Com 14 faixas, “Wasteland, Baby!” é vítima da monotonia, e vê Hozier reciclando a mesma fórmula usada em “Take Me to Church”.
Assim que “Take Me to Church” surgiu em 2013 – quando a música mainstream lutava para se elevar além do pop -, foi um momento de grandeza para o Hozier. Lá estava uma canção de blues envelhecida e sombria que, não foi apenas um single de estreia de um novo artista, mas uma peça inteligente que apreciava o passado. Quanto ao seu primeiro disco lançado um ano depois, foi ainda melhor; o foco era o rock, soul, blues e folk, repleto de imagens bíblicas e músicas fora do seu tempo que ainda soavam frescas e excitantes. Então, Hozier ficou de fora dos holofotes por um determinado período de tempo. Ele só lançou novas músicas quando liberou o EP “Nina Cried Power” (2018), que apesar de bom, serviu apenas para mostrar como Hozier perdeu severamente seu lugar ao sol. Comparado com “Take Me to Church”, sua presença era efetivamente inexistente, um fato que só se seria mais preocupante ao revelar seu segundo álbum de estúdio, “Wasteland, Baby!”. Afinal de contas, um artista como ele, com capacidade mainstream, não surge de forma cotidiana, e cair no esquecimento dessa maneira pode ser bastante desmotivador, tanto para os fãs quanto para o artista – principalmente com um álbum que ninguém realmente parece estar prestando atenção.
Isso não parece ser um grande problema, especialmente quando “Wasteland, Baby!” é mais do mesmo, outro registro que se baseia em imagens da mitologia e religião para sustentar sua escrita. Se você achava que um período tão longo de tempo fosse suficiente para ele aprender novos truques, poderá se decepcionar. Havia uma mística sobre a estreia do Hozier que beneficiou completamente seus temas e conceitos. No entanto, isso não acontece aqui. “Almost (Sweet Music)” revela suas inspirações musicais através da citação de outras músicas. É repleta de imagens poéticas pelas quais Hozier é conhecido e admirado. Uma música profundamente pessoal sobre como determinadas canções trazem memórias do passado. É muito mais otimista do que grande parte de sua discografia, talvez reminiscente de “From Eden” e “Jackie and Wilson”. Também é cheia de riffs de guitarra e harmonias quase gospel. Relembrando a música que o inspirou, Hozier redescobre suas raízes nesta carta de amor. Ele confessa durante o gancho que “eu não saberia por onde começar” quando se trata de seus sentimentos em relação à música.
Como ele funcionaria sem essa liberação emocional ou sem aquela compreensão que ele obtém através da música? E é aí que esse novo single realmente brilha. Embora a estrutura seja previsível, é um single otimista com melodias descontraídas e um charme singular. Podemos imaginar tudo sobre o que ele está cantando e é difícil não se sentir conectado. “E eu não saberia por onde começar / Doce música tocando no escuro / Seja ainda meu coração tolo / Não estrague isso em mim”, ele canta no refrão. É uma homenagem para grandes músicos, conforme podemos ver canções de jazz sendo referenciadas nas letras. Algumas dessas canções são “Stella by Starlight” (Victor Young), “Prelude to a Kiss” (Duke Ellington) e “Night and Day” (Ella Fitzgerald). Ademais, há uma excelente paleta instrumental em ação, incluindo o uso de guitarra, piano, percussão e órgão. Esses instrumentos alimentam soberbamente o seu poderoso vocal. “Almost (Sweet Music)” é um pouco mais leve do que seus lançamentos anteriores, mas sua voz calorosa se mantém no topo. Ele ainda tem jeito com palavras melancólicas que traçam um paralelo com a mitologia grega ou com o romântico brincalhão de “To Noise Making (Sing)”, por exemplo.
Mas no geral, há uma falta de ambição no álbum que, comparado com a ambiguidade das múltiplas camadas do “Hozier” (2014), pode ser extremamente desanimador. Ele peca drasticamente pela falta de desenvolvimento lírico, em faixas como “Movement” e “Sunlight”, enquanto outras como “Dinner & Diatribes” parecem distantes e fornecem situações sociais chatas que não conseguem qualquer conexão real. “Wasteland, Baby!” definitivamente não tem a seriedade e as incríveis elevações de seu antecessor. Além disso, o fato do álbum ser muito longo só piora as coisas. Os elementos de soul, blues, folk e rock servem como base, e embora isso não seja uma decisão ruim, a verdade é que ele está lutando para se manter de pé. Os melhores momentos são fáceis de escolher, como o toque íntimo de “To Noise Making (Sing)” ou as descontraídas “No Plan” e “Be”. Hozier sempre teve uma tendência sombria, e você pode senti-lo tentando usar seu humor de novas maneiras. Agora, ele lida com arranjos espaciais, guitarras mais pesadas e letras mais duras. A balada “Shrike”, por exemplo, é gritante e pontuda com agradáveis elementos tradicionais de música folk irlandesa.
Em tais faixas, Hozier cultiva um som mais aerodinâmico que realmente beneficia sua voz, variando de reverberações profundas e melancólicas para uivos cheios de imperfeições. Dito isto, não dá para negar que o principal componente do álbum é o seu poderoso vocal. Crescente e efervescente, é um instrumento que exala paixão e força. É claro que isso também contribuiu para seu disco de estreia, mas pelo menos haviam bons momentos; aqui, por outro lado, não há nada disso, e “Wasteland, Baby!” serpenteia na maior parte do tempo de maneira que presta um desserviço ao Hozier como artista. E embora tudo soe um pouco duro – ainda é um álbum sólido com alguns momentos que valem a pena – mas considerando o quão ótimo Hozier pode ser, também é uma decepção de várias formas. É definitivamente uma queda em relação ao seu álbum homônimo. Ainda merece uma chance, mas apenas em áreas isoladas; não é bom o suficiente para justificar quase 1 hora de duração. “Wasteland, Baby!” é cheio de referências e apartes à cultura pop, mas é vítima da monotonia. Ademais, quase todos os elementos de “Take Me to Church” são isolados e reciclados na esperança de coroar um sucessor.