A cada lançamento, Giovani Cidreira se mostra cada vez mais versátil. Depois de crescer artisticamente com o “Japanese Food” (2017), ele resolveu compartilhar uma mixtape incrivelmente sofisticada. Pontual e experimental, “Mix$take” chega para consolidar ainda mais sua carreira. Rapidamente, o projeto chama a atenção pela imagem pixelada na capa azul, com efeitos neon-glitch. Da mesma forma, as faixas estão recheadas de referências. O título da faixa de abertura, “Oceano Franco”, indica uma possível inspiração sonora do Frank Ocean. Dono de um timbre singular e um talento inegável para o lirismo, Cidreira nos coloca em uma espécie de meditação com sons construídos por batidas texturizadas e sintetizadores cintilantes. A melancolia dos vocais e a aura soturna das letras reforçam ainda mais essa paisagem sonhadora. Com produção de Benke Ferraz, do Boogarins, “Oceano Franco” ainda conta com a participação de Jadsa Castro. Usando elementos de “Nikes”, de Frank Ocean, a canção mergulha em um vasto oceano de influências que passam pelo R&B, pop experimental e jazz.
Liricamente, “Oceano Franco” é uma cuidadosa reflexão sobre as incertezas da vida. “Tem fogo em nossa porta, amor / Talvez eu não te veja, mas eu tô indo pra guerra / Me dê um beijo, estamos indo sem velas”, ele canta em meio aos efeitos eletrônicos. Imaginar um R&B feito com samples poderia remeter a uma escola mais tradicional do gênero. Mas este não é o caso aqui, já que “Oceano Franco” caminha de forma muito mais lenta. É uma música mais interessada em experimentos – com camadas e texturas de sintetizadores -, sempre com um filtro propositalmente falho surgindo no meio do caminho. “Oceano Franco”, pode até ter uma alusão a sonoridade de Frank Ocean, mas ela se transforma em algo maior que isso: uma peça taciturna pincelada por teclas fantasmagóricas de piano. A voz melancólica de Giovani Cidreira ainda está o tempo todo ali, ecoando vagarosamente entre metáforas e emoções. A bateria eletrônica, os sintetizadores e os samples criam uma nova passarela para ele. Algo noturno, com um minimalismo que evoca a saudade e contempla a nostalgia. Com a esfumaçada “Oceano Franco”, ele se aproxima de um R&B minimalista e alternativo inspirado por outros nomes como o de Blood Orange (Dev Hynes).