“We Are Not Your Kind” é uma profunda e horripilante demonstração da repulsa da banda.
Quando se trata de uma longa carreira em qualquer forma de arte, o crescimento é uma necessidade. Mais de uma década atrás, o Slipknot realizou um ponto de virada com o “Vol. 3: (The Subliminal Verses)” (2004). A partir desse álbum, a banda adotou um som agressivo juntamente com um canto polido. Essa dualidade de tom e energia, é claro, dividiu o público. Em “We Are Not Your Kind”, a pulsante percussão da banda está na vanguarda quase tanto quanto a voz de Corey Taylor – embora a formação clássica composta por Clown, Chris Fehn e Joey Jordison tenha se fragmentado. “.5: The Gray Chapter” (2014) viu Jordison substituído por Jay Weinberg enquanto Fehn teve uma separação desarrumada no início deste ano. Dito isto, “We Are Not Your Kind” tem elementos de produção mais amigáveis ao rádio – e para ser honesto, esses elementos prejudicam o álbum mais do que qualquer outra coisa. Diferente de quando “Duality” foi um sucesso, você não vai ligar a MTV ou o rádio e ouvir alguma coisa do “We Are Not Your Kind” – ou de qualquer outro álbum de metal. Neste ponto, duas décadas em sua carreira consistentemente popular, o Slipknot provavelmente não está preocupado com o que alguém pensa.
“We Are Not Your Kind” não depende da nostalgia do nu metal e não parece influenciado por tendências do momento. É um produto feito do seu próprio jeito, e as pessoas ainda estão aprendendo a se apegar a esse estilo 20 anos após a sua estreia. O repertório começa com “Insert Coin”, um instrumental sinistro e assustador que lentamente nos leva ao mundo teatral da banda. O primeiro single, “Unsainted”, possui um dos gritos mais brutais do Corey Taylor. Desde o minuto em que ele exclama “estou finalmente me soltando” até a última nota de “Solway Firth”, Taylor mostra que não perdeu uma polegada de sua entrega vocal. Quando ele assume o comando de “Birth of the Cruel”, a guitarra se torna igualmente ameaçadora, mas com um efeito cambaleante em contraste com o típico ataque de thrash metal. Depois de duas músicas completas, o disco passa por outro interlúdio com “Death Why of Death”, à medida que as transições continuam até a hostil “Nero Forte”. Seja o latido feroz de “Critical Darling” ou os turnos entre gritar e cantar de “Not Long for This World”, Taylor prende a nossa atenção. “A Liar’s Funeral” traz um lado mais suave para o centro do palco, mas sem se afastar do típico som do Slipknot.
Enquanto Taylor lidera as mudanças melódicas, estabelece um ritmo mais lento e enigmático. Uma das coisas que mais chamou minha atenção é o grau de diversidade das seções instrumentais. Aparentemente, todos os membros receberam sua devida diligência e tem tempo para mostrar seus talentos. Músicas como “Red Flag” e “Critical Darling” focam na rápida bateria de Jay Weinberg, enquanto “Nero Forte” mostra os riffs mais inflexíveis de Jim Root e Mick Thomson. Baseado apenas no título, eu sabia que “Red Flag” seria um favorito pessoal dos fãs. É outra música com uma energia brutal semelhante aos dias de “Iowa” (2001), conforme a bateria bate fortemente e os elementos eletrônicos se contorcem periodicamente. “Spiders”, uma das faixas mais intrigantes, proporciona uma sensação assustadora. Durante o gancho, a guitarra exala um brilho sombrio e emite uma vibração psicodélica. Não se deixe enganar pela lenta introdução, porque na verdade se trata de um número remanescente de “Surfacing” e “Custer”. A fragmentação da guitarra também lembra o material mais antigo da banda. Enquanto faixas como “My Pain” fornece um ar atmosférico e melancólico, semelhante ao álbum “All Hope Is Gone” (2008), é um dos números mais exclusivos do LP.
Sua escuridão desconfortável é extraída de uma instrumentação minimalista. Sob as teclas melancólicas e a batida sombria, Taylor canta: “Eu sou sua corrente e sua fechadura, não há escapatória”. As coisas voltam à tona com “Not Long for This World”, enquanto ele reintroduz sua hostilidade. O segundo single, “Solway Firth”, é um corte matador de death metal que explora a agressão mais clássica da banda. As guitarras emitem uma escuridão crepuscular, ao passo que a bateria e o baixo atacam respectivamente. Rasgando o instrumental, a letra traz uma mordida visceral. A jornada do Slipknot nos últimos 20 anos foi realmente impressionante. Com isso em mente, “We Are Not Your Kind” não apenas contribui para uma adição sólida à sua discografia, como também representa o quão longe eles chegaram. O núcleo exala uma dualidade: a raiva juvenil do passado e a maturidade do presente. O Slipknot não perdeu o rumo ou apenas decidiu mudar abruptamente, eles cresceram. “We Are Not Your Kind” é uma joia que levará tempo para que as pessoas compreendam sua profundidade e complexidade. A década passada viu a trágica morte do baixista Paul Gray, a saída do baterista Joey Jordison e o recente exílio do percussionista Chris Fehn. Entretanto, a banda continua mais intensa e emocional do que nunca.