Djonga disponibilizou hoje o vídeo da música “HAT TRICK”, faixa de abertura do seu novo álbum “Ladrão”. Com dez faixas e colaborações com Filipe Ret, MC Kaio, Doug Now e Chris, a produção do novo álbum ficou a cargo de Coyote Beatz, companheiro de longa data do rapper mineiro. “Ladrão” é sua promessa em ir buscar tudo aquilo que a história tentou tirar do povo brasileiro. A opressão do povo negro e a exclusão social são alguns dos temas do novo material. Em “HAT TRICK”, acompanhamos a história de um jovem negro; inicialmente ele está com o rosto pintado de branco, indo ao trabalho, onde lida com pessoas majoritariamente brancas e o vemos ignorando o universo de pessoas negras que giram em torno dele.
O tal personagem claramente não sente orgulhoso de ser um negro, negando suas origens e tentando se aproximar dos brancos. Enquanto isso, Djonga aparece como uma espécie de voz na cabeça do rapaz de cara pintada. Quando tem seu rosto limpado, metaforicamente aceitando sua história e suas origens, ele volta a interagir com seus amigos e família, até o momento em que é acertado em cheio por um tiro. A pintura branca é uma referência ao livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, do influente pensador francês Frantz Fanon. Ele foi responsável por importantes estudos sobre a chamada “psicopatologia da colonização” durante o início do século XX. Ao trazer a pintura facial como uma espécie de máscara usada pelo protagonista, a crítica se torna mais do que presente. Oprimido, o personagem representa os entraves encontrados pelos negros para conseguirem se ver livres do lugar onde foram postos pela colonização. Daí nasce a figura do “negro que deseja ser branco”. O termo “hat trick”, por outro lado, é muito usado quando um jogador de futebol faz ao menos três gols em uma única partida.
Em meio à batidas pesadas, Djonga fornece vocais agressivos e rimas carregadas de referencias da cultura popular. “Isso te faz seguir real, igual um filme de terror na direção de Jordan Peele”, ele cospe no segundo verso. Além disso, o rapper clareia o racismo estruturado e mostra o quão importante é o emponderamento do povo negro: “Ladrão, então peguemos de volta o que nos foi tirado”. “HAT TRICK” é forjada por uma verdade desconcertante que dá o tom para o restante do álbum. Djonga permanece lúcido o tempo todo, mas sonhando quando necessário. Forte o suficiente para sustentar suas mensagens e sensível quando o momento pede. “HAT TRICK” é claramente uma tentativa de emplacar um som mais comercial com um refrão chiclete (“Abram alas pro rei / Me considero assim / Pois só ando entre reis e rainhas”), mas isso não apaga a importância de sua narrativa. Afinal, o lirismo age como um soco no estômago. As rimas guiadas pelo fluxo veloz e sagaz não exaltam apenas a si próprio, mas toda a comunidade negra. Em “HAT TRICK”, o tambor, o bumbo e o 808s são eficientes e criam a base para o ritmo imparável.