É difícil adivinhar qual público vai curtir esse álbum. É ainda mais difícil imaginar o tipo de artista que Maren Morris realmente quer ser.
Há uma corda bamba para qualquer mulher nas rádios country dos Estados Unidos – um formato importante, mas que continua sendo extremamente conservador. Os argumentos intermináveis sobre não soar “country” é o motivo pelo qual Kacey Musgraves não teve singles do “Golden Hour” (2018) tocando nas rádios. Foi preciso uma turnê com Harry Styles, uma série de apresentações, shows noturnos e uma maldita vitória no Grammy para finalmente perceberem que uma das maiores estrelas country estava passando por eles. Provavelmente, isso pode ser aplicado a Maren Morris também. Ela já estava estilisticamente no ponto crucial do pop e das poderosas baladas dos anos 80 em seu último álbum, “Hero” (2016). Seu single de estreia, “My Church”, foi uma grande promessa – aqui estava uma cantora que poderia vender um autêntico country pop de forma que fosse compatível com o rádio. Quando seu álbum de estreia foi lançado, ele dividiu os críticos, alguns dos quais ficaram desapontados com as tendências mais pop do restante da tracklist. Aqueles que estavam menos preocupados com o gênero, ouviram uma jovem confiante e talentosa, que desde então conseguiu um lugar nas rádios country.
Apesar de uma mulher obter sucesso nesse formato, notoriamente dominado pelos homens, ser tão difícil. Depois que vários singles a levaram ao sucesso, ela provou que poderia comandar o airplay quando colaborou com Zedd em “The Middle”. Em algum lugar entre “Hero” (2016) e “The Middle”, Morris se tornou um pouco mais politicamente ativa. Ela começou a expressar suas opiniões políticas e mostrou apoio a comunidade LGBTQ+ nas redes sociais. Em seu novo álbum, “GIRL”, ela empurra os limites tradicionais que cercam os artistas de música country. Ela é parceira de Brandi Carlile em “Common”, uma canção que encoraja a aceitação dos direitos LGBTQ+ – poderia até ser uma música que contrasta republicanos e democratas. Uma faixa que mostra seu talento vocal, embora talvez seja melodicamente um pouco decepcionante, principalmente se compararmos com o outro dueto. No vídeo da faixa-título, Morris usa uma camiseta que se declara feminista. Isso pode soar apenas como um pequeno passo para o mundo do pop, mas no country é uma grande coisa.
Ambas faixas foram co-gravadas com Sarah Aarons, a mente e voz por trás de “The Middle”, e produzida por Greg Kurstin, o produtor que moldou o som mais recente da Kelly Clarkson e Adele. Até agora, não é um sucesso instantâneo: ao contrário dos singles anteriores, que foram muito bem no Country Airplay, “Girl” atingiu apenas a décima sétima posição da parada. De qualquer forma, ela está claramente testando os limites do que o público e os radialistas permitirão. É uma luta necessária. Morris reconhece que está contrariando os críticos e as limitações do country em “Flavour”, onde ela canta: “Não vou molhar minhas palavras / Ou sugar minha especiaria / Às vezes a verdade nem sempre é legal”. E depois convida você a não ouvir se não gosta do que ela tem a dizer. É um tiro no gênero que não dá à maioria das mulheres a autonomia que os homens possuem. Ela também se diverte ao ser desafiadora para aqueles que não gostam de sua personalidade ou franqueza, fazendo referência às Dixie Chicks e dizendo que não vai “calar a boca”. Ela parece determinada em preparar seu próprio sabor característico. Em outro lugar, Morris adere à fórmula.
Canções como “All My Favorite People”, com Brothers Osbourne, e “To Hell & Back”, não poderiam ser mais country. A primeira é um dos momentos mais contagiantes do repertório. Seu estilo e letras, sobre como lidar com a vida real, vai agradar qualquer amante de música country. “To Hell & Back”, por sua vez, possui um estilo diferente, mas é igualmente eficaz – uma balada pensativa sobre como lidar com seus demônios interiores. Ela também flerta com o R&B na faixa “RSVP”, enquanto “Make Out with Me” explora sua sexualidade mais do que nunca. Ela poderia ter feito um salto completo para o pop, mas preferiu não fazer isso. Seu envolvimento no supergrupo Highwomen, com Amanda Shires e Brandi Carlile, indica que ela também pode cantar canções mais clássicas ou americana no futuro. Se Maren Morris continuar dominando esse gênero por necessidade, será um indicador de onde o country está indo, e um teste de sua independência. O tipo de coragem que ela exibe nesse álbum é o que atraiu atenção do público, especialmente das mulheres. “GIRL” é um teste para ver o que uma mulher com algum poder na música country pode fazer; estamos todos assistindo com grande expectativa para ver qual será o resultado.