Esse álbum foi criado para retratar um artista radicalmente diferente. Mas G-Eazy apenas encontrou novas maneiras de abordar as mesmas histórias de sempre.
Essa tendência de rappers voltando-se para um som alternativo como meio de experimentar e se aventurar longe de sua arte usual parece ser a nova estética do mainstream. “Speedin’ Bullet 2 Heaven” (2016) do Kid Cudi e o cômico “Supermarket” (2019) do Logic, por exemplo, são invocadas com horror. Até Machine Gun Kelly seguiu por um caminho diferente, mas foi o único a navegar com sucesso com o “Hotel Diablo” (2019). A verdade é que o caminho percorrido por esses rappers bem cimentados para uma “fase experimental” acabou apenas em risos e pura perplexidade. Simplesmente porque não se encaixa em nada à sua identidade. É essencialmente a opção fácil para os artistas de hip hop pularem do rap e tentarem uma espécie de versatilidade. Infelizmente para o próprio G-Eazy, a perplexidade continua em sua forma cômica com o seu novo álbum de estúdio, “Everything’s Strange Here”. O jogo de palavras inteligente e as batidas da Costa Oeste que prestaram os devidos serviços a ele na última década, não estão em lugar algum.
Em vez disso, foram violentamente substituídos por um som acústico genérico e sem emoção, junto com os piores vocais de qualquer rapper da memória recente. O mais perto que chegamos de uma faixa típica do G-Eazy é na radiante “Nostalgia Cycle”, que parece mais uma b-side do “The Beautiful & Damned” (2017), em vez de realmente se encaixar neste experimento. Toda a tracklist cheira ao “Supermarket” (2019) do Logic, com semelhanças entre os dois reverenciadas constantemente durante o processo. A pesada “Free Porn Cheap Drugs” possui uma abordagem entediante da necessidade de se libertar do estilo de vida agitado de um rapper, e ser assustadoramente semelhante, senão idêntico, a “Vacation from Myself” produzida por Mac DeMarco – tanto em sua premissa quanto em sua produção estonteante. Para ser bem direto, é como se G-Eazy plagiasse os fundamentos desse projeto com o qual ele mais se associou e tentasse torná-lo seu. Nada sobre “Everything’s Strange Here” carrega qualquer coerência para você continuar ouvindo.
A monstruosidade definitiva que aparece aqui é a insuportável “Stan by Me”, um número terrível que tenta contrastar o amor com tendências obsessivas. As linhas – “Mas você tem muito à venda, você tem onlyfans, enviou três DMS quando encontrei sua avó”, é a prova do quão ruim ele pode ser. Essas duas linhas sozinhas devem ser ensacadas e retiradas de qualquer música. O epítome condenatório da visão do G-Eazy é mais do que suficiente definido por essas duas linhas horríveis. É a compilação definitiva de como separar um gênero inteiro e transformá-lo em algo completamente vazio. Ele já foi conhecido por seu som etéreo que atrai ouvintes nos primeiros segundos de uma música. Seus singles variam entre o hip hop mais lento – como “Marilyn”, “Tumblr Girls” e “Let’s Get Lost” – a canções de ritmo mais rápido onde sua petulância e seu estilo de vida se sobressaem através das letras. “Random”, “No Limit”, “West Coast” e “Bang” são apenas alguns exemplos. Mas aqui, não há qualquer batida elevando sua voz como rapper. Em vez disso, há pianos e guitarras acompanhando um ritmo boring enquanto ele canta sua versão cover de “Everybody’s Gotta Learn Sometime”, que foi originalmente escrita e tocada por The Korgis.
Embora seja um pouco estranho começar um álbum com um cover, eu gostei da guitarra da quarta faixa, “All the Things You’re Searching For”. A música me lembrou de bandas incrivelmente populares nos anos 90 e 2000, como o Weezer. As letras são semi-deprimentes, mas tocam em um tema universal. Mas além dessa canção, o resto do álbum se apresenta de forma medíocre e certamente não possui mais nada de cativante. “Back to What You Know” e “Every Night of the Year”por exemplo, são completamente desinteressantes tanto liricamente quanto musicalmente. Infelizmente, talvez inevitavelmente, o álbum volta à uma mesquinhez nos momentos finais. Depois de nove faixas sem nenhum rap, “Had Enough” começa com um grunhido clássico, seguido pela frase: “Falando sobre minhas ex loucas”. Isso se transforma em um discurso amargo sobre uma ex-namorada “egoísta”, mas o personagem é tão comum que os detalhes são quase irrelevantes. Mesmo nessa nova paisagem sonora, G-Eazy pinta as mulheres como rancorosas e coniventes. “Você me transformou em um monstro”, ele geme na citada “Back to What You Know”. “Você continua agindo como se fosse perfeita, mas o sorriso que você usa é muito falso”, ele reclama em “In the Middle”.
Palavras como essas perfuram o pouco brilho do álbum, quebrando a ilusão de que, aos 31 anos, G-Eazy mudou e cresceu. Tudo é estranho aqui e acaba soando como outra caricatura das mulheres que ele não consegue parar de condenar. Todo o álbum possui uma sensação de saudade e tristeza, e eu me pergunto se G-Eazy está realmente passando por isso. Espero que sua música futura reflita seu trabalho do passado, porque a evolução não é linear e não significa que o progresso está sendo feito. Resumindo, o álbum experimental do G-Eazy não é pior do que a maioria dos artistas que mergulharam em outros gêneros. Alguns até diriam que preferem o lado menos misógino e mais profundo dele. O fato de ter feito covers e utilizado samples de artistas e bandas icônicas como David Bowie, The Pixies e The Korgis mostra que seu gosto musical é refinado. Ele apenas precisa melhorar e desenvolver seu canto enquanto continua com tais empreendimentos musicais. Em suma, “Everything’s Strange Here” simplesmente não possui energia ou poder suficiente para despertar sua atenção.