O Chile tem sido assolado por distúrbios nas últimas semanas, já que as manifestações contra os aumentos de tarifas no transporte público geraram protestos massivos enraizados na desigualdade do país. As marchas pacíficas e a desobediência civil resultaram em saques e vandalismo, em meio a alegações de brutalidade policial; o governo impôs a lei marcial, declarou toque de recolher noturno e mobilizou tropas militares, que lançaram gás lacrimogêneo e canhões de água – as contagens oficiais contam pelo menos 12 mortos. “Estamos em guerra”, declarou o presidente conservador Sebastian Piñera. Um barulho familiar fez a trilha sonora do caos: a tradição consagrada pelo tempo de bater panelas e frigideiras como forma de protesto. Esses atos espontâneos de fazer barulho têm sido uma expressão popular de dissidência no Chile e na Argentina desde a década de 80.
Agora o barulho percussivo ganhou uma atualização do século XXI, graças a canção viral “Cacerolazo” da franco-chilena Ana Tijoux – ela é filha de pais chilenos que viviam em exílio político na França durante a ditadura de Augusto Pinochet. Em um clipe de 1 minuto, que já foi reproduzido mais de 1,6 milhão de vezes no Instagram desde que foi postado, Tijoux entoa uma peça irresistível a uma revolução em formação, dando voz às queixas populares e pedindo a renúncia de Sebastian Piñera. O coro hipnótico foi feito para protestar: “Colher de pau na frente de suas balas / E no toque de recolher da caçarola”. Mas a genialidade da música, produzida pelo francês Jon Grandcamp, é a maneira como ela mostra o barulho real de colheres de madeira e panelas em uma batida infecciosa e impossível de ignorar. A amostra converte uma música sobre protesto em um ato de resistência por si só. Em fevereiro de 2019, Tijoux se casou com Grandcamp e, em junho de 2019, deixou o Chile para se estabelecer definitivamente em Paris, França, com seus dois filhos.