Embora possua apenas 40 minutos, “Harverd Dropout” parece que dura para sempre – é fútil e carente de personalidade.
Os últimos dois anos foram bizarros para o Lil Pump, desde que seu primeiro álbum foi lançado para além das fronteiras do SoundCloud. Ele foi destaque em capas de revista e lançou uma faixa improvável com ninguém menos que Kanye West. O jovem de 18 anos também enfrentou problemas legais com o compositor Geoff Barrow por conta de “The Alien” e foi flagrado pelo TMZ em uma disputa com a polícia devido ao possível porte de maconha. Sua atitude, embora esquisita, costuma viralizar com facilidade na internet – especialmente quando se trata da glorificação do uso de drogas e da misoginia de suas letras. Seu novo álbum, “Harverd Dropout”, apresenta um tom provocativo, mas sem qualquer narrativa instigante. Lil Pump explora os mesmos temas genéricos que seus contemporâneos usaram durante anos e não apresenta absolutamente nada de interessante. Ele claramente não está levando o seu conteúdo lírico a sério – como mostrado em “Drop Out”, onde ele satiricamente grita “fique na escola” depois de cuspir sobre como ele “espancou o sistema”. É o tipo de meme construído a partir de uma série de tweets conspirando que Pump abandonou a Harvard para “salvar o rap”.
A prestigiada universidade americana até permitiu que ele desse um discurso de formatura na semana passada. Minha intriga pelo “Harverd Dropout” deteriorou-se após uma série de faixas desagradáveis, onde Lil Pump segue apresentando os mesmos elementos estereotipados. Seu fluxo é extremamente repetitivo, espelhando muitos dos singles lançados antes do álbum – tais como “Drug Addicts” e “ESSKEETIT”. A única vez que Pump tentou levar sua pessoa extravagante ao extremo foi em sua colaboração com Lil Wayne. A cadência sarcástica de “Be Like Me” lembra os dias de Slim Shady, e a composição combina com sua personalidade colorida, enquanto Wayne continua sua onda com um habitual jogo de palavras mordaz. No entanto, a sequência é um conjunto cheio de uma devassidão desagradável. Pump também captura a síndrome do Migos em ganchos monótonos que não conseguem despertar qualquer atenção. No seu caso, no entanto, não há desculpa para a preguiça. Existem dezesseis faixas no “Harverd Dropout”, com apenas doze delas sendo novas. Normalmente, isso significa que não há espaço para preenchimento, o que não era o caso do “Culture II” (2018) do Migos que continha mais de vinte faixas.
No final de dezembro, Lil Pump pediu desculpas depois de postar um vídeo de uma nova música onde destacava uma ofensa racial. Em “Butterfly Doors”, ele disse: “Me chamam Yao Ming porque meus olhos estão quase fechados”. Além disso, ele também fez um gesto depreciativo com os olhos. Para quem não sabe, Yao Ming é um jogador de basquete chinês e a atitude do Lil Pump gerou muita polêmica na China. Após a reação inicial, Pump postou um vídeo pedindo desculpas. A versão atual da música silenciou a parte onde ele dizia “Yao Ming”, e eliminou as palavras “ching chong” por completo. Seguindo a clara falta de julgamento em relação ao uso de insultos raciais, o rapper tentou retomar o impulso através de um clipe para “Butterfly Doors”. É bacana saber que ele pediu desculpas e refez o verso, mas isso não significa que seja uma boa música. Em primeiro lugar, Lil Pump apenas modificou duas palavras da linha racista – assim como uma rádio exclui palavrões de músicas explícitas. Ou seja, o restante das letras permaneceram inalteradas. Pump obteve sucesso quando lançou “Gucci Gang”, em contrapartida, “Butterfly Doors” é totalmente maçante e esquecível.
O trabalho de produção minimalista funciona sob uma batida suave e um sintetizador enfraquecido. Ele faz referências à dinheiro, armas, mulheres e Lamborghinis. Isso sem mencionar a referência controversa aos asiáticos. Realmente não há muito o que dizer depois de ouvir “Butterfly Doors” – uma música básica e completamente boring. Infelizmente, Pump tem dificuldade em manter um lirismo de forma expressiva, por exemplo em músicas como “Vroom Vroom Vroom” e “Off White”. Muitas faixas têm apenas 2 minutos de duração, deixando um espaço mínimo para algum verso ou refrão viável. YG aparece surpreendentemente em “Stripper Name”, e diminui sua qualidade lírica para o nível do Pump, dizendo: “Eu não conheço a cadela, mas conheço o nome dela de stripper / Eu não gosto de cabelo naquela buceta”. O que aconteceu com o rapper de “My Krazy Life” (2014)? Aquele que estava fazendo um rap comercial tão interessante? A batida em si tem as características de um banger, mas não vale a pena por causa do lirismo podre. Lil Uzi Vert surge e traz um verso sem vida para “Multi Millionaire” – nem mesmo sua personalidade animada conseguiu salvar essa música.
Produzido por Diablo, “Racks on Racks” basicamente fala sobre a quantidade de dinheiro que o Lil Pump possui. Com mais mediocridade, há uma produção intensa que alimenta os vocais, incluindo o uso de sintetizadores rítmicos e batidas rígidas. Sonoramente, há criatividade na produção, mas Pump não fornece qualquer profundidade quando se trata de suas rimas. “Racks on Racks” permanece de acordo com a fórmula pré-estabelecida pelo rapper – desperdiçando o pouco tempo que possui se gabando de sua riqueza. Em sua defesa, ele conseguiu uma batida interessante, e os fãs estabelecidos provavelmente continuarão consumindo tal música. Mas o importante para ele é falar sobre seu abuso de drogas, roupas de grife e desempenho sexual. Seu fluxo é muito similar ao staccato de “Gucci Gang”, mas falar sobre dinheiro é o maior clichê do hip hop. É outra oferta boring e mal cozida do rapper adolescente em ascensão. Em suma, Lil Pump não tem o mesmo brilho que um Trippie Redd ou o próprio Lil Uzi Vert. Ele precisa encontrar o seu nicho antes que a próxima onda de rappers da Flórida ofusque seu sucesso. Caso contrário, as previsões do J. Cole podem se tornar realidade.