O “Lux Prima” funciona melhor como uma passeio do que como um destino, mas é um prazer se perder nele.
Expansivo, exuberante, sonoramente encantador – estes são os adjetivos que podem caracterizar a nova colaboração entre a vocalista do Yeah Yeah Yeahs, Karen O, e o produtor Danger Mouse – também conhecido como Brian Burton – o homem por trás de “Crazy” do Gnarls Barkley. Dito isto, “Lux Prima” é o projeto que combina o grande talento do Danger Mouse com a presença vocal ambiciosa da Karen O, em uma viagem que realmente lança uma luz na mente do ouvinte. A tracklist é meticulosamente ordenada, com cada canção significando uma parada ao longo da jornada que eles estão nos levando. A produção é fluida, vívida e parece uma homenagem às bandas com quem Danger Mouse já colaborou – Broken Bells, The Black Keys, Portugal. The Man, para citar alguns. Nos últimos cinco anos, ele também trabalhou com Parquet Courts e Run the Jewels, enquanto o recente currículo da Karen O inclui a trilha sonora do filme “Onde Vivem os Monstros” e uma cover de “Immigrant Song” do Led Zeppelin (ao lado de Trent Reznor e Atticus Ross). Os dois se tornaram colaboradores em série, e fizeram tantas coisas diferentes que é difícil prever como soariam juntos.
Karen O complementa a produção com perfeição, emprestando suas habilidades vocais ao mesmo tempo em que adota uma abordagem mais suave e diluída. Juntos, os dois conseguiram criar um som inspirador e infalível. Muitas vezes, quando duas figuras se unem em seus respectivos campos, o resultado nunca é tão ousado ou focado como o trabalho solo dos artistas. O fato é que, quando você tem duas visões concorrentes ou personalidades em desacordo, muitas vezes o produto final é um álbum bagunçado, que não corresponde a nenhum potencial. Felizmente, nenhum dos dois parecem ser egocêntricos a ponto de afundar um projeto como este. A faixa-título, “Lux Prima”, é uma introdução com 9 minutos de duração que fornece batidas emotivas, linhas de baixo e uma grandeza orquestral. Mudando de rumo ao redor da marca de 3 minutos, Karen O se aproxima do microfone para nos acalmar com letras como: “Eu não estou em nenhum lugar / Eu sou ninguém, eu sou ninguém / Não há ninguém além de você”. Ela oferece uma visão rara sobre sua recém-descoberta maternidade.
Ao descrever essa canção, Danger Mouse disse que “estávamos realmente procurando um lugar em vez de um som, foi nosso primeiro destino compartilhado”. “Ministry” é mais suave e amorosa, e traz consigo uma melodia de guitarra parecida com “Leave It Alone” da banda Broken Bells. Karen O canta com uma grande ternura e em determinados momentos nos faz lembrar de “Maps” – um dos meus singles favoritos da banda Yeah Yeah Yeahs. Uma canção instrumentalmente arrebatadora com um baixo distinto e fragmentos de guitarra elétrica. Um dos destaques é, sem dúvida, “Woman” – um hino estimulante para as mulheres com uma poderosa influência punk. “Se você quiser, então você pega / Esqueça o que você vê quando fecha os olhos / Garota, você vai conseguir”, ela canta aqui. Famosa por suas roupas estranhas e performances ao vivo, Karen O nunca pareceu dar a mínima para o que pensam dela. E enquanto sua voz não é exatamente uma grande potência, ela sabe como usá-la da melhor forma para invocar humor e textura. Sua energia punk também nos remete ao Yeah Yeah Yeahs, trazendo o mesmo poder extático de músicas como “Mosquito” e “Sacrilege”.
“Reveries”, por sua vez, tem uma abordagem mais descolada e humilde – sua simplicidade combinada com a complexidade das letras, resume a personalidade dos dois artistas. Enquanto se gabam de suas carreiras bem sucedidas e reverenciadas, a dupla nos lembra que eles também são humanos. E, como tal, ambos contemplam sua insignificância no vasto universo ao experimentar o amor, a dor, o sofrimento e o êxtase da vida. A última faixa desta jornada é “Nox Lumina”, uma produção mais moderna e psicodélica que encerra o álbum com uma performance vocal etérea. “Sempre que fecho os meus olhos / O paraíso de outra pessoa me transforma em alguém novo”, O canta aqui. Enquanto eles nos levam por essa jornada cósmica e emocionalmente reveladora, não há fim para a inspiração e energia artística que eles extraíram um do outro. “Lux Prima” encontra sua força em tirar a beleza da escuridão; a capa do álbum em si é um pequeno símbolo de luz em um enorme vazio. Boa parte do álbum foi escrito na transição da presidência de Obama para o atual estado. Assim, o conceito de encontrar um resquício de luz no escuro não é desperdiçado para o público moderno.