As limitações de DJ Khaled são evidentes aqui: há muitos artistas espalhados pelo repertório, mas nenhuma intenção clara.
Em seu álbum de estreia, “Listennn… the Album” (2006), DJ Khaled desenvolveu uma fórmula que apareceria em todos os discos seguintes: orquestrar colaborações com rappers populares, desempenhar o papel ambíguo de um MC motivacional e esperar que qualquer uma de suas músicas apareça nos charts. Muitos se questionam qual o papel exato que Khaled desempenha na criação dos álbuns; ele não faz rap ou canta, nem é mais DJ. Dito isto, nada mudou em seu décimo primeiro álbum de estúdio, “Father of Asahd”, exceto pelo fato de que ele tem um filho e parou de colaborador com Ace Hood. Claro, há artistas recém-chegados como Lil Baby e Gunna, mas esses rappers não são tão reconhecidos quanto os veteranos Lil Wayne, Jay-Z e Nas. Teoricamente, Khaled poderia estar explorando talentos e usando sua plataforma para emparelhar artistas conhecidos com novatos, mas ele está mais ocupado pensando nos possíveis hits. Em “Father of Asahd”, ele está determinado a recriar os sucessos do seu último álbum, “Grateful” (2017). Pode-se chamar de abordagem cínica, mas não é o estilo do Khaled – é algo mais preguiçoso. “No Brainer”, lançado originalmente em julho, é uma reprise menos cativante de “I’m the One”, com a mesma presença de Justin Bieber, Chance the Rapper e Quavo.
Após conseguir um hit com sample do Santana em “Wild Thoughts”, Khaled tenta mais uma vez lucrar com a nostalgia dos anos 90. “Freak N You” possui uma base desajeitada do hit de Jodeci de mesmo nome, enquanto “Just Us” apresenta o grande valor de “Ms. Jackson”, do OutKast. Felizmente, a presença de SZA se transforma em uma graça salvadora. Com uma filosofia ambiciosa, mas sem uma visão genuína, DJ Khaled é deixado à mercê dos artistas que ele convida para contribuir com seus álbuns. Afinal, ter uma lista de 29 artistas combinados em 15 faixas é surpreendente. Ironicamente, quando as coisas desaceleram e transmitem uma sensação mais reflexiva e profunda, o álbum alcança seu pico. Chame isso de progressão, ou sucessão, mas tudo em tudo, “Father of Asahd” é exatamente o que esperávamos: banal e exaustivo. O álbum tem o nome do seu filho, que foi nomeado produtor executivo do seu último registro. “Ele me inspira”, disse Khaled. “Asahd, para mim, é a forma mais pura de amor. Ele é meu filho e tudo o que eu faço é para ele”. A primeira faixa, “Holy Mountain”, tem uma vibe de reggae com características especiais de Buju Banton, Sizzla, Mavado e 070 Shake. É uma música para dançar, e isso é muito claro quando a batida cai como uma montanha-russa.
Liricamente, ela fala da subida íngreme ao sucesso e das dificuldades enfrentadas lá. Embora 070 Shake continue relativamente nova no mundo do rap, seu forte gancho solidifica a mensagem da música: “Digamos que eu não conseguiria, sem ser testada”. As próximas duas faixas foram produzidas pelo onipresente Tay Keith. “Wish Wish” apresenta Cardi B e 21 Savage, mas é uma música forçada e rudimentar, enquanto “Jealous”, com Chris Brown, Lil Wayne e Big Sean, nos leva de volta aos anos 2000 com seus sons de electro-R&B. “Higher”, uma das faixas mais profundas, conta com John Legend e o falecido Nipsey Hussle – um ávido ativista comunitário conhecido por contar histórias em suas músicas. É uma das poucas faixas realmente convincentes. Uma canção de hip hop e R&B agridoce e um testamento estranhamente adequado à respeitada, mas controversa vida de Nipsey Hussle. “Olhando para minha vida, faço meu coração disparar / Dançando com o diabo até que vi seu rosto / Eu estava pensando em movimentos de xadrez, mas era a graça de Deus”, ele diz aqui. Não está claro quando a produção dessa música foi feita, mas as harmonias do refrão e a influência gospel que sustentam a voz de Nipsey acertam você em cheio. Seguindo o exemplo, “Won’t Take My Sout” nos lembra porque Nas ainda é um dos melhores rappers que saiu de Nova York.
Os vocais roucos e apaixonados de CeeLo Green complementam o pano de fundo: “Você pode ver a dor em meus olhos / Veja as trilhas em minhas lágrimas”. Dito isso, “Weather the Storm” contém outro momento emocionante, graças ao verso de Meek Mill. A nostalgia continua com “Big Boss Talk”, com participação de Jeezy e Rick Ross, que nos leva de volta ao tempo onde os logotipos Maybach e Snowman dominavam a MTV. Finalmente, “Thank You”, novamente com Big Sean, que é notoriamente subestimado, contém um dos melhores lirismos do álbum. Aqui, ele cospe linhas como: “Porque algumas emoções são muito desgastantes para continuar pagando / A vida é o que você faz, eu sei que vou fazer isso com certeza”. “Top Off”, com Jay-Z, Future e Beyoncé, infelizmente não corresponde ao poder de estrela. É tão sem graça que eu senti dificuldades para encontrar algum elogio para essa música. “Top Off” prova que, muitas vezes, DJ Khaled sufoca o talento dos convidados com suas ad-libs e produções datadas. No papel, é uma parceria que poderia funcionar, afinal são grandes personalidades envolvidas. Porém, não conseguiram criar algo no mínimo cativante. Tudo somado, esse álbum é uma grande decepção, mesmo com tantos talentos envolvidos. DJ Khaled pode ser um dos magnatas mais proeminentes do rap, mas seus álbuns estão ficando cada vez mais antiquados.