Aquela Marina – a letrista que não tinha medo de detalhar seus gostos – simplesmente desapareceu.
Marina Diamandis está de volta com um novo apelido e novo álbum duplo, a fim de contar suas experiências desde o “Froot” (2015). Depois que retirou publicamente o “and the Diamonds” do seu nome artístico, Marina trabalhou para eliminar a personalidade de suas eras passadas, incluindo a imagem pop saturada do “Electra Heart” (2012) e a representação dinâmica do “The Family Jewels” (2010). Quem estiver familiarizado com a Marina Diamandis, provavelmente sabe que ela é incrivelmente boa em se reinventar. Ela já explorou conceitos muito diferentes desde que lançou seu disco de estreia. Estamos acostumados com uma nova era – uma mudança drástica de som, estética e tema – toda vez que um novo álbum está no horizonte. Muita coisa realmente mudou desde que “The Family Jewels” (2010) foi lançado. “LOVE + FEAR” é um álbum menos conceitual do que a maior parte de sua trajetória. “Electra Heart” (2015) explorou as identidades femininas através do personagem principal, enquanto a tour do “Froot” (2015) apresentou mudanças de figurino e cenografias para combinar com a empoderada estética do repertório.
Mas “LOVE + FEAR” é baseado em uma ideia muito simples que ela descobriu enquanto estudava psicologia na Universidade de Londres. Essa inspiração transformou o álbum em um material duplo que reconhece a dualidade de nossas mentes e corações como seres humanos. A primeira metade, intitulada “LOVE”, fornece uma luz vulnerável que não a vimos invadir completamente antes. Marina claramente encontrou liberdade e alegria ao redescobrir seu amor pela música. Ela baixou a guarda e pela primeira vez compartilha canções que tocam em alguns dos aspectos mais pessoais da vida. Essa primeira metade é mais sonoramente variada e, inesperadamente, a mais coesa das duas. “Handmade Heaven” atua como um prólogo para o que está por vir. O som é uma reminiscência de suas músicas mais suaves, como “Immortal”, “I’m a Ruin”, “I Am Not a Robot” e “Valley of the Dolls” – mas o conteúdo lírico é completamente diferente. Produzida por Joel Little, é serena, inspiradora e dolorosamente bonita. “Eu invejo os pássaros no alto das árvores / Eles vivem suas vidas com tanto propósito”, ela canta nas primeiras linhas.
Em vez de nadar na escuridão, como fez tantas vezes no passado, Marina encontra uma paz reconfortante no refrão: “Mas neste paraíso feito à mão, eu ganho vida / Pássaros azuis para sempre colorem o céu / Neste paraíso feito à mão, nos esquecemos do tempo / Porque pássaros parecidos voam juntos”. É uma balada melódica que coloca alguma influência de Lana Del Rey no meio das harmonias sonhadoras. Marina mostra seus vocais de forma teatral e enfatiza a produção cinematográfica. Musicalmente, “Handmade Heaven” pode ser melhor descrita como uma música pop midtempo com uma leve produção eletrônica e um estilo vocal característico que se move elegantemente entre tons mais profundos e notas altas. Nas letras, Marina claramente inveja os animais que vivem sua vida com propósito. E no momento que o refrão chega, ela ganha vida em seu paraíso “feito à mão”. A crescente melodia do refrão representa sonoramente o céu mencionado nas letras. É uma canção contemporânea e madura, mas não deixa de ser uma escolha perigosa para primeiro single. “LOVE” também contém uma das primeiras canções de amor que tivemos a chance de ouvir: “Superstar” é uma homenagem genuína diferente de tudo que ela fez antes.
No entanto, também é um pop mais básico com uma queda instrumental previsível após o refrão. Não é uma das faixas mais fortes, mas tem o seu lugar no álbum. Outro destaque da primeira parte é o terceiro single, “To Be Human” – provavelmente a música mais importante do repertório, de acordo com a própria Marina. O tema encapsula a unidade em toda humanidade discutida, e os sentimentos universais que podemos ver no restante do “LOVE + FEAR”. “Orange Trees”, que relembra suas raízes como mulher grega, soa tão quente e ensolarada quanto os dias que ela ficava sentada junto às laranjeiras. “Baby”, a colaboração com Clean Bandit e Luis Fonsi que sinalizou o seu retorno ao pop, foi estranhamente colocada no meio do “LOVE”. “Baby” não falha em trazer as características que fez o Clean Bandit famoso. Os vocais vendem com facilidade a experiência que a música propõe. Muitos esperavam inovação, mas “Baby” é mais do mesmo. Ela tem todos os ingredientes para o sucesso internacional e flerta com as tendências do pop latino, misturando batidas tropicais com riffs ensolarados. Após a introdução de Luis Fonsi, o violão desliza e acompanha a sedosa entrega giratória da Marina.
Ela transmite perfeitamente o desejo melancólico de rever um amor do passado. No entanto, agora está em um relacionamento estável com outra pessoa. “Dei meu coração para outro amor / Não sei como eu deixei você ir”, ela canta. Marina e o seu amante do passado terão uma última dança, porque agora ela pertence a outra pessoa: “Acho que tive minha última chance / E agora esta é a nossa última dança”. Luis Fonsi acrescenta um verso em espanhol na ponte, antes de cantar o último refrão ao seu lado. Essa combinação nunca me veio à mente, mas Clean Bandit fez acontecer. Marina reflete sobre um romance vertiginoso, mas finalmente admite que é hora de seguir em frente. Apesar de contar uma história de arrependimento e saudade, “Baby” possui melodias animadas, altas trombetas e galopantes batidas de tambor. A percussão em si tem um reflexo do poderoso baixo que normalmente ocupa o centro do habitual catálogo eletrônico do Clean Bandit. Entretanto, sua inclusão parece meio desarticulada e desnecessária. Sonoramente, a segunda metade do “LOVE” assume um tom mais sério e aterra o ouvinte com temas mais oportunos.
A alegria por trás da primeira metade é imediatamente reconhecível e, embora muitas faixas não sejam instantaneamente memoráveis, você não pode deixar de se sentir feliz pela Marina. O palato sonoro é coeso até as últimas faixas, e assume um tom mais sombrio com a transição para o “FEAR”. Essa parte trabalha com letras que tematicamente gravitam em direção à Marina com a qual estamos mais familiarizados. “FEAR” tem mais faixas sonoramente diversas que examinam o modo como operamos o medo. No entanto, as coisas ficam um pouco mais complicadas. Podemos ver o mesmo som do “LOVE”, mas desta vez é um pouco mais parecido com a Diamandis do passado. Os arranjos de cordas e as batidas parecem diferentes do som latino de algumas faixas do “LOVE”, e é fácil ver a influência que o Clean Bandit exerceu na Marina. O som eletrônico espaçoso parece tanto uma homenagem quanto resultado do tempo que ela passou com eles. Entretanto, os refrões do “FEAR” são mais simples e as melodias mais familiares. É o tipo de música que precisa ser digerida lentamente, para depois voltarmos e explorarmos em nosso próprio tempo. “FEAR” é muito mais direto e sarcástico em termos líricos, no entanto.
“Karma” e “No More Suckers” são animadas e empoderadas, mas de forma diferente da primeira metade do álbum. “Karma”, em particular, nos remete à melodia latina de “Baby” – uma faixa sobre como o comportamento ruim pode abraçá-la. Enquanto sua guarda está no “FEAR”, Marina usa uma linguagem metafórica, e o lirismo mantém um diálogo interessante. Alguns vislumbres de Marina and the Diamonds podem ser encontrados em “Emotional Machine”, onde ela fornece vocais que simulam o zumbido de uma máquina. Essa canção mostra a clara transição do “Froot” (2015) para o “LOVE + FEAR” – poderia facilmente ter servido como faixa bônus do primeiro. “Soft to Be Strong” encapsula o tema geral do repertório e pode ser aplaudida por revelar sua vulnerabilidade. Enquanto Marina criou este álbum para ter temas individuais em cada lado, a divisão que ela tentou definir não ficou muito clara. O que diferencia essa coleção dos seus trabalhos anteriores é que suas músicas sempre foram dependentes de imagens e descrições específicas. Parte do que é excitante na Marina como artista é sua disposição em explorar temas além da superfície. Mas este álbum não corre riscos. Enquanto “LOVE + FEAR” pode ficar confortavelmente na mesma prateleira do reino pop do “Electra Heart” (2012), infelizmente não se destaca como um grande corpo de trabalho.