na verdade possui uma composição complexa e cheia de referências.
As letras focam nos problemas com a mídia que passou os próximos anos atormentando sua vida. Igualmente melancólica e otimista, “Wanna Be Startin’ Somethin’” martela sobre ritmos dançantes, metais triunfantes e backing vocals arrebatadoras proclamando os “yeah, yeah”. É uma música tão excitante e imprevisível quanto ver Michael Jackson apresentando seus passos de dança em cima de um palco. A guitarra funky corta o ponto intermediário e consegue a proeza de deixá-la ainda mais animada. Musicalmente, “Wanna Be Startin’ Somethin’” é uma canção de funk e pós-disco com fortes acenos para o “Off the Wall” (1979) – consequentemente uma introdução perfeita para o “Thriller” (1982). Organizado pelo percussionista brasileiro Paulinho da Costa, o ritmo é focado na bateria e contém um arranjo complexo, uma linha de baixo flexível e boa dose de trompetes. Suas letras auto escritas sobre as fofocas da imprensa revelaram uma paranoia que, posteriormente, iria reaparecer em álbuns futuros. O último trecho da canção, formado pela repetição “ma ma sa, ma ma coo sa ma ma se”, foi pego emprestado de “Soul Makossa” do saxofonista camaronês Manu Dibango.
Não é apenas uma das melhores músicas de sua carreira, mas também uma das coisas mais implacáveis da década de 80. É paranoica, irritada e possui um enorme peso musical, principalmente porque pisa no mesmo território funk e disco do álbum anterior. A exuberante “Baby Be Mine” foi escrita pelo tecladista Rod Temperton, anteriormente famoso pelas letras de “Rock with You”. Estilisticamente, está muito mais perto do “Off the Wall” (1982) do que qualquer outra coisa do repertório. E por causa disso, é sempre injustamente ofuscada pelas outras canções. É uma das poucas músicas que não foram lançadas como single. Mesmo que seja familiar, seu estilo disco e funk é fantástico, e os vocais do Michael Jackson estão impressionantes. Aqui, ele promete amor eterno à sua garota, enquanto canta linhas como: “Você é tudo que este mundo pode ser / A razão do meu viver”. O baixo groovy, trompetes energéticos, teclados dançantes e licks de guitarra dão uma beleza surreal para essa música. Vocalmente, Michael atinge alturas inebriantes, enquanto o alegre refrão fornece palmas e energia picante. A cativante “The Girl Is Mine” apresenta o ex-Beatle Paul McCartney. Ela possui uma vibe descontraída e mostra ambos disputando uma mulher.
No entanto, tudo não passa de uma brincadeira e não deve ser levada a sério. Eles discutem sobre quem a ama mais e concluem a produção com um rap falado. A música foi gravada durante a primeira sessão do álbum em abril de 1982. Escrita inteiramente por Jackson, não permitindo a participação de McCartney em nenhum dos textos, ela contém uma instrumentação soft rock e não passa de uma bela canção de amor. McCartney simplesmente acrescentou sua voz e, mais importante, seu nome para a música. É uma canção sonhadora que permitiu que o talento vocal de ambos se destacasse. Na época, “The Girl is Mine” chegou ao sucesso instantaneamente, talvez devido ao grande poder de estrela da dupla. Mais tarde, os dois ainda lançariam “Say Say Say” e “The Man” para o quinto álbum solo do McCartney, “Pipes of Peace” (1983). Mesmo antes de se tornar um grande videoclipe, a faixa-título já podia ser considerado um clássico filme de terror. Escrita por Rod Temperton, ela apresenta letras horripilantes e igualmente divertidas, efeitos sonoros arrepiantes, uivos de lobos, trovoadas e portas rangendo, além de uma recitação icônica do ator Vincent Price. Embora seja uma das músicas mais conhecidas do Michael Jackson, o verdadeiro legado de “Thriller” está em seu minifilme de 14 minutos dirigido por John Landis.
Foi o vídeo dessa música que estendeu o ciclo de vida do álbum e o transformou em um ícone cultural. Graças a ele, o setor de marketing percebeu que mais singles poderiam ser retirados de um álbum para prolongar sua vida útil. Quando foi lançado, a MTV precisou executar o vídeo a cada duras horas para atender à alta demanda do público. A icônica coreografia virou parte da cultura pop e foi replicada em todos os lugares. Posteriormente, o curta-metragem inspirou inúmeros outros artistas e é reconhecido merecidamente como o melhor videoclipe de todos os tempos. Afinal, além de ser fantástico, estava à frente de seu tempo, não apenas em sua carreira, mas também na história da música pop. Anteriormente chamada de “Starlight” e “Midnight Man”, o título foi alterado como estratégia de marketing. Embora seja mais popular pelo videoclipe e passos de dança, “Thriller” também é musicalmente épica. Uma canção pós-disco e funk inovadora com uma extensa introdução, sintetizadores, linhas de baixo distorcidas, bateria inquietante, órgãos, risadas insanas e narração macabra. A enorme trompa que leva a canção ao seu ritmo principal vai além dos limites normais de uma música pop. Liricamente, “Thriller” descreve a história de um filme de terror, da qual o vídeo retrata perfeitamente.
É quase impossível você não ficar entusiasmado quando escuta o gancho principal: “‘Cause this is thriller, thriller night / And no one’s gonna save you / From the beast about to strike”. Uma das melhores faixas do álbum é “Beat It” – canção de hard rock e dance-rock com diferentes notas de sintetizador, bateria tocada por Jeff Porcaro e violento solo de guitarra de Eddie Van Halen. A música abre com batidas repentinas e depois fornece uma perfeita guitarra elétrica. O espetacular riff fica um pouco pesado após a metade da canção, e torna-se o alicerce ideal para as melodias. Ela é fortemente orientada para o rock, e foi criada intencionalmente para o sucesso crossover. “Beat It” é notável não apenas por sua tentativa, mas por seguir os passos de “Billie Jean” e quebrar a falta quase total de artistas afro-americanos na MTV. No entanto, ao contrário de “Billie Jean”, “Beat It” falava a linguagem da MTV, uma vez que ostentava fortes vibrações de rock e apresentava um deslumbrante solo de guitarra. Liricamente, Michael Jackson se direcionou para a violência das gangues e a terrível natureza humana. A próxima faixa é apenas um dos singles mais vendidos da história e da carreira solo do Michael Jackson.
A perfeita “Billie Jean” impulsionou o status do “Thriller” (1982) como o álbum mais vendido de todos os tempos. Nos Estados Unidos, ela permaneceu em primeiro lugar por sete semanas e recebeu vários honrarias, incluindo 2 Grammy Awards e 1 American Music Award. Liricamente, ela fala sobre uma mulher, chamada Billie Jean, que passou uma noite com o narrador e agora afirma que ele é o pai do seu filho. Ele insiste que o garoto não é seu filho, embora a canção deixe em aberto a possibilidade dele ser o pai. Alguns críticos afirmam que a música é baseada na própria experiência de Michael Jackson com uma fã enlouquecida. O videoclipe, dirigido por Steve Barron, que mais tarde faria o incrível vídeo de “Take on Me” do A-ha, desempenhou um papel importante na história da MTV. Foi simplesmente o primeiro videoclipe de um artista negro a ser exibido pelo canal. É um absurdo imaginar, que anos depois, os vídeos de artistas negros definiriam tendências, ajudariam a manter os canais de música à cabo e impulsionariam plataformas digitais como Spotify e Apple Music. Além disso, juntamente com os vídeos de “Beat It” e “Thriller”, o clipe de “Billie Jean” ajudou a concretizar a importância cultural da MTV e estabeleceu os videoclipes como parte integrante da promoção de qualquer single.
Musicalmente, faz uma perfeita mistura de pós-disco, R&B, funk e dance-pop, cuja mensagem não poderia ser mais direta. É liricamente triste, melancólica e sufocante. As batidas dos tambores definem o cenário urbano em um momento que o hip-hop ainda estava nascendo no mainstream. Licks de guitarra funky concentram-se no ritmo e na melodia ao invés de bombear as notas. Os vocais são absolutamente fantásticos, principalmente no pré-refrão e refrão. “Billie Jean” possui a melhor composição do álbum, graças a mistura uptempo de funk e R&B, e ao tema sombrio, obsessivo e cheio de paranoia. “Billie Jean não é minha amante / Ela é só uma garota que diz que sou o cara / Mas o garoto não é meu filho”, ele canta insistentemente no mágico refrão. A nervosa linha de baixo e o raro sintetizador analógico empregaram algumas técnicas exclusivas da época. Michael Jackson escreveu “Billie Jean” sozinho e provou seu inegável talento para a escrita. Melodicamente, a progressão de acordes do sintetizador enfeita os versos, ao passo que os outros instrumentos criam o suspense climático do insaciável refrão. Nesse momento, há harmonias extremamente cativantes e excelentes linhas de guitarra funky.
Essa linha depois se expande em uma ponte instrumental e, consequentemente, a guitarra se destaca como um elemento primordial. A música em si é inegavelmente maravilhosa e ainda contém teclados esparsos, estalar de dedos, sintetizadores distorcidos e extraordinários soluços vocais – que se tornariam uma de suas marcas registradas. Sua música uniu pessoas ao redor do mundo, mas foi sua imagem que fez “Billie Jean” tão crucial para a mercantilização de artistas negros no mainstream. Como se tudo não fosse suficiente, a coreografia adotada para as performances se tornaria amplamente imitada. Seu desempenho ao vivo introduziu uma série de elementos associados a ele, incluindo o moonwalk e o uso de uma única luva branca. As harmonias amanteigadas de “Human Nature”, uma das melhores composições do álbum, transcende quase tudo que o Michael Jackson já realizou. Uma das melhores baladas da sua época e um verdadeiro destaque do álbum. Escrita por Steve Porcaro, tecladista da banda Toto, a música fornece letras melancólicas e melodias incríveis. Além de ser a canção mais suave do repertório, “Human Nature” reflete sobre experiências cotidianas.
Portanto, é quase impossível imaginar Michael Jackson fazendo qualquer coisa sobre a qual ele diz aqui. Com a vida agitada que ele tinha, é difícil pensar que ele poderia simplesmente ficar olhando o horizonte, sair pelas ruas, conhecer outras pessoas e sonhar com possibilidades futuras. Afinal, sua fama impossibilitava tais coisas. Os vocais ofegantes e as perfeitas harmonias capturam o humor dessa canção. “Human Nature” é uma peça de R&B sonhadora com sintetizadores cintilantes, instrumentos de sopro, lenta bateria e belos tons de guitarra. O colapso de “P.Y.T. (Pretty Young Thing)”, com sua interpretação extasiada e ofegante, é provavelmente a coisa mais funk do álbum. Embora eu não consiga ver o álbum sem essa canção, ela parece ser a menos necessária do repertório. Independentemente disso, eu ainda amo seu sulco cativante e não consigo ignorá-la quando ouço o “Thriller” (1982). Agradável o suficiente para ter chegado ao top 10 da Billboard Hot 100, é uma canção de funk e disco alegre e entusiasmada caracterizada principalmente pelos vocais. Curiosamente, suas irmãs Janet Jackson e La Toya Jackson fornecem vocais de fundo. A última faixa, “The Lady in My Life”, é uma sedutora balada de R&B e soul escrita por Rod Temperton.
Embora não seja tão forte quanto os singles do álbum, é uma das faixas mais subestimadas do Michael Jackson. Aqui ele está no seu momento mais vulnerável e romântico. O instrumental, que inclui baixo e trompete, é consistente e combinou muito bem com os vocais. “Thriller” (1982) pavimentou o caminho para outros artistas afro-americanos alcançarem o reconhecimento. Jackson serviu de inspiração para diversos outros artistas masculinos de sucesso, como R. Kelly, Usher, Justin Timberlake, Chris Brown e The Weeknd. Ele era um artista extremamente criativo, excelente cantor e dançarino fantástico. No “Thriller” (1982), ele e Quincy Jones ultrapassaram fronteiras e expandiram seus horizontes. Esse álbum o elevou aos olhos do público e fez ele se tornar o rei do pop. Foi graças a esse disco que ele finalmente recebeu o merecido reconhecimento mundial e criou um eterno legado na música pop. É surpreendente como o “Thriller” (1982) ainda permanece tão fresco e vital como há 30 anos. Não há como negar que ele virou padrão para outros álbuns. Em 29 de agosto de 2018 Michael Jackson completaria 60 anos. Ele foi o maior fenômeno desde os Beatles e o cantor mais popular de todos os tempos. Seu legado é insuperável!