Beatriz Ferreyra é uma compositora argentina – ela nasceu em Córdoba e estudou piano com Celia Bronstein em Buenos Aires. Ela continuou seus estudos musicais com Nadia Boulanger em Paris, e Edgardo Canton, Earle Brown e György Ligeti na Alemanha. Em 1963 assumiu um cargo no departamento de pesquisa do Office de Radiodiffusion Television Française (ORTF), trabalhando com o Groupe de Recherches Musicales (GRM) dirigido por Pierre Schaeffer. Durante esse tempo, ela também lecionou no Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris. Ela trabalhou com Bernard Baschet e seus Structures Sonores em 1970, e fez residências em música eletrônica no Dartmouth College em 1976 e em 1998.
“Echos+”, uma nova antologia do selo Room40, reúne composições novas e antigas de Beatriz Ferreyra. “Echos”, uma peça de 1978, parece uma vingança repleta de obsessões paranormais: em suas frequências assombrosas, vislumbramos o contorno de outro mundo. Ferreyra compôs “Echos” inteiramente em fita magnética, trabalhando com gravações de sua sobrinha Mercedes Cornu cantando quatro canções folk latino-americanas. Poucos vestígios do material original são deixados; Ferreyra cortou e fatiou as gravações em fitas, dobrando e entrelaçando a voz trêmula de Mercedes Cornu para criar um leito suave, e traçando seu tom adorável e expressivo em uma série de arabescos cansados. Na metade, a peça se quebra em uma expansão silenciosa marcada por respirações e tosses; quando o canto de Cornu retorna, ele é repetido e transformado em murmúrios fantasmagóricos.
No final, Cornu interrompe a música e não fica claro se ela está rindo ou chorando. O efeito dessa música sobrenatural seria poderoso em quaisquer circunstâncias; saber que Cornu morreu em um acidente de carro só torna “Echos” muito mais comovente. Sua voz parece ser transmitida de uma grande distância – não apenas através dos anos, mas também de dimensões. É como se Beatriz Ferreyra tivesse buscando algo sobrenatural, usando o poder oculto da fita magnética para trazer de volta a voz de sua sobrinha do além.