Apesar de ter alguns destaques, “Beauty Marks” é marcado por fillers que deixam os seus talentos em grande parte subutilizados.
Depois de quinze anos de carreira e 1 Grammy em seu nome, Ciara merece algum tipo de vitória. Sua marca espumante de pop e R&B ainda pode ser ouvida em qualquer estação de rádio – e com razão. Ela fez tudo à sua maneira, mesmo que às vezes as músicas não sejam tecnicamente interessantes. Depois de assinar um contrato com a Warner, ela herdou uma gravadora chamada Beauty Marks Entertainment. Um momento de vitória para uma artista que ficou presa na Epic Records por algum tempo. Seu sétimo álbum de estúdio, “Beauty Marks”, tenta exaltar o poder das massas, agindo como se fosse algo que precisamos durante esses tempos difíceis. O problema é que nós já ouvimos álbuns como esse, e com músicas de mais qualidade. Lançando quatro anos depois do “Jackie” (2015), Ciara agora trabalha como sua própria gerente – mesmo que o início de sua carreira não pudesse ser melhor: alguns singles top 10 na Billboard Hot 100 – incluindo “Goodies”, “1, 2 Step” e “Oh”. Sucesso semelhante aconteceu em “Ciara: The Evolution” (2006), que gerou singles como “Get Up” – da trilha sonora de “Ela Dança, Eu Danço” – “Promise” e a viciante “Like a Boy”. Naquela época, a mídia começou a chamá-la de princesa do crunk e frequentemente a comparavam com Janet Jackson.
Enquanto ela marcou outro hit com Justin Timberlake, “Fantasy Ride” (2009) perdeu lentamente o apoio da gravadora, visto que não estavam felizes com as baixas vendas. Como se a situação não pudesse piorar, “Basic Instinct” (2010) ficou completamente abaixo do esperado, fazendo com que Ciara pagasse sozinha US$ 100 mil do seu próprio bolso pelo videoclipe de “Gimmie Dat” devido à falta de apoio. Então, ela recomeçou sua carreira com a Epic no lançamento do álbum auto-intitulado de 2013. Agora, quatro anos depois, ela decidiu criar um novo capítulo na forma de seu próprio selo – obtendo total controle criativo e promocional. Em vez de se afastar da direção emocional que o “Jackie” (2015) tomou, Ciara se inclinou ainda mais para a sua vulnerabilidade. Ela nos deu um vislumbre do “Beauty Marks” há quase um ano quando divulgou “Level Up”, faixa que inspirou um desafio online. Estranhamente, os executivos da antiga gravadora acreditavam que a faixa iria fracassar. Ninguém mais pode trazer essa energia como ela, e na superfície, é o que a separa de outras estrelas de R&B dos anos 2000. Dadas suas habilidades de dança, é fácil esquecer, às vezes, que ela também é compositora – embora tenha sido sua caligrafia que inicialmente chamou atenção da indústria.
Esta versatilidade é aparente em “I Love Myself” e sua batida guiada pelo piano. O desnecessário verso de Macklemore ameaça diminuir a mensagem de autoestima, mas a sinceridade da Ciara define o tom do que está por vir. Se ela está pulando sobre os sintetizadores oitentistas da pop-disco “Thinkin ‘Bout You” ou celebrando seu casamento no R&B de “Greatest Love”, Ciara nunca pareceu tão positiva – “Greatest Love”, particularmente, é uma declaração de amor para Russell Wilson. Liricamente, mostra sua gratidão pelo marido, como ele a ajudou e como a faz se sentir completa. Em determinado momento, Ciara lhe agradece por ter aceitado seu filho. Ela está cheia de amor e canta apaixonadamente sobre a produção sensual. Impulsionada pelo trabalho suave e ritmado da bateria, “Greatest Love” é o lugar ideal para ela mostrar suas proezas vocais – por isso me pergunto porque ela é tão subestimada. “Dose” a encontra olhando para suas raízes fincadas em Atlanta, Geórgia. É uma escolha perfeita para qualquer torcida, e poderia facilmente fazer parte de um set da Beyoncé. “Jackie” (2015) foi definido, em partes, pelo fim de seu relacionamento tumultuado com o Future, então é agradável vê-la tão aberta e espontânea.
Em nenhum lugar isso é mais claro do que na faixa-título, que termina as coisas com uma nota sentimental e evita as armadilhas que a maioria das baladas de piano enfrentam. Co-escrita por Skylar Grey, “Beauty Marks” é uma de suas músicas favoritas, destacando-se também como uma de suas melhores baladas. É exatamente como uma música de fortalecimento deve ser: crua, apaixonada e emocionante. Enquanto a excêntrica balada “Trust Myself” é um pequeno momento de sedução, Ciara tenta fluir energia de “Set” e “Girl Gang”, com Kelly Rowland, embora nenhuma seja tão memorável. “Freak Me” fornece um sabor urbano, mas pega emprestado sons tropicais estereotipados, ao passo que “Na Na” nos dá uma sensação espanhola com suas cordas de guitarra e batidas de dancehall. Pela sétima vez, Ciara permanece fiel à sua direção musical e suas características distintas. Mas embora a diversidade possa ser aplaudida, “Beauty Marks” às vezes perde o impulso. Outro aspecto negativo é que Ciara já havia lançado cinco singles antes do seu lançamento. No entanto, o seu trabalho duro faz vista grossa para alguns fracos momentos do “Beauty Marks”. Ela está na melhor fase de sua vida privada desde 2006, e é por isso que esse álbum merece pelo menos um pouco de reconhecimento.