Com “I Disagree”, Poppy conseguiu expandir sua musicalidade e desafiar as convenções do pop.
Ontem, Poppy lançou um álbum singular que dificilmente vai te cativar, se você não estiver familiarizado com suas músicas anteriores. A jovem de 25 anos descreveu o álbum como um processo de “demolir coisas que tentam destruí-la”; um tema poderoso que seu público certamente almeja. Poppy, nome artístico de Moriah Rose Pereira, é uma cantora relativamente nova que não pode ser colocada em uma caixa. Desde que surgiu na indústria, ela já trabalhou com diversos gêneros musicais. Em sua música, há elementos de electropop, synth-pop, dance-pop, art pop, bubblegum pop, heavy metal, nu metal e rock industrial. Lançado em 10 de janeiro de 2020, “I Disagree” contém dez faixas e abrange diversos estilos. Além dos gêneros citados acima, o álbum possui influências de metal progressivo, thrash metal, rock, dream pop e J-pop. Algumas faixas oferecem momentos genuínos, mas são cercadas de bobagens que não tem capacidade de ficar na sua cabeça. Tecendo suas sensibilidades em direção a uma energia mais pesada, Poppy faz uma mistura sangrenta entre o pop, a música eletrônica e o heavy metal. Apesar da mistura instrumental, o álbum consagra a individualidade e o empoderamento como tema central. Aqui, ela fornece um lembrete necessário para rejeitar a conformidade, considerando que “I Disagree” explora o que é confinante e libertador.
Sua reinvenção é mais evidente na faixa de abertura, “Concrete” – ela flutua momentaneamente entre o electropop e o metal, para depois fazer uma transição inesperada para o bubblegum pop. A justaposição aparentemente estranha do metal e bubblegum pop mostra como ela pode surfar por dois gêneros completamente diferentes. “Concrete” liga descaradamente a dependência de ambos os gêneros com avarias notáveis. Seu argumento é sublinhado pelo som de uma plateia cantando “Poppy, Poppy, Poppy”. Ela está focando na energia do metal e no freneticismo do pop, a fim de se transformar em uma possível popstar. Dito isto, “Concrete” é de longe a faixa mais desconcertante do álbum, soa como uma mistura inusitada de The Beach Boys, Marilyn Manson e Queen. É tão bizarro que quase funciona. Como tal, “Nothing I Need” é distinta em sua elegância e empurra o álbum para um novo território. Em seguida, “Bloodmoney” apresenta um som eletrônico industrial que nos transporta para “Anything Like Me”. O último encontra renovação em uma ponte arrebatadora, mas possui a mesma dissonância lírica das outras faixas. Todavia, sua mensagem é bem direta: ela não será moldada para atender às expectativas de ninguém. Quando ela canta “você pode ser quem você quiser, você pode ser livre” em “Fill the Crown”, Poppy pede para todos fazerem melhor uso do seu livre arbítrio.
Ela continua arrogante na faixa-título enquanto define o contexto de sua criatividade. Sua voz está angelical quando canta: “Estaremos sãos e salvos / Quando tudo queimar”. Os riffs violentos servem para destacar os vocais; “I Disagree” demonstra vigorosamente sua subversão, mas não é um caminho fácil para ela. Poppy recentemente se separou do colaborador Titanic Sinclair, acusando-o de abuso e manipulação. Um sentimento afirmado pelas linhas: “Eu discordo do jeito que você continua me pressionando”. Depois que sua autodefesa é recebida por reviravoltas, ela destrói a opressão institucionalizada. Em sua rejeição ao controle abusivo de Sinclair, “I Disagree” serve como um símbolo de sua autonomia. Sua rejeição ao controle autoritário também é revisitada em “Sit/Stay”. O título, uma referência à obediência básica aos animais, encapsula sua falta de independência. No entanto, o álbum não é um retrato de uma artista caluniada. “Sit/Stay”, especificamente, a encontra frustrada diante de sua auto realização. Poppy se recusa a ser adotada: ela assume o controle de sua identidade como indivíduo e artista. Em alguns momentos, ela acha mais fácil renunciar à liberdade em vez de se divertir. Sonoramente, “Sit/Stay” pega emprestado a era “With Teeth” (2005), da banda Nine Inch Nails, com sua programação de bateria e zumbido dando lugar a um estrondoso synth-pop.
De fato, Poppy mantém uma energia explosiva durante todo o álbum: “Bite Your Teeth” é uma epístola enigmática enquanto “Sick of the Sun” é tão efêmera quanto destruidora. “Bite Your Teeth”, particularmente, oferece alguma pausa do caos operístico; ela começa lindamente e devagar, antes de apresentar fortes elementos de death metal. A última faixa, “Don’t Go Outside”, é inicialmente acústica e suave, mas depois funde sua musicalidade com um som pós-grunge. Poppy usa os momentos finais do LP para revisitar elementos líricos das nove faixas anteriores e reafirma sua tese. “Sick of the Sun” e “Don’t Go Outside” apresentam uma direção mais promissora, pois Poppy, presumivelmente, abandona o artifício de sua personalidade. Tematicamente, ambas canções compartilham um sentimento distinto de desânimo: o primeiro detalha o seu auto isolamento, com vocais inesperadamente emotivos, enquanto o último muda o foco para o mundo exterior. A segunda metade de “Don’t Go Outside” reprisa várias músicas do começo do álbum. Sua letra assume um significado mais potente e traça um meio termo entre o dance-pop açucarado dos álbuns anteriores e o heavy metal. “I Disagree” é ilimitado e um produto fabricado pela própria Poppy. Ela expandiu sua musicalidade, além de desafiar as convenções do pop. Uma grande mudança em relação a “Poppy.Computer” (2017) e “Am I a Girl?” (2018), embora não seja completamente animador e obstinado.