Em seu sexto álbum, Vanessa Carlton recebeu ajuda de Dave Fridmann para produzir e escrever com mais sabedoria.
Houve um momento – quando o final dos anos 90 deu lugar ao início dos anos 2000 – que o modelo de cantora, refeito por Tori Amos e Fiona Apple, estava aparentemente fadado ao retrocesso. Mas, assim como as mulheres que surgiram na década de 90 transformaram a tradição do pop lírico que as precedeu, uma nova safra de talentos entrou no suposto vazio do século XXI – Vanessa Carlton era uma delas. Estreando na A&M Records com “Be Not Nobody” (2002), ela era uma mistura afável de voz e piano. O LP recebeu aplausos e foi impulsionado pelo conhecido single “A Thousand Miles”. Quase da noite para o dia, ela ficou enjaulada pelo triunfo do álbum e do single. Com o sucesso, veio a pressão da gravadora para repetir um desempenho parecido com o disco seguinte. Mas em vez disso, Carlton tentou estabelecer um compromisso entre as expectativas comerciais da A&M com seus próprios planos artísticos. Alfabetizado e emotivo, “Harmonium” (2004) foi um grande passo à frente. No entanto, a gravadora não colocou nenhum investimento por trás do álbum; suas vendas mornas precederam a inevitável rescisão contratual entre eles. Para alguns, a história dela pode ter terminado aí – mas a verdade é bem diferente. Ano depois, ela continuou trabalhando com suas vibrações esotéricas no “Heroes & Thieves” (2007) e “Rabbits on the Run” (2011).
Sua transição de uma grande gravadora para um selo independente deu-se em conjunto com esses lançamentos. Quando ela lançou o seu quinto álbum, “Liberman” (2015), uma rica e nebulosa assembleia pop, apresentada em estilo sirênico, recebeu inesperados elogios dos críticos. “Love Is an Art” reconstrói a excelência sonora do “Liberman” (2015) ao lado do produtor Dave Fridmann. Ele conseguiu ser notável sem precisar eliminar as texturas luxuriantes e orquestrais do “Liberman” (2015). Em vez disso, fundiu tais elementos com fortes baterias, detalhados sintetizadores e arranjos pronunciados pelo baixo e pela guitarra. “Love Is an Art” é um mergulho profundo nas diferentes maneiras pelas quais as relações amorosas se manifestam. Carlton escreveu sobre suas próprias experiências inspirada no livro de 1956 “The Art of Loving”, do filósofo Erich Fromm. O álbum tem uma complexidade sombria que se estende desde a balada mais calma até o ritmo mais exuberante. Se, por algum motivo, você não se interessou pela Vanessa Carlton desde “A Thousand Miles”, há muito o que apreciar no “Love Is an Art” – ela realmente amadureceu como artista. De fato, é o culminar de anos de trabalho duro; um álbum vivido, confiante e com os pés no chão. No “Rabbits on the Run” (2011) e “Liberman” (2015), ela se aprofundou em seus sonhos e optou por uma produção mais minimalista.
Sua música se voltou para dentro e teve mais inspiração das décadas passadas. Mas “Love Is an Art” parece ter entrado em uma nova fase. As músicas são serenas e mais sábias do que nunca. Elas são preenchidos com uma instrumentação orgânica texturizada, além do seu conhecido piano giratório. Em alguns lugares, oferece um clímax maior e uma produção mais rica. Às vezes, isso pode parecer maravilhosamente nostálgico, mas também podemos notar o desenvolvimento de suas letras. “Love Is an Art” aborda as diferentes formas do amor e a realidade dos relacionamentos e, embora seja pessoal, é extremamente relacionável. Onze faixas constituem o repertório e todas se juntam em um belo todo; ao mesmo tempo, cada seleção é única e capaz de se sustentar por si mesma. Isso é devido principalmente ao seu talento, que ancora as composições como letrista e pianista. Quanto ao aspecto anterior, Carlton visita temas que nunca estão fora de moda; e Dave Fridmann garante que ela permaneça no centro de tudo, nenhuma das complexidades de sua técnica se perde na sinfonia agitada do álbum. O ritmo percussivo de “I Can’t Stay the Same” carrega grande parte do ritmo, até se abrir para um som sintético no refrão final, enquanto “Companion Star” tem um tato oposto, abandonando quase toda a percussão com apenas um sintetizador esparso dirigindo as letras.
“I Know You Don’t Mean It” mostra suas experiências com músicas mais tradicionais no piano. As partituras brilham quando ela se abre de forma exuberante e apresenta um refrão final carregado de cordas orquestrais. Mesmo que Vanessa Carlton não se atenha a um som específico, as canções fluem de maneira natural. Mais tarde, ela dá uma guinada política em “Die, Dinosaur”, escrita em resposta às consequências do tiroteio de Parkland, na Flórida. O piano é mais uma vez o responsável pela transmissão das emoções, que consiste principalmente em apenas ela e seu instrumento, com alguns ligeiros sintetizadores por trás. “Future Pain” se abre como uma balada midtempo, mas posteriormente se expande para o rock. Carlton vive em Nashville agora, e algumas das influências da cidade se infiltram. A obscura “Back to Life” assume um estilo vocal mais experimental. Embora tenha um escopo simplista, ainda tem uma certa complexidade em seu arranjo. “Patience” serve mais como um interlúdio espacial que nos leva para “The Only Way to Love”, um dos momentos mais influenciados pelo rock – há batidas pulsantes e guitarras difusas. O amor não correspondido, por fim, é representado na forma de “Salesman”, uma canção emocionalmente difícil sobre um namorado infiel. “Love Is an Art” é um álbum que, acima de tudo, parece esperançoso. Ele é perfeito para quem procura uma lista de reprodução realista sobre o amor e suas consequências.