“Fear Inoculum” é uma façanha impressionante, mas quem não for um fã ardente se esforçará para conseguir ouvi-lo por completo.
Depois de treze anos de especulação e boato, finalmente o novo álbum da banda TOOL foi oficialmente lançado. Tudo se resume a nove faixas – seis músicas e três interlúdios – e você deve se perguntar: depois de tanto tempo, o TOOL pode corresponder à expectativa? A banda certamente sabe como construir um drama. “Fear Inoculum” é uma tour pelo rock progressivo, metal alternativo, hard rock e psicodelia. O lançamento do primeiro single homônimo foi muito comentado nas redes sociais e nos fóruns musicais. As expectativas aumentaram desde o lançamento do “10,000 Days” (2006), e a pergunta mais iminente dos fãs é se esse novo material justificaria a espera excruciante. O eventual lançamento de um álbum, que durou tanto tempo quanto uma criança leva para terminar a sexta série escolar, levanta a questão da direção que o repertório tomará. Danny Carey, Adam Jones, Maynard James Keenan e Justin Chanceler nunca foram por um caminho que afastava seus fãs, mas todos os lançamentos do TOOL evoluíram para algo diferente do anterior. O ouvinte mais ansioso foi rapidamente acalmado pela faixa-título: há percussão com influência oriental, guitarras, linhas de baixo rangendo e uma voz inconfundível. A versão digital inclui três faixas instrumentais que também estão disponíveis para download para quem comprar a versão em CD.
Além dos números instrumentais, cada música ultrapassa a marca de 10 minutos de duração, uma das facetas indicativas da abordagem não convencional em andamento do TOOL. É inegável que “Fear Inoculum” é muito lento e leva tempo para ser apreciado. Isso causa uma sensação um pouco desconfortável, principalmente no ouvinte mais casual. É uma coleção aventureira que evita a inclusão de músicas relativamente mais inclinadas ao rádio. Por serem tão longas, as faixas devem ser melhores apreciadas individualmente. Dito isto, não é tão convencionalmente digerível quanto alguns de seus trabalhos anteriores. Definitivamente, é um projeto que levou muito tempo para ser criado. O talentoso quarteto cresceu como coletivo e, presumivelmente, amadureceu com a passagem do tempo. No entanto, não há dúvida que o desempenho de destaque seja atribuído a Danny Carey, mais evidente na exposição da bateria instrumental de “Chocolate Chip Trip”. O solo estranho e psicodélico exibe o conjunto de suas habilidades, mas não é um feito desconhecido para ele. As referências espirituosas do começo da carreira do TOOL e as brincadeiras líricas mais brutais, foram trocadas por reflexões sobre envelhecimento pessoal. Um bom exemplo dessa mudança temática pode ser notada em “Invincible”.
Ela possui algumas melodias acessíveis (pelo menos para os padrões do TOOL), mas são combinadas com várias camadas rítmicas, até um nível em que todos os instrumentistas tocam assinaturas de tempo diferentes simultaneamente. O foco na variação é levado ao extremo durante uma seção instrumental mais lenta, onde um riff de guitarra de duas notas é arrastado por inúmeras batidas. “Pneuma” ostenta uma reprodução lenta, ritmicamente florescida da maneira mais típica do TOOL. A tensão criada pelo ritmo nervoso em staccato é descarregada em um coro instrumental amplo e pesado, que mostra a linda guitarra de Adam Jones. Se alimentando da variação inteligente de poucas ideias melódicas, “Pneuma” é levada até um final quase sem falhas. “Descending”, uma faixa drasticamente diferente do anseio misantrópico e niilista pela devastação do “Ænima” (1996), surge com esperança diante de uma sociedade que tropeça. “Uma maneira de se manter vivo / É elementar, reunir cada fibra, mobilizar, sobreviver”, Keenan canta. Essa canção começa completamente inofensiva, com a linha de baixo definindo o clima. Suas passagens mais suaves são apenas o prelúdio antes da tempestade sônica. “Descending” leva um tempo para mostrar sua cara, mas certamente atinge a postura pesada do TOOL, particularmente comandada por um riff de guitarra minimalista.
Embora os vocais sejam fortes, Keenan também deixa seus colegas assumirem a liderança depois da marca de 7 minutos. “Culling Voices”, a música mais curta do repertório – mesmo com 10 minutos de duração -, é um veículo perfeito para os vocais de marca registrada. Ao contrário dos discos anteriores, a maior parte dos vocais estão completamente limpos e – de forma alguma distorcida por efeitos – mostram o lado mais suave de Maynard. Ainda uma música do TOOL, afinal, “Culling Voices” pode ser o ponto mais fraco do LP. Enquanto a maioria das músicas se desenvolve devagar, leva tempo para evoluir e é atenciosa e sutil em sua estrutura, “7empest” dá um tapa no cara do ouvinte depois de 1 minuto. O início é reminiscente de seus dias mais pesados, como o álbum “Undertow” (1993), mas de repente se transforma em um solo inspirado pelo Jimi Hendrix, executado por Adam Jones. Todas as sete faixas têm um valor especial, mas principalmente “7empest” – um número de metal pesado com duração de 15 minutos. TOOL parece ter conscientemente deixado de lado a busca pelo sucesso comercial e, em vez disso, contar com sua fã base leal para absorver e entender produções cada vez mais complexas. Nesse álbum, não há hits em potencial nas veias de “Sober” ou “The Pot”. Mas nenhuma música é longa por causa disso.
É perceptível que todas as notas foram reavaliadas cinquenta vezes e que boa parte das músicas foram jogadas fora e reorganizadas para serem montadas exatamente assim. A coisa toda é coroada pela familiar produção orgânica da banda. TOOL ainda funciona como uma unidade, como um grupo, como uma “ferramenta” e como um catalisador. A geração obcecada por redes sociais pode não ter paciência para sequer dar uma chance ao álbum. Mas TOOL é uma banda que você geralmente espera ouvir uma opinião diferente. Eles analisam as coisas de maneira introspectiva e quase sob uma perspectiva filosófica. Eles são conhecidos por dividir aspectos da cultura de maneiras muito diretas. “Fear Inoculum” foi ao extremo com sua abordagem sombria. Se você é um fã dedicado, irá adorá-lo, apesar da obscuridade – a melhor maneira de descrevê-lo é a calma antes da tempestade. Há menos raiva neste álbum, mas as letras parecem mais exasperadas do que qualquer coisa. O repertório assume conceitos mais espirituais em comparação com o restante de sua discografia. Não é o meu álbum favorito do TOOL, no entanto. Na verdade, é um dos mais fracos. Para ele crescer em você, será necessário muitas escutas e paciência. Se você não gosta de músicas exageradamente progressivas, este álbum não é para você.