Os convidados moldam as versões originais e as transformam em suas próprias criações, enquanto preservam algumas ideias iniciais.
Laura Les e Dylan Brady têm causado tumulto no underground desde que lançaram seu aclamado álbum de estreia, “1000 gecs” (2019). Nesse álbum, eles exibiram um som incrivelmente contagiante proveniente de uma miríade de gêneros, incluindo a música eletrônica, o hip hop, o rock e o pop experimental. O disco não ficou perfeito, mas seus destaques eram divertidos e mostraram sua criatividade. A dupla então anunciou que lançaria um álbum de remixes, e os singles a encontrou colaborando com vários artistas diferentes. Essas faixas reinventaram ou adicionaram uma nova dimensão às músicas do disco original. Agora que temos o produto final, está claro que Laura e Dylan acertaram novamente. “1000 gecs and The Tree of Clues” está repleto de artistas underground e mainstream; Charli XCX, Fall Out Boy, Injury Reserve e Hannah Diamond são apenas alguns dos nomes que contribuíram para este projeto. Falando nisso, Charli XCX, Rico Nasty e Kero Kero Bonito adicionam personalidade e caráter a doce “ringtone” – o remix ficou muito mais desenvolvido que a versão original. O refrão interpretado pela Charli é meloso e cativante, ao passo que a voz suave de Sarah Bonito contrasta adequadamente com a batida vigorosa. O remix de Umru da mesma música é muito mais alto e ousado, particularmente por causa da batida esporádica, das cordas e vibrações de telefone.
Sua capacidade de contextualizar e dar um sentimento diferente a essas músicas é impressionante. As adições de GFOTY e Conde Baldor em “stupid horse” também são doces – a já contagiante canção recebeu um toque lírico e um instrumental mais colorido. O remix de “money machine”, de A. G. Cook, demorou um pouco para crescer em mim, mas eu aprendi a amar como a produção é simultaneamente sonhadora e agressiva. A distorção na mixagem é super pesada, mas as melodias e a atmosfera servem como um contraste natural. A música faz tudo isso enquanto mantém a vibe da faixa original, especialmente quando termina com um som incrivelmente barulhento. O remix de Injury Reserve para “745 sticky” tem uma percussão dissonante e amostras fora do esperado – a contribuição errônea de Ritchie With a T é confusa, mas acaba sendo uma boa jogada. A música então passa por uma transição estranhamente suave no final, complementada por um baixo vibrante e vocais auto ajustados. Eu já havia amado as contribuições vocais de Dorian Electra em “gec 2 ü”, e esse ainda é o caso, já que o remix é tão contagiante quanto a versão original, exceto que a produção é um pouco mais brilhante agora. O remix de Danny L Harle da mesma música não é tão gratificante. Tem algumas fases de sintetizador e uma produção extática, mas a música termina de forma insatisfatória.
O mesmo pode ser dito sobre o remix de Lil West e Tony Velor para “gecgecgec”, que é o momento mais morno do álbum. Embora os versos dos rappers não sejam ruins, eles não compartilham a mesma emoção dos outros convidados. Sem dúvida, as melhores músicas são aquelas absolutamente maníacas, barulhentas e coloridas. Uma das faixas que se inclina um pouco para o lado barulhento e maníaco é o remix de Black Dresses para “745 sticky”. Ada Rook e Devi Mccallion fornecem vocais extremamente crus, e a produção está muito mais abrasiva agora. Os dois remixes de “hand crushed by a mallet” são geniais. Isso me deixa feliz, pois sempre achei que a música original precisava de um pouco mais de força. A primeiro apresenta Fall Out Boy, Craig Owens e Nicole Dollanganger; Patrick Stump ficou encarregado da introdução, enquanto Dollanganger fornece uma ponte para o segundo verso. Mas a cereja do bolo é como a música termina. As guitarras e a bateria se tornam uma repetição barulhenta e incrivelmente abrasiva. O segundo remix para essa faixa, auxiliado pela banda No Thank You, é muito mais direto, embora seja igualmente gratificante. É difícil descrever o quão alta e ridiculamente viciante essa música é. A distorção é tão densa que mal se consegue distinguir a letra, mas a melodia ainda é extremamente tangível.
Ambos os remixes de “xXXi_wud_nvrstøp_ÜXXx” também são excelentes. O primeiro apresenta Tommy Cash e Hannah Diamond – a música é tão doce quanto a original, mas muito menos sombria devido aos vocais da Hannah e dos sintetizadores brilhantes. Fechando o álbum, temos algumas músicas novas e algumas peças ao vivo. “Came to My Show” encontra a dupla cantando sobre alguém cuja presença em seus shows é inconsistente. Embora as letras não sejam muito fortes, os sentimentos são adoráveis e os versos sólidos. Por outro lado, os vocais de Dylan na faixa seguinte, “Toothless”, são um pouco irritantes – felizmente, o verso da Laura é incrivelmente comovente. Eu também adoro o instrumental electropop colorido e mais tradicional, bom o suficiente para realmente se destacar. O álbum termina com uma versão ao vivo de “800db cloud”, que na verdade é melhor do que a versão de estúdio, e “small pipe”, um novo número instrumental. Apesar de sua simplicidade e brevidade, o ritmo constante da guitarra e a melodia fazem com que tudo pareça sereno. No geral, “1000 gecs and The Tree of Clues” é uma excelente exibição da dupla experimental de Missouri. Não é o melhor conjunto que o 100 gecs lançou até agora, mas mostra um pouco mais de sua incrível criatividade e engenhosidade radical.
Sua capacidade de misturar experimentalmente a música eletrônica, o industrial, o noise rock e até mesmo o hip hop é impressionante, refrescante e o verdadeiro ponto de venda de todo o projeto. A produção esporádica, texturizada e totalmente alucinante é algo que você precisa conferir. A maioria dos convidados está bem posicionada e acrescenta muito às suas respectivas participações. Depois de meses perseguindo, ouvindo anúncios no SoundCloud e no YouTube apenas para acessá-lo, os fãs podem finalmente ouvir o álbum completo. O experimentalismo vicioso deveria ser prejudicial ao registro, mas de alguma forma ajuda a amarrar tudo. Essa experimentação parece adequada para uma banda que existia na Internet, e só no ano passado, fez alguns shows virtuais no Minecraft. Mas para ser honesto, quando algo parece tão bom, mais nada importa. Há muito para desempacotar neste álbum e a densidade disso é talvez uma das melhores partes dele. “1000 gecs and The Tree of Clues” não apenas expande o som idiossincrático do álbum original, mas o transforma em uma experiência totalmente nova. Ademais, traz lembretes do por que as pessoas se apaixonaram pelo mundo estranho da dupla 100 gecs. Mesmo com seus erros ocasionais e inconsistências, cada faixa chega ao público com uma abordagem implacável, fazendo o possível para homenagear sua fonte.