Em um momento de grande insegurança cultural e global, é fácil se perder na sobrecarga sensível do The Chemical Brothers.
No ano passado, grupos como The Orb, Underworld, The Prodigy e Orbital lançaram seus melhores materiais em anos, depois que tropeçaram um pouco durante os anos 2000. Tom Rowlands e Ed Simons, mais conhecidos pelo misterioso apelido The Chemical Brothers, foi um duo que surpreendeu durante a década de 90, com discos seminais como “Exit Planet Dust” (1995) e “Dig Your Own Hole” (1997). Mas você pode facilmente ser perdoado se você acha que a dupla perdeu um pouco de sua energia nos lançamentos que vieram após a obra-prima “Surrender” (1999). Os dois estão juntos há 30 anos e no início se chamavam The Dust Brothers. No entanto, uma banda americana com o mesmo nome forçou-os a procurar uma alternativa. A dupla de Manchester escolheu se apresentar ao mundo como The Chemical Brothers, apesar de querer deixar uma pequena lembrança em seu primeiro LP. Ao longo dos anos, vimos o duo fazendo tudo com a música. Sua relativa proximidade com o electro-house, popularmente conhecido como EDM, eclipsou sua verdadeira relação com o dance da virada do século.
O seu rejuvenescimento continua e é mais evidente no seu nono álbum de estúdio, “No Geography” – um caso extremamente melódico repleto de ganchos memoráveis. Aqui, The Chemical Brothers quase não se esforça para inovar, visto que mantém os sons pouco filtrados de seus primeiros discos. Como resultado, “No Geography” é um dos projetos eletrônicos mais divertidos do ano. Muitos sons utilizados aqui foram arrancados diretamente do início dos anos 90. A reveladora “Eve of Destruction”, por exemplo, define um tom pré-apocalíptico sobre notas de sintetizador, antes de quebrar tudo com uma linha de base funky e disco. Não é a maneira mais reconfortante de começar um álbum, mas serve de base para o que está por vir. Soa mais deprimente do que realmente é, embora eles ainda produzam músicas bem dançantes. Apresentando convidados como o rapper japonês Nene e a cantora norueguesa AURORA, o duo produziu um repertório mais orientado para o dance, em vez do pop dos seus últimos lançamentos. Porém, isso não significa que o conteúdo lírico seja leve.
Usando muitas amostras, o grupo retornou ao que faz melhor. As músicas são hinos e a repetição é a chave, assim como o uso imaginativo de teclados e programação eletrônica. A partir da primeira faixa, The Chemical Brothers mistura divertidos ritmos com uma borda sonora de forte impacto e consequentemente não há momentos de tédio. A amplitude estilística da obra acolhe novas bases e entonações que fazem “Bango” aparecer sem qualquer aviso. É impossível não visualizar uma pista de dança cheia de pessoas suadas pulando e gritando. Ainda assim, apesar de apresentar alguns dos singles mais fortes e diretos de sua última década de sucesso, “No Geography” é melhor consumido como uma experiência frente a frente. A maioria de suas 10 faixas fluem uma para a outra confortavelmente, com o trio de abertura formando uma construção perpétua antes de explodir com a bateria vibrante e os sintetizadores da faixa-título. Essa canção diminui as batidas e fornece singelas melodias, vozes pré-gravadas e sintetizadores emocionalmente carregados.
Da maluca e glamorosa “Bango” à cativante “Got to Keep On”, a dupla consegue misturar sintetizadores eletrônicos experimentais com linhas de baixo convencionais. Com esse par estranho, surge uma justaposição de tom, uma vez que a maioria das faixas tem algum tipo de conteúdo lírico positivo e inspirador. No entanto, eles fornecem dramáticas batidas eletrônicas que amortecem a vibração inspiradora. Embora isso seja claramente intencional, em alguns pontos impede que faixas como “Got to Keep On” sejam divertidos hits de verão. Sua personalidade encoraja um último suspiro, antes que “Gravity Drops” nos dê um sopro em forma de distorção harmônica – mas não é, evidentemente, uma interrupção. Mesmo com títulos como “Mad as Hell” e “Free Yourself”, não é um álbum político de forma alguma, mas a capa animada – um tanque enfrentando nuvens cor-de-rosa se reunindo em forma de rosto, ao mesmo tempo carismática e ameaçadora – parece oportuno, no entanto. Trinta anos depois, The Chemical Brothers ainda está pavimentando seu próprio caminho de forma puramente escapista.
Baseado no synth-pop, “The Universe Sent Me” recupera o som mais electro da dupla. Ademais, a tracklist funciona a seu favor, como na fantástica “MAH” ou em “Free Yourself” (a canção mais clássica do The Chemical Brothers encontrada por aqui). A música de destaque, no entanto, é a incrível “We Got to Try” – que combina um excelente sample com um colapso eletrônico tão futurista que parece ter sido roubado do ano 3000. O registro termina com a lenta “Catch Me I Am Following”, que fornece uma conclusão naturalmente bonita. Enquanto algumas faixas sofrem de repetições por conta da duração, os drops monstruosos que elas fornecem valem a compilação. Há muito o que amar em “No Geography”, provando que você não precisa inovar para soar tão fresco como sempre foi. Depois de três décadas, The Chemical Brothers parece ter se tornado muito seguro com sua própria história. Eles não estão tentando estar na vanguarda de um movimento, apenas se concentrando em fazer discos completamente sólidos. “No Geography” é reproduzido como um álbum e deve ser ouvido como tal. Todo a tracklist mantém o ouvinte entretido e mais do que interessado.