Embora “Walls” não seja uma imitação do One Direction, ainda não está claro quem Louis Tomlinson é sem o apoio dos seus colegas.
Desde que se separaram, os membros do One Direction conquistaram seu próprio espaço na indústria. A maioria das boybands não cria mais do que duas carreiras solo viáveis, se for o caso, mas o One Direction está acima da média. Até agora, a única exceção foi Louis Tomlinson – o quinto e último membro a lançar um disco solo, ele tem sido o menos bem-sucedido até o momento. Depois do fim do grupo, ele apenas divulgou uma música com Steve Aoki e um dueto com a Bebe Rexha – embora ambos singles tenham conseguido um top 10 no UK Singles Chart. Nesta sexta-feira, ele finalmente compartilhou seu primeiro álbum completo. “Walls” mostra que ele encontrou conforto no britpop – a banda Oasis, em particular, é uma influência inegável para o álbum. A faixa de abertura, “Kill My Mind”, é praticamente uma homenagem para os irmãos Gallagher, enquanto “We Made It” parece uma versão moderna de “Wonderwall”. A eletricidade de “Kill My Mind” emite um chiado barulhento e mescla influências alternativas dos anos 90 com uma produção indisciplinada liderada pela guitarra. É uma canção pop punk dinâmica que trata de encontrar alguém que faça suas preocupações desaparecerem. Enquanto “Kill My Mind” é um erro de direcionamento no que diz respeito ao resto do álbum, serve como uma promessa do que está por vir.
Grande parte do “Walls” fala sobre seu relacionamento de longa data com a namorada Eleanor Calder. A faixa-título é praticamente do catálogo do Oasis, uma vez que Noel Gallagher recebeu créditos pela escrita – embora sonoramente me lembre alguma música do Coldplay. Liricamente, Tomlinson tenta quebrar os muros que suas provações e tribulações construíram ao seu redor ao longo dos últimos anos. De certa forma, ele também tentou retornar às raízes do One Direction. Antes de entrar em um hiato indeterminado, o grupo estava mais focado em cantar baladas descendentes de bandas como Keane e Snow Patrol. Ele e o Liam Payne foram responsáveis pelo desenvolvimento desse som. Embora o “LP1” (2019) tenha seguido por outro caminho, “Walls” mergulha com entusiasmo nesse estilo. Músicas como “Don’t Let It Break Your Heart”, com sua guitarra suave e refrão harmônico apresentam semelhanças com “Steal My Girl”, enquanto “Two of Us” e “Too Young” nos remetem a vibração de “Night Changes”. “Too Young”, em particular, age como uma canção de ninar com uma ternura enjoada demais para poder penetrar emocionalmente na nossa mente. Como ele disse à Rolling Stone, seus singles iniciais foram uma busca por identidade. Com a ajuda de várias pessoas, Tomlinson deu ao seu teor musical um impressionante lote de melodias.
Dito isto, não confunda esse leve elogio com um veredito. “Walls” é, na melhor das hipóteses, extremamente fraco: os arranjos são básicos e as letras completamente dependentes de clichês. Mesmo quando ele está cantando emocionalmente para sua mãe – que faleceu há três anos – na citada “Two of Us”, seu brilho inofensivo se torna uma barreira. Sob teclas de piano e batidas de tambor, ele está em seu estado mais vulnerável em sua meditação pelo luto, mas os vocais carecem de emoção. Aqui, Louis canta sobre viver a vida ao máximo, jurando: “Eu estarei vivendo uma vida para nós dois”. O álbum atinge um ponto inconfundivelmente baixo com a risível “Perfect Now”, cuja primeira linha é uma sequência reconhecidamente datada de “Little Things” sobre amar as imperfeições. Em 2020, sem o charme juvenil do One Direction, “Perfect Now” soa terrivelmente fora do lugar. Infelizmente, assim como “Little Things”, a mensagem aparece um pouco mais condescendente do que doce. Ao ouvir faixas como essa, pode ser difícil levar Louis Tomlinson a sério. “Fearless” se desvia de suas narrativas mais pessoais para oferecer conselhos clichês sobre a vida. É uma balada que explora a invencibilidade que experimentamos na juventude. Em contrapartida, “Habit” pressiona o retrocesso e faz uma viagem de volta aos anos 90, provando ser a maior influência para ele.
Não é uma experiência desagradável ouvi-lo lutar pelo controle criativo, mas no topo da cúpula que ele escala, há bandeiras do britpop da década que ele nasceu. A guitarra, bateria e a surpreendente mudança de ritmo no refrão de “Always You”, a torna inesperadamente animada e divertida. “Only the Brave”, por sua vez, quase poderia servir como introdução, em vez de encerramento. Dessa vez, Tomlinson se concentra em encontrar o amor, resumindo as diferentes mensagens do álbum. É uma música acústica simplista que se desenvolve ao longo de quase 2 minutos – terminando depois de apenas dois versos e um refrão. Até o momento, nenhum membro do One Direction teve sua carreira reduzida ao status de um Chris Kirkpatrick. Porém, nenhum deles também conseguiu nos presentear com um “FutureSex/LoveSounds” (2006). Harry Styles foi aquele que chegou mais perto de fazer algo parecido, mas seu trabalho continua sendo temperado com o conservadorismo das rádios de soft rock. Louis Tomlinson tentou adotar um estilo musical distinto, mas, em comparação com seus ex-colegas, parece que se esforçou para afastar as sombras do seu passado. Por mais que ele seja vulnerável em alguns momentos, suas mensagens tendem a falhar. O resultado é uma série de músicas que se assemelham ao Oasis, mas sem o carisma ou franqueza irreverente dos irmãos Gallagher.