“Treat Myself” tenta ser tudo para todo mundo, mas é sonoramente sobrecarregado e possui um empoderamento sem graça. Tudo é brega e clichê!
Mais conhecida pelo hit “All About That Bass”, que permaneceu por oito semanas no topo da Billboard Hot 100, Meghan Trainor lançou ontem seu terceiro álbum de estúdio. Assim como seus primeiros discos, “Treat Myself” não tem um tema consistente. Trainor fornece uma ampla variedade de mensagens sobre amor próprio, mas independentemente do seu som, ela dificilmente consegue arrancar um sorriso do ouvinte com sua atitude descuidada. Embora confiança e altivez sejam temas que valem a pena escutar, eles são retratados com pouca originalidade. Praticamente tudo no “Treat Myself” é banal, desde o som pop até as baladas previsíveis que periodicamente surgem por toda parte – sem mencionar a capa brega. Nunca é um bom sinal quando um álbum é adiado tantas vezes. Quando ocorre, geralmente indica incerteza e falta de confiança no trabalho. No caso da Meghan Trainor, ela deveria ter lançado o “Treat Myself” em duas ocasiões diferentes, mas nenhuma deu certo. Ela decidiu escrever mais músicas, que acabaram se transformando na versão mais recente do álbum que temos agora.
Trainor agora é uma mulher casada e completamente feliz, consequentemente, introduziu um amor oco em faixas como “Ashes” e “Nice to Meet Ya”. As batidas de tambor pasteurizadas são tão enjoadas que você fica com um sabor amargo na boca. Letras como “você sabe que ninguém é perfeito” são conotações tão vazias e clichês que, no final das contas, parece que ela está tentando mudar seu estilo de vida para agradar alguém. De fato, suas letras raramente são sutis. Até “All About That Bass” carregava uma estética esquisita, onde “flauta” era usada para descrever um corpo magro e “violão”, bem, você sabe. Em “Treat Myself”, mais uma vez, ela tenta aflorar a mesma atitude direta com pouquíssimo talento para a escrita. O refrão da terceira faixa, simplesmente intitulada “Funk”, é irritantemente ingênuo e repetitivo, enquanto “Nice to Meet Ya”, com Nicki Minaj, resume o seu estilo de assinatura com uma batida robótica de hip hop. Em “Wave”, ela se juntou a Mike Sabath para criar uma música que se afasta completamente do seu doo-wop. No videoclipe lançado em outubro, ela é vista dançando em cima de uma pilha de pessoas balançando como se fossem uma onda humana.
Sob a direção de Matthew Cullen, ela encena uma representação física de um romance naufragado sobre trêmulos sintetizadores. É a música mais honesta do álbum, ao lado de “Workin’ on It” – uma colaboração com Lennon Stella e Sasha Sloan, onde ela fala intimamente sobre suas lutas e inseguranças. A transição para um som acústico é uma boa mudança de ritmo, já que as vozes das três se harmonizam entre si, de modo que muitas vezes é difícil distinguir uma da outra. O primeiro single, “No Excuses”, foi co-escrito por JKash e Andrew Wells, e produzida apenas pelo último. É uma canção breve e direta que não ultrapassa a marca de 2 minutos e meio; um número uptempo corrompido pelo mesmo som explorado no “Title” (2015) – o instrumental realmente nos leva de volta para o seu primeiro álbum de estúdio. Depois de experimentar o dance-pop e o R&B no “Thank You” (2016), “No Excuses” relembra de suas raízes pop e soul com uma pitada de doo-wop. Composta por linhas de baixo, guitarras rítmicas e sintetizadores, é uma música cheia de energia. Mas apesar da produção nostálgica, não possui qualquer inovação. Parece uma canção reciclada do seu primeiro disco, com os mesmos pós e contras que o assombraram.
As letras tocam em questões de respeito e capacitação, conforme ela canta que não há desculpas para a forma como uma pessoa em particular a trata. “Você deve ter me confundido, me confundido com outra pessoa / Não há desculpas queridinho / Porque sua mãe te criou melhor que isso”, ela canta no refrão. Mesmo sendo uma canção pegajosa, a letra é extremamente fraca e banal. Infelizmente, Trainor é incapaz de nos convencer com um conteúdo tão bobo como esse. Seis anos atrás, ela não poderia se imaginar na posição em que está agora. Mas isso não é um descrédito para ela, uma vez que já teve uma carreira altamente lucrativa. Trainor vende seus talentos desde cedo – ela já escreveu para artistas como Rascal Flatts e Fifth Harmony. Também construiu relacionamentos com vocalistas que vieram antes dela, como Nicole Scherzinger, das Pussycat Dolls, que aparece em “Genetics”, e Jennifer Lopez, para quem ela escreveu “Ain’t Your Mama”. Sua mensagem registrada de amor próprio dificilmente se transforma em algo estelar. Mas a melodia perpétua no fundo de “Babygirl” adiciona um toque agradável em uma balada teoricamente gospel. “Here to Stay”, por sua vez, revela o seu alcance instrumental.
Ela é carregada por um violão que contrasta com o uso rotineiro da guitarra e bateria. A música é sobre indivíduos que mantêm um relacionamento, mesmo que seu parceiro tenha muitas falhas. Às vezes, Trainor não tem medo de dizer às pessoas como ela se sente. “Evil Twin” é um exemplo de sua ousadia, pois lança uma luz sobre suas inseguranças e más decisões, a ponto de personificá-las. “Eu me perco no fundo / Ela é a estrela do show / Tenho que lidar com os problemas dela / Quando ela perde o controle / Eu sei que não posso domá-la / Eu nem mesmo tento / Então deixe-me pedir desculpas”, ela canta. Isso dá um tom humorístico às suas inseguranças e mostra seu aborrecimento por sua incapacidade de superá-las. A essa altura, porém, as composições são banais demais para serem registradas. Para um álbum que significou muito para a sua carreira, “Treat Myself” acaba sendo uma escuta cansativa, cheia de pop fabricado e milenar que não parece ter qualquer inspiração por trás. Muito raramente, o ouvinte vislumbra sua verdadeira honestidade. Sim, ela representa uma imagem positiva do corpo, mas não há um momento onde leva essa atitude para novas alturas.