Abebe Bikila Costa Santos, ou simplesmente BK, é um dos rappers mais influentes do hip hop nacional. Os álbuns “Castelos & Ruínas” (2016) e “Gigantes” (2018) definitivamente ajudaram a colocá-lo em um novo patamar. Desde então, o rapper da Lapa, zona central do Rio, tornou-se referência para os novos artistas. Lançado na terça-feira (08), “O Líder em Movimento” apresenta lutas contra o racismo e reafirma o poder da comunidade negra. É um álbum que expõe o mundo branco opressor sob a ótica do homem preto. “Eles temem quando preto pensa”, BK diz na faixa de abertura. Esse é o primeiro álbum que ele assina com o nome de batismo, em tributo ao homônimo atleta que se tornou o primeiro negro africano a ganhar medalha de ouro em Olimpíada. Dito isto, “O Líder em Movimento” alia o poder do discurso do rapper à força das batidas do seu frequente colaborador JXNV$, nome artístico do DJ e produtor Jonas Profeta. Com esse novo lançamento, BK traz à tona o ambiente lúgubre de “Castelos & Ruínas” (2016). Aqui, ele mergulha em medos e conflitos que apontam para diferentes aspectos da sociedade.
Há versos que falam sobre Malcolm X, Martin Luther King, Burkina Faso, Thomas Sankara, Abdias Nascimento e 2Pac, mas sempre ligados a temas como racismo e violência policial, como podemos notar na quarta faixa, intitulada “Visão”. O instrumental vai do hip hop ao jazz e soul, com apoio de JXNV$ & DJ Erick Jay. “Visão” é um número de rap com rimas mais diretas e secas, sob uma produção contemporânea, mas que também remete aos anos 90. A batida potencializa a ideologia de BK, alinhada com o crescente movimento “Black Lives Matter”. Originalmente um MC de funk que foi convertido ao rap, ele discursa com propriedade a fim de nos conscientizar. “Sei que falar sobre a violência nos consome / Mas nascemos com alvos no sobrenome”, BK rima em “Visão”, com discurso reforçado por notícias cotidianas de negros presos injustamente por crimes que nunca cometeram. Inicialmente introduzida pelo piano, a música ganha força com a percussão ressecada e apresenta no final um discurso sampleado: “Nós estamos numa guerra. Uma guerra que não fomos nós quem a deflagrou. Uma guerra que não foi declarada por nós, mas pela classe dirigente desse país. Pelas elites brancas que têm espoliado, não somente os descendentes africanos, mas todo este povo brasileiro”. É certamente uma das melhores faixas do novo álbum.