O novo álbum do The Weeknd é representado por temas como sexo, drogas e romance; e encharcado por um ambiente vazio, melancólico e devastador.
O quarto álbum do The Weeknd, “After Hours”, é o culminar de uma década de carreira. Abel Tesfaye foi abalado pelo desgosto de uma separação e não tem certeza de como processá-lo. Encontramos um cara rico e triste queixando-se de que uma garota não o ama mais, prometendo que continuará transando com qualquer pessoa e usando drogas até que não se sinta tão mal. Ainda assim, o humor do álbum – formado por ansiedade, anedonia e depressão – é perfeitamente adequado para o momento, se você puder ir além das situações que ele descreve. Musicalmente, “After Hours” está dentro do mesmo território sombrio e sintético que sempre foi o lar do The Weeknd. Mas ele e seus colaboradores continuam encontrando novos espaços para explorar sua musicalidade. Dito isto, ele também mergulha no nervosismo polido no início dos anos 2000 e na prestigiada década de 80. O elenco de apoio está cheio de antigos colaboradores, como Illangelo e Max Martin, além de Metro Boomin e Kevin Parker, do Tame Impala. Weeknd também continua sendo um compositor infernal. Existem letras para todas as horas do dia, além de muitas frases de efeito. Sua voz está magnífica; ele está tendo cada vez mais controle do seu instrumento. Ademais, também flutua levemente sobre paisagens incrivelmente ricas e exuberantes.
Desde que surgiu na indústria, Weeknd transmite um senso de vulnerabilidade que nos permite entender a angústia e a dor que ele está sentindo. O caminho para sua nova descoberta está sendo empolgante. Os videoclipes de “Heartless” e “Blinding Lights” focaram nos altos dos seus vícios. Ainda assim, a natureza instável do seu relacionamento era aparente demais. Agora, o tão esperado álbum o encontra à beira de um colapso e, como ele lamenta seu estado de espírito por quase 1 hora, é difícil culpá-lo por buscar mudanças. De fato, “After Hours” reúne todos os elementos que o transformaram em um nome familiar. Há sons melancólicos causados por relacionamentos disfuncionais e progressões cinematográficas que fluem paralelamente com seu precário estado mental. Mas também têm atmosferas cheias de vida, alimentados por sintetizadores que brilham mais do que Las Vegas às 3 da manhã. Após o EP “My Dear Melancholy,” (2018), “After Hours” continua mostrando sua descida de volta ao abismo. Ainda assim, ele mostra mais iniciativa aqui do que no álbum anterior. Onde ele se contentou em se afundar na escuridão, agora está correndo de um lado para o outro tentando redescobrir a luz.
Acima de tudo, porém, “After Hours” nos leva de volta ao seu mundo indulgente de sexo e drogas. O mais notável é a sua estética: ele compartilha o mesmo título de um filme do cineasta Martin Scorsese, enquanto os vídeos possuem elementos de clássicos como “Casino” (1995) e “Medo e Delírio” (1998). As performances de “Blinding Lights” e “Heartless” estão mantendo sua imagem intoxicada, em um terno vermelho e óculos protegendo seus olhos das luzes. Sabemos que The Weeknd passou a última década criando meticulosamente uma persona indescritível – embora sedutora. Com tantas músicas variadas, ecléticas e incalculáveis, o LP se aninha em seu catálogo ameaçador. Ele já havia experimentado paisagens eletrônicas e sintetizadores antes, mas esse álbum parece um território desconhecido. Sabemos que ele sempre focou em três temas principais: fazer sexo, usar drogas e fazer sexo usando drogas. Ele escreve sobre perseguir o prazer não pela emoção, mas por hábito. Com isso em mente, “After Hours” é supostamente uma crônica do relacionamento entre ele e a modelo Bella Hadid. No primeiro single, “Heartless”, ele aparece no seu pior cenário com drogas: uma fantasia sombria sobre se envolver no sexo sem alegria enquanto experimenta a náusea causada por anfetaminas.
Da mesma forma, a arrepiante “Faith” narra um relacionamento co-dependente que leva a um colapso emocional alimentado pelas drogas. A peça central é um devaneio macabro de duas pessoas que possibilitam seus piores impulsos. Tesfaye canta em um tom que pode ser melhor descrito como desastrosamente triunfante. Desde as primeiras palavras de “Alone Again”, ele está procurando respostas e tentando redescobrir as coisas que o tornam completo. Ele une suas palavras ansiosas com sintetizadores nervosos, antes que a acumulação prolongada dê lugar ao seu medo de ficar sozinho. Apesar do nevoeiro, porém, ele é esperto o suficiente para ver como causou sua própria queda. Após esse momento de clareza, no entanto, a produção downtempo começa a se arrastar. “Too Late” continua se agarrando a um som eletrônico conforme ele se vê no fim de um relacionamento. Isso o leva a culpar a si mesmo e se colocar em um estado interminável de necessidade. Embora tenha letras mais tristes, possui um ritmo envolvente e deixa você animado para o que vem a seguir. No destaque “Hardest to Love”, ele apresenta uma de suas performances vocais mais afetantes.
Sua atratividade esconde uma grande dose de melancolia – uma combinação sofisticada que resulta em um emaranhado confuso de emoções que raramente processamos de maneira linear. A melodia mais lenta é acompanhada por um loop de percussão em segundo plano, que se liga diretamente às influências dos anos 80 dos dois primeiros singles. Na mesma veia oitentista, “Scared to Live” é uma grandiosa balada de R&B alternativo que interpola “Your Song”, do Elton John. Abel está em um estado de espírito reflexivo e preocupado se vai ficar sem alguém para mantê-lo no chão. “Snowchild” é um livro de memórias, onde ele aborda seu passado e passa por tentações com narcóticos e mulheres. Uma anedota autobiográfica de quão longe ele chegou que traz de volta a atmosfera sinistra do “Trilogy” (2012). Liricamente, é um ponto de virada crítico no desenvolvimento do seu personagem. Em “Escape from LA”, ele ainda continua reflexivo – é inquestionavelmente a declaração mais fria do álbum -, mas os 4 minutos são difíceis de suportar. É uma tentativa de desmascarar a natureza artificial de sua cidade. No entanto, ele ainda permite que a mediocridade sirva seu apetite sexual. Como esperado, ele fala sobre a toxicidade de Los Angeles e como isso pode transformar você na pior versão de si mesmo.
A melhor música do álbum, no entanto, é “Blinding Lights” – o electropop com grandes sintetizadores inspirados nos anos 80 e uma potente bateria eletrônica. É uma maravilhosa odisseia e aventura quimérica que combina perfeitamente com o novo visual do The Weeknd. Seu sucesso foi uma reviravolta completa; ademais, possui grandes semelhanças com a direção sonora do “Starboy” (2015). A perfeita discoteca de “In Your Eyes” é pura euforia sonora; Abel tenta reconquistar seu interesse amoroso, e mesmo que as letras sejam perturbadoras, é facilmente os 4 minutos mais felizes do álbum. É outra faixa inspirada fortemente no synth-pop dos anos 80; destaque para o maravilhoso solo de saxofone que aparece no final da música e contribui para a bela experiência cinematográfica. Embora o electropop da nostálgica “Save Your Tears” comece a parecer repetitivo, é outra canção excepcional. É emocionante vê-lo abraçando um synth-rock tão emocionante e agradável como este. Mesmo que o álbum lide com um relacionamento conturbado, nem toda música precisa ser um devaneio magnânimo. “Save Your Tears” revela que apesar de tudo, existe a possibilidade de uma reconciliação.
O álbum encerra com “Until I Bleed Out” – canção que resume todos os temas explorados. The Weeknd está de volta ao início do álbum, sozinho novamente. Embora mostre que pode devorar completamente o synth-pop, “After Hours” termina de forma arrepiante. As imagens que alimentam essa música são de violência; sua dizimação está nas mãos de uma namorada que ele ainda não largou. O niilismo parece um pouco pesado, mesmo para os padrões do The Weeknd. Ele certamente canalizou sua identidade como artista durante a produção do álbum. “After Hours” prova que o seu talento reside principalmente em sua voz sedutora e capacidade de contar histórias. Eu sinto que este é o melhor corpo de trabalho de sua carreira. A experiência, a distribuição e o som são fenomenais. Não é um álbum perfeito porque tem alguns momentos esquecíveis e letras criminalmente ruins, mas sua voz está melhor do que nunca. É o seu projeto mais completo desde o “Kiss Land” (2013) – uma tentativa de combinar vulnerabilidade com apelo comercial. Embora não seja tão polido quanto o “Starboy” (2015), nem tão atraente e singular quanto o “House of Balloons” (2011), sua sonoridade é excelente. Aparentemente, “After Hours” é o fim de uma jornada que ele iniciou há uma década.