Com “7”, em vez de mesclar o country com o hip hop novamente, Lil Nas X segue até a fronteira do rock com o rap.
Ame ou odeie, mas “Old Town Road” do Lil Nas X, nome artístico de Montero Lamar Hill, é um fenômeno cultural e provavelmente uma das maiores músicas de todos os tempos – pelo menos em termos de streaming. De alguma forma, o remix com o Billy Ray Cyrus catapultou a música para alturas estratosféricas. Com esse single, o rapper reinou supremo nas paradas da Billboard e ganhou destaque internacional. Mas enquanto “Old Town Road” foi ironicamente reforçada por lamentos dos fãs de country, que criticaram sua mistura de rap e country como um insulto ao aspecto tradicional, o primeiro EP do Lil Nas X tem outras influências. Ele tem apenas 20 anos, mas já provou que pode navegar nos holofotes com destreza e charme. “7” serve como um teste decisivo para determinar a direção que ele quer seguir como artista, além de seus pontos fortes e limitações. Vamos saber se “Old Town Road” será um trampolim para um sucesso duradouro ou apenas um hit de um artista viral de hip hop – assim como Desiigner, Bobby Shmurda e Silentó. Dito isto, é chocante e decepcionante ouvir “7” em sua forma final.
As sinceras reflexões do Lil Nas X sobre como a fama repentina azeda os relacionamentos não conseguem capturar a engenhosidade, personalidade distinta e a atratividade de “Old Town Road”. Mas embora não transponha sua encantadora excentricidade no EP, ele usou sample do Nine Inch Nails como base para expandir sua paleta roqueira. “Panini”, por exemplo, interpola acidentalmente “In Bloom” do Nirvana, enquanto “F9MILY” é uma colaboração com Travis Barker do blink-182 e “Bring U Down” foi produzida por Ryan Tedder do OneRepublic. Quando ele não está cantando com seu sotaque sulista, sua voz fica propensa a desmoronar a qualquer momento. “Rodeo” provavelmente será outro hit, uma vez que o fator de crescimento e o verso da Cardi B são elementos de destaque. Ironicamente, quando Nas X fica em sua zona de conforto, o EP se torna agradável. Há alguma personalidade, especialmente quando ele usa seu sotaque sulista. A experiência é leve, divertida e totalmente inevitável; tipo “Old Town Road”. As cordas distorcidas da guitarra estão encharcadas de reverberação e complementam perfeitamente a sua profunda melodia.
Da mesma forma, “Panini” possui uma das melodias mais refinadas do EP, além de fazer uma mistura inusitada de pop, trap e R&B. A batida diminui no intervalo do refrão abrindo caminho para um gancho de tirar o fôlego. É o tipo de música que tem o potencial de ancorar suas performances nos próximos anos e pavimentar o caminho para a vida depois que “Old Town Road” morrer. “Panini” faz referência a um personagem de “Chowder”; o final da série infantil foi ao ar na Cartoon Network em 2010 quando Nas X tinha 11 anos. Ele canta sobre como o personagem Panini – que por acaso é um coelho rosa – está sendo “malvado” para ele, apesar do seu carinho mútuo. Esse sentimento tocará os adolescentes de hoje, enquanto as crianças dos anos 90 se lembrarão de “In Bloom” durante o refrão. O clássico do Nirvana fornece a melodia para grande parte de “Panini”. A música encapsula habilmente suas origens do Soundcloud e seu gosto por qualquer instrumentação sombria.
O pop punk de F9mily (You & Me) possui acordes de guitarra e tambores tão genéricos que chega a ser doloroso – sem mencionar as letras banais. “Bring U Down”, por sua vez, tece sobre uma fina linha entre a suavidade e a idiotice. É desconcertante saber que Ryan Tedder ajudou a compor letras como: “A mídia está chamando, isso é TMZ / Eu estou contando seus segredos, então é melhor se preparar para sofrer”. Não dá para saber se é um esforço idiota de tentar ser engraçado ou uma tentativa frustrada de dizer algo significativo. De qualquer maneira, é uma peça de rock estridente tão ruim quanto qualquer coisa que o Logic fez no “Supermarket” (2019). Lil Nas X perde severamente o foco quando expande sua paleta sonora. Nada fora do que o tornava famoso soa genuíno. Mas não podemos colocar toda a culpa nele – não entendi porque a Columbia achou que Travis Barker e Ryan Tedder poderiam ajudá-lo a encontrar seu nicho. Estranhamente, as pessoas que o contrataram esqueceram que ele já tinha sua própria personalidade. Embora tenha atendido às expectativas comerciais da gravadora, “7” é uma abominação absoluta e, salvo duas exceções, o EP não capta a magia de “Old Town Road”.