Nos últimos dois anos, a carreira do Kanye West consistiu em manchetes controversas e músicas de qualidade questionável. Seu novo single, “Wash Us in the Blood”, fará parte do seu décimo álbum de estúdio, intitulado “God’s Country”. Ele foi lançado simultaneamente com o videoclipe, dirigido por Arthur Jafa, e conta com a participação de Travis Scott. O vídeo usa apresentações em tela dividida e contém cenas de brutalidade policial, protestos e cultos religiosos, antes de terminar com sua filha em um ensaio. “Wash Us in the Blood” o encontra pedindo chuvas de sangue para libertar os Estados Unidos do mal. Essa sensação angustiante é ampliada por duas notas de sirene e uma versão achatada do feedback utilizado nos álbuns “Yeezus” (2013) e “The Life of Pablo” (2016). “Wash Us in the Blood”, é claro, pulsa através de outra música do rapper, “Blood on the Leaves”, que continua sendo um dos momentos mais controversos e audaciosos do seu catálogo. Sua pulsante e ofegante atmosfera prova que o Kanye West de 2020 não vai parar de nos provocar. Ele, que explorou seu despertar religioso em um par de álbuns no ano passado, continua direcionando seus pensamentos para Deus.
“Nos regue”, ele implora, “Nos lave em sangue”. Mas Kanye West também está pensando em questões mais terrenas: “A vida inteira sendo bandidos / Sem escolha, vendendo drogas”, ele diz, “Genocídio é o que acontece / Escravidão é o que acontece”. O encarceramento desproporcional de negros também é mencionado, ao passo que Travis Scott critica a pena de morte: “Trinta estados ainda executam, não matarás”. “Lá do sul, deixe bater”, Kanye diz no início, presumivelmente se referindo a comunidade negra de sua cidade natal. Há uma programação de bateria magistral, enquanto os tons mais graves bombeiam sua mente. “Eles não querem que o Kanye seja o Kanye”, ele diz em outro momento – um uso autorreferente da terceira pessoa. Ninguém quer que ele sofra outro episódio debilitante de saúde mental, e sua incapacidade de articular seus sentimentos o levou a exageros nos últimos anos – como dizer que a escravidão era uma escolha.
“Wash Us in the Blood”, no entanto, o encontra canalizando sua mente para um ponto mais nítido. Ele é mais forte quando não tenta se acalmar e aumenta sua raiva. Desde a produção e a entrega vocal, está claro que ele está vindo com uma energia diferente de “Jesus Is King” (2019). A interseção entre a fé religiosa e o sofrimento dos negros nos Estados Unidos é o que impulsiona “Wash Us in the Blood”. As pontes consistem principalmente de apelos a um poder superior. Linhas descrevendo a situação dos negros norte-americanos, juntamente com alusões à escravidão, são lançadas de maneira agressiva. A presença do Travis Scott adiciona uma camada extra de atitude e caráter. Mas embora não exista nada de inerentemente errado com suas falas, sua aparência é incrivelmente breve. “Wash Us in the Blood” é um single sólido e um sinal de esperança para a direção que ele está seguindo. Se a música “não-secular” é o que ele pretende fazer pelo resto de sua carreira, poderá se tornar um lembrete importante de que os negros estão sofrendo ativamente nas mãos da opressão.