Como um todo, “Map of the Soul: 7” não é particularmente indisciplinado, mas é menos seguro do que “Love Yourself: Tear” (2018).
Composto pelos membros RM, Suga, J-Hope, Jin, Jimin, V e Jungkook, o BTS resolveu abraçar um som mais maduro em seu novo álbum de estúdio, “Map of the Soul: 7”. Dessa vez, o grupo reflete sobre o passado, mas olhando para o futuro com medidas iguais. Não é apenas uma melancolia inevitável, há um senso de finalidade que reflete no atual momento de sua carreira. Inspirado no “Mapa da Alma” do psicólogo Carl Jung – especificamente em sua bolsa de estudos em ciência do desenvolvimento humano -, o álbum encontra sua graça nas sombras. Dinâmico, e determinado a viver de acordo com o seu entusiasmo, “Map of the Soul: 7” contém algumas das melhores harmonias do septeto. Emergindo da indústria do k-pop, o BTS transcendeu o gênero que os originou para se tornar um verdadeiro fenômeno internacional. Eles já venderam milhões de álbuns e possuem uma fã base obsessiva que os ajudou a liderar o ranking Social 50 da Billboard por um recorde de 167 semanas. De fato, o som do BTS se expandiu junto com sua fã base. Mesmo para os padrões de k-pop, “Map of the Soul: 7” cobre uma quantidade impressionante de sons. Aqui, o R&B, hip hop e o EDM, que sempre fizeram parte do seu DNA, permanecem unidos em uma ampla gama de combinações.
A colaboração com a Halsey, “Boy with Luv” – por exemplo -, é um deslize açucarado de nu-disco e funk. Várias faixas do “Map of the Soul: Persona” (2019) ganham vida com suas guitarras e baterias. Qualquer que seja o arco ou narrativa que o álbum possa conter, para ouvintes que não falam coreano, ele será mantido pela linguagem universal da música. E é realmente um empreendimento mundial, com colaboradores de todo o planeta. Ed Sheeran co-escreveu a veloz “Make It Right”, enquanto a sombria “Louder Than Bombs” apresenta letras de Allie X e Troye Sivan. Sia, por sua vez, emprestou sua voz à faixa bônus “ON” – é preciso uma aldeia global para produzir um álbum do BTS. Dentro da tracklist temos ingredientes de um conjunto extremamente elegante e aerodinâmico. Você poderia criar um LP clássico de boyband com os gostos de “Boy with Luv”, “Make It Right”, “Black Swan”, “My Time”, “Louder Than Bombs” e “Inner Child”. Mas, ao contrário de muitos colegas ocidentais, o BTS não está tentando ser uma atualização moderna do ‘N Sync, Backstreet Boys ou One Direction. Eles são um grupo mais ultrajante e ousado. Muitas vezes, as ideias funcionam, como no hip hop de “UGH!” e no pop-rap de “Respect”.
Mas às vezes não, como no desagradável rap-rock de “Dionysus”. Mas o espírito aventureiro faz parte do seu apelo. Para melhor ou pior, não seria um álbum do BTS se não tivesse a energia de todos os lugares. Seu sucesso global é realmente sem precedentes. Enquanto a maioria dos artistas internacionais tentam invadir o mainstream ocidental, o grupo sul-coreano viu o resto do mundo ceder a eles. Desde sua estreia em 2013, os sete membros alcançaram o estrelato imediatamente. E com o lançamento do “Map of the Soul: 7”, eles não mostram sinais de desaceleração. Embora seu sucesso costuma ser creditado às suas performances ao vivo e coreografias incrivelmente bem executadas, o álbum permite que eles demonstrem ainda mais seus talentos. O processo do seu trabalho é muito mais sofisticado do que os críticos desejam dar-lhes crédito. As cinco primeiras faixas antes de “Interlude: Shadow” foram lançadas originalmente no “Map of the Soul: Persona” (2019), mas as quinze restantes são novas para os fãs. Elas abrangem uma variedade de gêneros e influências – do trap e R&B às baladas pop – pelo qual o grupo tornou-se conhecido. As letras continuam sendo um dos pontos mais fortes do seu trabalho.
A variedade de ideias e o amplo escopo de gêneros podem fazer o álbum parecer potencialmente confuso, mas o BTS sempre esteve no seu melhor quando está exibindo diferentes lados de si. Em músicas como “Black Swan”, um destaque óbvio, o grupo questiona o que significa ser um artista. De acordo com um comunicado de imprensa, “Black Swan” foi inspirado na citação de Martha Graham: “Uma dançarina morre duas vezes – uma vez quando ela para de dançar, e essa primeira morte é mais dolorosa”. A ideia de uma primeira morte é diretamente referenciada nas letras, onde o BTS lida com o potencial de que sua paixão pela música possa um dia desaparecer. A canção em si é uma bela mistura de batidas e cordas com uma atmosfera recheada de ansiedade. O medo de perder sua paixão é relacionado a qualquer criativo, mas essa ideia é direcionada às experiências pessoais do BTS em “Interlude: Shadow” – um número solo do rapper Suga. No refrão, ele implora: “Por favor, não me deixe brilhar / Não me decepcione, não me deixe voar”. Não há uma solução satisfatória para seu dilema, mas depois de uma emocionante mudança de ritmo no ato final, ele decide aceitar que sua sombra faz parte dele. Alguns dos melhores momentos líricos vêm de lugares inesperados. “Friends” é um dueto entre Jimin e V sobre sua amizade, que pode derreter até o coração mais gelado.
“Você é minha alma gêmea / Por toda a eternidade, continue ficando aqui / Você é minha alma gêmea / Mais de sete verões e invernos frios / Mais do que inúmeras promessas e memórias”, eles cantam no refrão. Outro destaque inclui a citada “UGH!”, onde RM, Suga e J-Hope direcionam sua raiva para os trolls da Internet: “Este mundo é dominado pela raiva / Parece que ninguém consegue viver sem ela / Eles ficam furiosos, novamente furiosos e furiosos / E assim eles vão enlouquecendo”. Embora o BTS tenha se ramificado musicalmente ao longo dos anos, eles permanecem fiéis a si mesmos – justamente porque “UGH!” é uma reminiscência do seu passado. Ela tem vibrações bastante semelhantes às de faixas como “MIC Drop” e a série “CYPHER”. Sem dúvida, essa música toma o centro do palco, um rap inegavelmente enérgico e feroz. Talvez não seja tão icônico quanto “DDAENG”, mas certamente chega perto de sua intensidade. Cada uma das faixas solo conta uma história sobre cada membro. Em “Intro: Persona”, RM questiona quem ele é; “Interlude: Shadow” mostra o medo do Suga de ser famoso; enquanto Jungkook expressa seus sentimentos sobre crescer aos olhos do público em “My Time”.
Costurada com influências de R&B e batidas de trap, “My Time” é lindamente produzida. Jungkook conversa diretamente com os fãs do BTS, que se autodenominam ARMY, agradecendo por seu apoio nos bons e maus momentos. Juntamente com as harmonias fascinantes, ele não se conteve com a gratidão: “Mesmo que seja o oposto do sol, uma vez no presente, duas vezes no passado / Feliz por nos encontrarmos agora até o fim”. E apesar da melodia otimista, “Outro: Ego” encontra J-Hope refletindo sobre suas lutas desde a estreia do grupo em 2013. Depois de uma breve introdução do RM, ele nos leva por uma extravagância animada. Apoiado por uma instrumentação jazzística, J-Hope relembra de experiências passadas: “São todas as escolhas de destino, então estamos aqui / Olhe para frente, o caminho está brilhando / Continue indo agora”. “Black Swan” incorpora estilos tradicionais do leste asiático em combinação com o pop tradicional, demonstrando como o BTS se recusa a evitar suas raízes culturais. Hipnótica e atada à instrumentação de cordas, é uma peça envolvente contra os vocais fortemente processados. Estabelecendo o tom do “Map of the Soul: 7”, essa música lida com o inevitável fim da capacidade de dançarinos de executar suas coreografias.
Em seguida, Jimin apresenta uma performance vocal verdadeiramente impressionante em “Filter”, mas o acompanhamento, escrito pelo produtor Tom Wiklund, possui uma guitarra latina meio genérica. Por outro lado, “Louder Than Bombs” é um exemplo de como uma boa colaboração pode ser empolgante. O BTS prova que pode lidar com qualquer gênero com sucesso, mesmo que seja melhor servido de outras formas. Liricamente, essa música discute tanto a dor quanto o sucesso do grupo. As letras contam a história de como o BTS desenvolveu sua confiança, passando a aceitar seus medos como parte do processo. Pessoalmente, é uma das canções mais fortes do álbum. O single principal, “ON”, tem duas versões no álbum, uma solo e outra com participação da Sia. Ele destaca os altos e baixos nos últimos sete anos, enquanto é acompanhado por instrumentos de sopro e percussão, não muito diferentes de uma banda marcial. O grupo também é conhecido por seus comentários sociais, evidente em “00:00 (Zero O’Clock)”, onde tudo é redefinido à zero horas. É provavelmente a faixa mais identificável e vulnerável do álbum, todo o grupo dedica um tempo para revelar que, mesmo sendo as maiores estrelas do mundo, também possuem dias ruins.
No primeiro verso, Jungkook manifesta seus pensamentos mais melancólicos: “Sabe aqueles dias em que você está triste sem motivo / Aqueles dias em que seu corpo está pesado e parece que todos, exceto você / Estão muito ocupados e empenhados, meus pés não se movem / Embora eu pareça estar muito atrasado, eu sinto ódio do mundo inteiro”. O ponto zero simboliza o início de cada novo dia, e eles estão nos lembrando que o amanhã será melhor, então canalize a dor em motivação para continuar. Por fim, o registro inclui faixas mais lentas, notadamente “We Are Bulletproof: The Eternal”, onde o septeto relembra seus anos juntos. “Map of the Soul: 7” reúne sete anos do BTS em um único álbum. Embora os fãs precisaram esperar quase um ano, certamente valeu a pena. Uma coleção emocionalmente carregada para os fãs entenderem a jornada que o BTS tomou como artista. Mesmo depois de tanto tempo, o grupo ainda não parou de crescer. Em vez de se fragmentar, eles parecem mais fortes do que nunca. Dado o desenrolar que eventualmente aconteceu com o One Direction, será notável se eles conseguirem manter o BTS por muito tempo. Se, de alguma forma, eles perseveram em uma década inteira de estrelato, quem sabe o quão difundidos eles poderiam se tornar? Afinal, seu impacto cultural é inegável.