Os últimos dois lançamentos da Cate Le Bon – “Crab Day” (2016) e “Hippo Lite” (2018), como parte da dupla DRINKS, com Tim Presley – foram enganosamente espinhosos. Ela tem uma voz fria e igualmente doce, imbuída com um equilíbrio enigmático. Mas com o passar do tempo, ela está ficando cada vez mais atraída por tons aglomerados e arranjos que se projetam em ângulos improváveis. Le Bon retrocede um pouco à estranheza em “Home to You”, o último single de seu próximo álbum de estúdio, “Reward’. O baixo elétrico situa a música diretamente nos sons da década de 60 que ela tanto ama; uma mistura de pulsos em staccato e texturas levemente desgastadas.
Além dos elementos de new wave nos contrapontos flagelados, há um som acolhedor e tranquilizador em sua borda. Mas suas letras são tudo, menos familiares. O conteúdo lírico parece um diário dos sonhos de alguém com todas as outras páginas arrancadas, ou metade das palavras tornadas ilegíveis. Irônico, uma vez que se trata de uma música sobre memórias. Criado em colaboração com os moradores do bairro de Lunik IX, em Kosice, segunda maior cidade da Eslováquia, o vídeo lança uma luz íntima sobre a ideia abstrata de “lar” através das lentes da comunidade cigana – alvo de perseguição e negligência em toda a Europa. Sem acesso suficiente às necessidades básicas, a ideia de “lar” para essa comunidade assume um significado diferente. Filmado em vários locais, o diretor capta momentos de humanidade que ecoam além dos limites de Kosice.
“Lar para você / É um bairro da cozinha noturna / Lar para você / É atrocidade na cidade”, ela canta com determinação e um rastro de clarividência. Ela procura a fonte do distúrbio, fragmentando uma palavra de cada vez, e finalmente cantando no refrão: “Última vez para todo o tempo”. Mesmo da maneira mais direta, Cate Le Bon não consegue resistir e brinca levemente fora de controle. “Home to You” é um banho luminoso de avant-pop que basicamente explora a busca para pertencer a um lugar. Uma canção cheia de otimismo que equilibra um arranjo de cordas com xilofone e um alto refrão. Para Cate Le Bon, o “lar” não é apenas um lugar, é a empatia e a beleza de um sorriso recíproco.