Em sintonia com o título, o novo álbum do Cícero, “Cosmo”, versa sobre tempo e espaço, sob uma perspectiva individual. Os efeitos da gravidade são perceptíveis em faixas como “Some Lazy Days”. A escuridão do Universo emoldurada na capa funciona como um claro indicativo do conteúdo do disco. Dito isto, há canções que enaltecem a alegria da vida, o pavor da solidão e a irremissível passagem do tempo. Como segunda faixa do álbum, “Some Lazy Days” se destaca rapidamente pela ótima produção. “Mulher, eu vou fazer um filme / Vai se chamar ‘Some Lazy Days’ / Nele não vai ter enchente / A gente vai ficar de vez”, ele canta sobre guitarras aprazíveis.
A canção passeia por momentos de introspecção e extrospecção, peso e leveza. Ele aborda o existencialismo e a busca pelo autoconhecimento com o objetivo de se transformar, como o próprio título do projeto sugere. Mesmo com o seu desenrolar mais urgente, “Some Lazy Days” resgata a sonoridade de álbuns anteriores. Em meio a melodias mais agitadas, Cícero evoca um romantismo e um vazio encantadores. A força da guitarra, do baixo e da bateria é surpreendente. Embora o álbum seja quase inteiramente introspectivo, Cícero ainda consegue fornecer interferências climáticas aqui. Sua vibe ensolarada é um destaque a parte. Com uma produção sustentada pelo forte instrumental, “Some Lazy Days” possui uma sonoridade descontraída com uma sutil harmonização entre o sintético e o orgânico. Com “Cosmo”, Cícero parece definitivamente ter se firmado como um dos músicos mais relevantes da música independente.